Uma fonoaudióloga, moradora de Jaraguá do Sul, foi vítima de um golpe virtual nesta segunda-feira (19) e acabou perdendo R$ 3.700. A mulher, de 47 anos, prefere não ser identificada, mas aceitou falar à reportagem do OCP sobre o golpe sofrido no intuito de alertar as pessoas, para que não sejam enganadas por golpistas.
Ela conta que recebeu um e-mail que seria do Nubank afirmando que o banco havia feito um bloqueio na sua conta (que é de Pessoa Jurídica) “por detectar uma transação suspeita” e que, caso ela não reconhecesse aquela transação, deveria clicar em um link que estava sendo informado no e-mail para entrar em contato com a agência.
“Como na hora fiquei bastante nervosa eu acreditei e, ao clicar, fui direcionada para uma ligação em que o golpista me orientou a fazer o cancelamento das transações para que elas não fossem realizadas”, relata. “Num certo ponto, ele pediu para eu desbloquear meu cartão de crédito e o capital de giro para que o cancelamento pudesse ser concluído e, nisso, a transferência do saldo da minha conta já tinha sido feito”.
Segundo ela, o golpista não pediu nenhuma senha, mas informou uma chave PIX para que fosse efetuada a transação. “Ele disse que meu saldo retornaria e que eu tinha que atualizar a página. Mas eu já tinha atualizado duas vezes e o saldo não voltava, daí a ligação caiu”.
“E para ser ainda mais convincente o código PIX terminava com a palavra ‘cancelamento’. Então ele dizia ‘olha, nós estamos cancelando, este é o procedimento'”, conta.
E seguida, o golpista continuou falando com a vítima pelo WhatsApp, com mensagens de texto e áudio. “Depois ainda mandou mensagem pedindo para eu verificar se o saldo havia retornado e avisar para ele”.
De acordo com a vítima, enquanto ainda estava conversando com o golpista ela recebeu uma ligação do marido e, ao contar a ele o que estava acontecendo, foi imediatamente alertada de que se tratava de um golpe.
“Aí fomos procurar o telefone de atendimento do banco e eu fiz a denúncia. O pedido de contestação foi aberto pelo banco e também fiz um boletim de ocorrência online”. No entanto, segundo a fonoaudióloga, a agência informou que transações via boleto, cartão ou TED podem ser estornadas, o que não ocorre com transferências via PIX, pois a ação é realizada em tempo real.
O marido da fonoaudióloga trabalha com cibersegurança. “Falamos sobre isso sempre e eu nunca clico em nada. Foi um minuto de bobeira, de nervosismo, que me fez acreditar naquilo. Eles falam de forma imperativa e abalam o psicológico da pessoa, porque se analisamos friamente logo se vê que é um golpe”, diz.
Advogado alerta sobre golpes mais comuns
O advogado Raphael Rocha Lopes conta que já atendeu casos de golpes de diferentes tipos: desde acessos indevidos, sem intervenção do cliente, com retirada de dinheiro, uso de limite, pagamentos de boletos e compras nos cartões de crédito, até pessoas que foram ludibriadas por uma suposta chamada do suporte dos bancos.
Segundo ele, ultimamente o golpe mais comum é justamente o do suporte do banco ligando para dizer que houve uma compra suspeita no nome do cliente e, como eles “são muito diligentes, o sistema apontou essa inconsistência”. O advogado conta que ele mesmo recebe esse tipo de mensagem com frequência. “Inclusive já recebi de banco que nem sou mais correntista há muitos anos”.
O modo de operar dos golpistas
Os bandidos utilizam dados vazados para saber em que bancos a vítima tem conta. E quando conseguem pegar a pessoa em algum momento de pressa ou de desatenção ou de preocupação, é quando os golpes, em regra, têm sucesso.
O outro golpe muito comum é o do link. Por email, SMS ou WhatsApp, os bandidos utilizam o artifício de um valor a receber ou uma compra indevida. “Bancos nunca mandam links, especialmente por WhatsApp”, alerta Lopes.
Golpe com idosos
Um terceiro golpe é mais voltado para pessoas idosas. O criminoso liga para um número convencional (telefone fixo) e, também com alguma informação privilegiada, diz que foi identificada inconsistência ou compra indevida ou algo do gênero. “Para dar mais credibilidade, eles recomendam que a vítima desligue o telefone e ligue para o número que está no cartão de crédito. A vítima desliga, pega o cartão, e liga justamente para aquele número. Ocorre que o bandido não desligou o telefone do outro lado; então outra pessoa ‘atende a ligação’ e, como se fosse do suporte da operadora do correntista, faz todas aquelas perguntas e, para sacramentar o golpe, pede a informação mais preciosa: a senha. Como a vítima já está enredada, pensando que está falando com o banco mesmo, e considerando que, normalmente, são idosos e confiam nas pessoas, elas dão a senha”, detalha o advogado.
“Dá para imaginar o estrago a partir desse momento. Com senha do banco e senha do cliente correntista, os bandidos se esbaldam”, completa.
Alerta importante
Raphael Rocha Lopes faz um alerta importante, para que os “filhos e netos avisem e orientem seus pais e idosos para não passarem nada por telefone, nunca. Se alguém ligar e pedir para ligar para qualquer número, a vítima deve ir na agência que tem conta”.
O advogado também cita o golpe do parente ou amigo que pede para pagar uma conta, de emergência, com um WhatsApp com a foto do suposto amigo ou parente.
“E está crescendo o número de golpes com Inteligência Artificial. Os áudios estão ficando cada vez mais perfeitos e já estamos, também, entrando com força na era das simulações com imagens. Já há, e já aconteceu inclusive em Jaraguá, casos de instagram craqueados que fizeram um vídeo curto como se fosse o dono do perfil pedindo algum tipo de depósito ou vendendo alguma coisa que não existe”, relata.
“Nessa linha, é possível que comecemos a ter chamadas em tempo real com uma imagem em IA do outro lado como se fosse você ou eu, ou, no caso concreto, com alguém conhecido ou de confiança da vítima”, diz.
O advogado finaliza dando dicas importantes de segurança. Confira:
– trocar senhas de vez em quando;
– sempre fazer senhas difíceis;
– nunca guardar as senhas na carteira ou todas no mesmo lugar (é um caos, mas é necessário);
– usar confirmação em duas etapas em todos as aplicativos que for possível;
– nunca acreditar nas ligações supostamente de bancos, mas ir até sua agência em qualquer caso de dúvida;
– nunca seguir orientações por telefone do suposto suporte, nem nos aplicativos, nem nos caixas eletrônicos;
– nunca transferir valores para parentes ou amigos sem confirmar com terceiros ou falar pessoalmente com quem supostamente precisa;
– conversar com a família sobre golpes, pois é sempre bom lembrar das dicas de vez em quando, principalmente com os mais idosos.
Informações no site do banco
No link https://nubank.com.br/seguranca/, no site do Nubank, o banco ensina como identificar golpes digitais e se proteger de fraudes.