Jaraguá do Sul já registrou 447 casos de violência doméstica em 2018

Foto: Divulgação

Por: Elissandro Sutil

07/08/2018 - 09:08 - Atualizada em: 07/08/2018 - 14:38

O caso de Andreia Campos Araujo, em Jaraguá do Sul, assusta e entra para a lista nacional de feminicídios que vêm ocorrendo nas últimas semanas. Mas a violência contra a mulher começa bem antes, em atitudes que podem parecer inocentes. E os números provam isso.

Entre janeiro e maio deste ano, há registros de que 218 mulheres foram vítimas de violência em Jaraguá. Entre os crimes cometidos estão o estupro consumado e tentado, as lesões corporais e o roubo.

Os números de violência doméstica, que incluem ainda ameaças, danos, injúria e outros, são somados aos de violência contra a mulher, totalizando 447 casos.

Essas mulheres sofreram injúrias, ameaças, estupros e tentativas de estupro de pessoas que convivem no mesmo ambiente familiar. Os números são do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp) do Estado.

O Atlas da Violência de 2018, com números de 2016, mostra que, naquele ano, 4.645 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras. Em dez anos, observa-se um aumento de 6,4%.

Em 2016 também foram registrados 49.497 casos de estupro nas polícias brasileiras, conforme informações disponibilizadas no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Nesse mesmo ano, no Sistema Único de Saúde (SUS) foram registrados 22.918 incidentes dessa natureza, o que representa aproximadamente a metade dos casos notificados à polícia.

Por que a violência contra mulher é recorrente?

A presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM) de Jaraguá do Sul, Ana Abel, avalia que, assim como a violência é resultado da falta de estrutura educacional e segurança pública, o feminicídio é causado pela desigualdade de poder.

“Culturalmente falando, educamos homens e mulheres de formas diferentes, e dentro dessas formas, existe a questão de que a violência é estimulada nos homens como uma forma de se assegurar como tal, uma forma digna e bem vista de responder às adversidades”, aponta Ana.

A presidente da UBM enfatiza que em casos de conflitos, os homens “sentem que podem responder com violência”. Seja ela uma agressão física ou verbal.

Ela também compreende que os homens não são educados para expressar as emoções e necessidades de forma não violenta. “A passividade e emoção são vistas como coisa de mulher, culturalmente falando”, observa.

De acordo com Ana, esta é uma das bases para a ocorrência dos feminicídios, principalmente na microrregião, por conta da valorização do esteriótipo do chefe de família, conservador, que não expressa suas emoções.

“Lugares onde existe uma diversidade maior de perfis de homens e o papel dele não está ligado apenas ao provedor e chefe de família, os índices de violência tendem a ser menores”, relata Ana.

Para ela, além de se aumentar a penalidade e melhorar a forma de julgamento para esses tipos de crimes, o fundamental para transformar as estatísticas será quando “encararmos de frente a questão cultural que envolve esses dados”.

Ana acredita que ainda se fala pouco sobre o tema no país porque a luta pelas minorias é recente. A presidente da UBM também indica que deveria existir mais iniciativa do Poder Público a respeito da violência contra a mulher.

“Mas, se a cultura de massa não entende a importância de debater sobre isso, como o tema vai chegar na esfera política? É um paradoxo, e tudo começa a ser resolvido pela base, que somos nós”, completa.

“Situação é revoltante”

Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), Emanuela Wolff, diz que a situação é revoltante e vai na contramão das ações que são promovidas na cidade.

“Organizamos eventos sobre conscientização, prevenção e outras situações, mas não estamos evoluindo. E, infelizmente, este fato do fim de semana não foi isolado”, declara.

Hoje, o Comdim vai discutir na plenária mensal, às 8h, na Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) sobre a possível realização de algum evento ou ação referente ao feminicídio de domingo. A reunião é aberta ao público.

O que é feminicídio?

Feminicídio é uma expressão utilizada para denominar as mortes violentas de mulheres em razão de gênero, ou seja, que tenham sido motivadas por sua “condição” de mulher.

De acordo com as Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres, para coibir o crime é fundamental conhecer as características dos feminicídios, construindo um entendimento de que se tratam de mortes decorrentes da desigualdade de gênero e que, muitas vezes, o assassinato é o desfecho de um histórico de violências.

Com isso, os feminicídios são considerados mortes evitáveis – ou seja, que não aconteceriam sem a conivência institucional e social às discriminações e violências contra as mulheres.

Violentômetro

A violência em um relacionamento abusivo tende a aumentar gradualmente, veja alguns sinais de alerta:

Como denunciar e procurar ajuda

  • Ligue 180, serviço telefônico gratuito disponível 24 horas em todo o país;
  • Baixe o “Clique 180”, aplicativo para celular;
  • Ligue 190, se houver uma emergência;
  • Delegacias de polícia;
  • Delegacia da Mulher de Jaraguá do Sul, pelo telefone (47) 3370-0331. A unidade fica na rua Marthin Stahl, nº 507, Vila Nova;
  • Defensoria Pública, que atende quem não possui recursos para contratar um advogado;
  • Promotorias especializadas na defesa da mulher.

 

Quer receber as notícias no WhatsApp?