Dois irmãos foram condenados pela morte de uma adolescente de 14 anos, em um julgamento que durou 20 horas, na região da Serra catarinense.
Os jurados acolheram a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), reconhecendo que o homem, hoje com 23 anos, e a mulher, hoje com 20 anos, planejaram e executaram o homicídio, que terminou com a vítima amarrada pelo pescoço em uma árvore e coberta por folhas. Eles tiveram a ajuda de um adolescente para cometer o crime.
O homem foi condenado a 23 anos e seis meses de reclusão em regime inicial fechado por homicídio com quatro qualificadoras (feminicídio, motivo torpe, emprego de recurso que dificultou a defesa e meio cruel), ocultação de cadáver e corrupção de menor.
Após o veredito, ele retornou à Penitenciária de Curitibanos, onde já estava preso preventivamente. A mulher, por sua vez, foi sentenciada a seis anos de reclusão por homicídio simples. Ela ganhou o direito de recorrer em liberdade. Os nomes dos réus e da vítima não são citados porque o processo tramita em segredo de justiça.
O julgamento aconteceu na Câmara de Vereadores de Campo Belo do Sul, das 9h de terça-feira (27) às 5h de quarta-feira (28). A acusação foi conduzida pela Promotora de Justiça Cassilda Santiago Dallagnolo e pelo membro do Grupo de Atuação Especial do Tribunal do Júri (GEJURI), Promotor de Justiça Ricardo Paladino.
“Foi um crime brutal, que chocou toda a sociedade, e buscamos o estabelecimento da justiça, para trazer um pouco de conforto a família vítima”, diz a Promotora de Justiça Cassilda Santiago Dallagnolo.
“Foi um Júri extenso e complexo, por se tratar de um caso de grande repercussão. Os depoimentos dos réus apresentaram uma série de controvérsias, e fizemos o nosso trabalho com base em provas contundentes”, diz o Promotor de Justiça Ricardo Paladino.
A comunidade compareceu em peso ao local para acompanhar o desfecho do caso. Algumas pessoas tiveram que ficar do lado de fora devido a limitação do espaço. Familiares e amigos mais próximos da vítima usaram uma camiseta com a foto dela e a frase “violência contra a mulher não tem desculpa, tem lei”.
O Policial Civil que conduziu as investigações, Paulo Sérgio Ramos Batista, foi o primeiro a testemunhar. Durante mais de duas horas, ele apresentou um relatório completo com as provas coletadas ao longo do processo e disse não ter dúvidas quanto a participação dos irmãos no crime.
A mãe da vítima, Keli Taques, relembrou os fatos e desabafou:
“Tiraram uma parte de mim. Minha alegria se foi para sempre. Aquele dia fica martelando na cabeça o tempo todo. É impossível esquecer”, disse ela, aos prantos.
O pai, Valdir Krindges, falou sobre a angústia vivida enquanto procurava pela filha e pediu por justiça:
“Mataram minha menina de forma covarde. Todos os dias tento encontrar forças para seguir em frente, e espero que eles paguem pelo que fizeram”.
Ciúmes, ameaças, emboscada e estrangulamento: relembre o caso
Entre 2018 e 2019, a vítima conviveu com os réus na condição de namorada dele e cunhada dela, mas se afastou de ambos com o fim do relacionamento amoroso. Porém, o homem não aceitou o término e passou a pressionar a adolescente, rondando a casa com um revólver e enviando mensagens ameaçadoras pelo WhatsApp.
Segundo a denúncia, o desejo obsessivo somado às respostas negativas motivou o crime. Assim, ele planejou e executou o homicídio em 8 de fevereiro de 2021, com a ajuda da irmã e de um adolescente.
Parecia só mais uma segunda-feira de verão no Assentamento 17 de Abril. No começo daquela tarde, a ré foi até a casa da vítima com o pretexto de conhecer seu irmãozinho. Horas depois, ela pediu para a adolescente acompanhá-la em parte do trajeto de volta. Ambas caminharam juntas por cerca de 800 metros, então se despediram.
A vítima retornava para casa, mas foi abordada por um adolescente e convencida a caminhar até uma área de vegetação, onde o réu esperava escondido. Ela foi levada à força mata adentro, amarrada em uma árvore e estrangulada até a morte. O corpo foi encontrado dois dias depois por cães farejadores, coberto por folhas, após intensas buscas envolvendo amigos, familiares e órgãos de segurança. O laudo cadavérico apontou mais de 30 lesões.
A Polícia Civil iniciou as investigações, e dias depois o adolescente assumiu sozinho a autoria do crime e cumpriu medida socioeducativa. Mas os elementos coletados indicaram o envolvimento de pelo menos mais uma pessoa. O desenrolar dos fatos apontou para os réus, agora condenados pela Justiça. Ambos chegaram a ajudar nas buscas pela adolescente e foram ao velório dela.