“Não podemos perder o DNA de inovação”, diz prefeito Antídio Lunelli

Por: OCP News Jaraguá do Sul

18/08/2017 - 15:08 - Atualizada em: 18/08/2017 - 15:29

Motivado. É assim que o prefeito Antídio Lunelli (PMDB) se definiu na manhã desta quinta-feira (17) quando recebeu a equipe do OCP em seu gabinete na Prefeitura de Jaraguá do Sul. Falou sobre as medidas tomadas para equilibrar o caixa e modernizar a máquina pública e também sobre política e economia.

Contou, satisfeito, que sua empresa, a Lunelli, apesar da crise que assola o país e das dificuldades do setor têxtil vem crescendo em faturamento. São mais de quatro mil funcionários divididos em 12 fábricas. Na conversa que durou mais de uma hora, foco foi a palavra mais utilizada. Foi esse comportamento, segundo o prefeito, que lhe garantiu sucesso empresarial e é determinado que planeja administrar até o fim.

“Quando estava começando a minha empresa recebi uma multa por uma questão burocrática que só existe no Brasil e que representava mais de três vezes o meu faturamento na época. Naquela noite, fiquei sem dormir. No dia seguinte fui conversar com meu advogado, que me disse: ‘cuida da tua empresa que eu trato disso’. E naquele momento eu percebi que na vida é assim. Aqui, por exemplo, eu não perco tempo com essas fofocas, falam do meu cabelo, da minha licença, do meu carro, da minha vida pessoal. Pode falar, eu estou aqui para trabalhar é isso que eu vou fazer. Podem batucar na minha porta que eu estou focado.”

E se tem coisa que não se pode esperar de Antídio Lunelli é que ele fique em cima do muro. Italiano que diz admirar a disciplina dos alemães, o prefeito bate na mesa quando fala da burocracia da máquina pública. Acredita que muitas leis foram feitas para barrar o crescimento do país e proteger bandido e critica o populismo de quem acredita que o poder público pode dar conta de tudo. Exemplo que dá nesse sentido é em relação ao debate aberto agora na Câmara de Vereadores sobre o abandono de animais. Para o empresário, é preciso responsabilizar os proprietários e não criar mais uma despesa que a Prefeitura não tem capacidade de bancar. “Gente, falta remédio para as pessoas. Vamos tratar as questões com seriedade.”

Na entrevista a seguir, o prefeito anuncia medidas que estão sendo tomadas como a revisão do Plano Diretor, a atualização da planta de valores dos imóveis, e admite, pela primeira vez, que pode tentar a reeleição.

Patricia Moraes – Prefeito, a sua campanha foi pautada na modernização da máquina pública. Depois das reformas administrativas realizadas, qual a próxima etapa?

Antídio Lunelli – Estou motivado. Fui dormir feliz ontem (quarta-feira). Vi a revisão do nosso Plano Diretor, que está pronta. Um trabalho de equipe que estava emperrado e que vai proporcionar crescimento ao nosso município e atração de investimentos. Flexibilizamos pontos importantes como a questão da limitação de andares dos prédios. Não faz sentido igualar a cidade. Tem pontos onde é possível construir prédios de 20, 30 andares, em outros nem de quatro. Em resumo, o Plano Diretor vai proporcionar maior desenvolvimento.

Patricia – E a revisão da planta de valores dos imóveis que o senhor havia anunciado como meta?

Lunelli – A revisão também está pronta. É outro trabalho muito importante. Ainda vamos fazer uma análise com cautela sobre possíveis mudanças. Não tem nada definido ainda, mas eu defendo que a gente baixe a alíquota e cobre o IPTU em cima do valor real dos imóveis. Não precisamos cobrar 1,8%, podemos cobrar, vou chutar, 0,5%, mas se a casa vale R$ 120 mil vamos cobrar em cima dos R$ 120 mil, tem que ser o valor de mercado. Chega de faz de conta. Mais de 60 mil imóveis foram reavaliados nesse processo, um trabalho criterioso. O maior impacto deve ser nas construções antigas na área central e nos terrenos baldios. Vamos fazer justiça fiscal.

“Outra coisa que precisa ser discutida é essa política populista.
Gente, o poder público não pode dar conta de tudo.
A pessoa tem um cachorro, abandona e aí se cria comissão,
grupo especial e não sei o que mais. O discurso correto não é
esse e sim o da responsabilização dos proprietários.”

Patricia – As medidas tomadas até agora para redução de custos geraram o resultado esperado? O senhor está otimista?

Lunelli – Estou satisfeito, temos uma equipe enxuta. Mas só de ICMS nossa perda vai ser de R$ 100 milhões no próximo ano. É muito dinheiro. Se eu tenho mais R$ 100 milhões no caixa, eu mando tirar esses postes da cidade e enterrar os fios, fazer tudo subterrâneo. A realidade, infelizmente, não é essa. Mas posso te dizer uma coisa, estamos trabalhando dia e noite para melhorar a situação. Ficamos de janeiro a março para fazer um balanço financeiro. Agora, no segundo dia útil do mês, nos já temos todos os dados. Não dá para administrar sem saber quanto vai entrar e quanto vai sair. Continuamos trabalhando com uma equipe reduzida. Estamos com 3.700 funcionários, já chegamos a ter mais de 4.200 há alguns anos. Outro ponto que destaco é que estamos com as contas em dia. E sabe o que isso representa, conseguimos pagar 20% a menos porque quem vende para a Prefeitura sabe que agora vai receber em dia. Acho que com o tempo vamos conseguir comprar ainda mais barato. Mesmo com tudo isso, a situação ainda exige cautela.

Patricia – Para mudar a situação o senhor planeja mais cortes ou trabalha para aumentar a arrecadação?

Lunelli – Aumentar a arrecadação sem aumentar impostos. Vamos fazer isso com a mudança no Plano Diretor, com a revisão da planta genérica, desburocratizando, dando agilidade aos processos. Essa semana fiz uma reunião com o Argos (secretário de Administração) para falar sobre o Orçamento de 2018. Este ano contamos com R$ 302 milhões de orçamento ordinário que a gente pode trabalhar, que não é carimbado, para o próximo ano, a previsão é R$ 314 milhões, ou seja, a gente precisa trabalhar com foco ainda maior, criar um ambiente propício para cidade gerar riqueza.

Patricia – O Centro de Inovação que está sendo construído em parceria com o governo do Estado entra nessa questão?

Lunelli – Com certeza. Temos uma geração especial de industriais, de gente pensante, como os fundadores da WEG, que já faleceram, ou outros que estão passando o bastão para próxima geração. Mas nós não podemos de maneira nenhuma perder o DNA de inovação, que é a marca de Jaraguá do Sul. O Centro de Inovação é um ambiente que vai proporcionar isso, fomentar ideias novas, fortalecer o setor de tecnologia, inteligência. É uma aposta de futuro.

Patricia – A polêmica da quantidade de indicações apresentadas pelos vereadores – são mais de 1.300 este ano – continua. Essa semana os parlamentares, inclusive os governistas, defenderam o instrumento.

Lunelli – Olha, os vereadores têm direito de fazer indicações quantas quiserem. O que eu questiono é qual a finalidade disso tudo. A maioria é de buraco de rua, que a gente já tem conhecimento, mas não temos como resolver tudo assim. Os casos mais graves têm prioridade e não é porque o pedido veio do vereador. Outra coisa que precisa ser discutida é essa política populista. Gente, o poder público não pode dar conta de tudo. A pessoa tem um cachorro, abandona e aí se cria comissão, grupo especial e não sei o que mais. O discurso correto não é esse e sim o da responsabilização dos proprietários. Quem tem um animal precisa cuidar dele até o fim. Gente, falta remédio para as pessoas. Vamos tratar as questões com seriedade.

Patricia – Alguma nova reforma administrativa deve acontecer?

Lunelli – Sim. Temos questões que precisamos regulamentar como na Fujama e na Secretaria de Esporte, Cultura e Lazer. São pastas que não tinham servidores legalizados, estavam cedidos de outras áreas. Vamos deixar tudo redondo. Sem contratações, apenas legalizando o quadro que já existe. E veja como o esforço da nossa equipe é grande. Essa semana foi aniversário da secretária Natália (Petry), fiquei impressionado, com um equipe pequena, devem ser 25 pessoas, e esse número certamente já chegou perto de cem, esse pessoal tem conseguido manter toda a programação, sem falhar nenhuma.

Patricia – Mas mudança de secretarias, extinção ou criação?

Lunelli – Não. Acertamos na reforma que fizemos ainda no ano passado.

“Não vamos nos enganar. O município não tem
capacidade para realizar grandes obras com orçamento próprio.
Para isso, estamos focados em buscar recursos, como o financiamento
internacional que o nosso vice, o Udo Wagner, está tocando.
Temos ótimos projetos que estão sendo bem
acompanhados e a expectativa é positiva.”

Patricia – Pelos seus discursos e plano de governo, o senhor pretende deixar como marca a modernização da máquina pública e o aumento da capacidade de investimento, porém, a população também vai cobrar outras demandas, como obras, melhorias na saúde e educação. Como pretende atender a demanda, qual será sua prioridade?

Lunelli – Não vamos nos enganar. O município não tem capacidade para realizar grandes obras com orçamento próprio. Para isso, estamos focados em buscar recursos, como o financiamento internacional que o nosso vice, o Udo Wagner, está tocando. Temos ótimos projetos que estão sendo bem acompanhados e a expectativa é positiva. Melhorar a saúde e a educação são metas constantes. Já somos referência nessas duas áreas, temos que avançar sempre mais. Faremos tudo o que for necessário. Mais de 70% dos nosso professores têm pós-graduação, temos o melhor salário de Santa Catarina. Outro destaque é nosso saneamento básico. Tratamos 80% do esgoto, vamos terminar o governo perto dos 100%.

Patricia – O senhor pensa em reeleição?

Lunelli – Não sei, vamos ver.

Patricia – A resposta já é um pouco diferente. Antes o senhor negava.

Lunelli – Vamos ver. Não é coisa para se pensar agora. Vamos ver os nomes que vão se apresentar. O foco é fazer um bom trabalho nesses quatro anos.

Patricia – O senhor tem acompanhado a comissão especial que investiga suspeita contra o vereador Arlindo Rincos, de cobrar taxa para indicar diretor na Câmara?

Lunelli – Não. Não perco tempo com fofoca.

Patricia – Mas não é fofoca. É um procedimento que pode acabar em cassação de um vereador.

Lunelli – Sim, verdade. Mas cabe à Câmara investigar. Se tem prova, tem que cassar. É uma discussão que não cabe ao prefeito.

Reportagem de Patricia Moraes para o Jornal O Correio do Povo