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Conheça os protocolos que podem ser implantados em casos de ataques contra escolas

Foto: Fábio Junkes/OCP News

Por: Claudio Costa

07/04/2023 - 07:04 - Atualizada em: 07/04/2023 - 13:41

O ataque a uma creche em Blumenau deixou quatro crianças mortas e Santa Catarina em luto. Após verificar que não há informações de como a comunidade escolar deve reagir a eventos como esse em Jaraguá do Sul, a reportagem do OCP conversou com especialistas sobre dois protocolos que podem ser aplicados em casos de violência dessa natureza: o stop the bleed (pare o sangramento) e o run, hide, fight (corra, se esconda, lute).

O comandante do 14º BPM (Batalhão de Polícia Militar), tenente-coronel João Carlos Benassi Kuze, destaca que o envolvimento do todo é a melhor saída nesses casos. O poder público tem a possibilidade de implementar medidas para que crimes como esse não ocorram ou minimizar a possibilidade da ocorrência de eventos violentos.

“Precisamos melhorar as cercanias das unidades escolares, o controle de acesso e a contratação de vigilantes. Mas também precisamos de qualificação de socorristas e de policiais em rondas preventivas em unidades escolares enquanto não estão atendendo ocorrências. Também precisamos de guarnições que façam contato contínuo com os profissionais de educação”, frisa.

Protocolos são necessários

Porém, Kuze destaca que, por mais esforços que sejam realizados nesse sentido, as exceções ocorrem. O comandante afirma que o caso registrado em Blumenau, distante cerca de 60 quilômetros de Jaraguá do Sul, foi isolado. Mas não é possível saber quando uma pessoa mentalmente perturbada vai bater a porta de uma creche e se isso não vai ocorrer na nossa região.

“Existe o efeito de contágio de ideias e pessoas com transtornos mentais variados. Infelizmente, essas pessoas podem estar com isso latente e daqui a pouco resolvem cometer um ato desses. Medidas de capacitação são muito importantes. A gente vem conversando sobre a adoção de protocolos para caso esses ataques ocorram”, informa.

Kuze ressalta que é preciso ensinar nas escolas protocolos para o controle de hemorragias massivas. Por mais rápido que a força policial chegue no local do ataque, o autor pode já ter atingido uma vítima. Essa pessoa pode ser salva por um protocolo de controle de hemorragia.

O tenente-coronel ressalta ainda que existem estudos que apontam que as pessoas feridas em ataques acabam morrendo pelo sangramento causado pelos ferimentos. Além disso, o atirador ativo vai procurar locais em que ele tenha menos resistência e, com isso, cause mais danos. Por isso, ele não procura uma agência bancária com um vigiante armado e uma porta giratória.“Porque ali ele vai encontrar um oponente à altura e o intento não vai se realizar. Como ele quer o holofote, vai procurar lugares que não tenham essa oposição”, destaca.

“Por mais que a Polícia Militar seja estruturada, não conseguimos evitar todos os crimes e chegar na velocidade ideal. Então, o mal ainda tem espaço. Como nós vamos conseguir mudar isso? Com o envolvimento comunitário e pessoas capacitadas para minimizar o ocorrido”, completa.

Técnicas usadas nos EUA

O instrutor de tiro, de APH (Atendimento Pré-Hospitalar) e de direção tática Jefferson Bonatti, conta que existe um protocolo implantado em escolas americanas desde 2012, após o ataque de Sandy Hook, em Connecticut.

Após o massacre que vitimou 26 pessoas em uma escola, a stop the bleed, técnica utilizada para encerrar um sangramento massivo causado por disparo de arma de fogo ou golpe com arma branca, começou a ser difundida nas unidades escolares estadunidenses. Feito com o uso de torniquetes, pode evitar os sangramento em membros inferiores e superiores.

“Se o ferimento atingir um vaso muito calibroso, a pessoa pode ter um choque hipovolêmico e entrar em óbito em cerca de três minutos. O tempo resposta de qualquer força auxiliar que vá chegar no local dificilmente vai ser menor que três minutos. Se os profissionais da escola tiverem acesso a esse tipo de treinamento, existe uma chance maior de sobrevivência da vítima”, destaca.

No caso de um ataque contra escolas, outro protocolo amplamente difundido nos Estados Unidos é o run, hide, fight. A primeira regra do protocolo é buscar se distanciar da ameaça o mais rápido possível. A comunidade escolar fica atenta a possíveis rotas de fuga dentro da unidade escolar.

“Se o professor consegue conduzir os alunos para um local seguro, a gente tira o foco do agressor, que é pegar quem está na frente. Isso é utilizado para salvar o maior número de pessoas possível. Essas informações são repassadas de maneira lúdica para crianças a partir dos quatro anos”, conta.

No hide, a comunidade escolar aprende a se esconder do agressor, seja ele armado com uma faca ou uma arma de fogo. Elas podem se juntar em uma sala de aula e formar barreiras para evitar que o atirador ativo tenha acesso a elas, evitando assim que as pessoas sejam feridas.

“Após encontrar um ponto estratégico, todo mundo vai se esconder, apagar as luzes. Uma simples cunha enfiada em uma travessa de porta e colocar cadeiras para obstruir a entrada podem ajudar a ganhar tempo para a chegada de uma força de segurança”, comenta.

Por último, o fight (ou luta) é o passo que deve ser empregado como último recurso. Ou seja, a pessoa só deve lutar contra o agressor quando a vida dela ou de outras pessoas está em perigo eminente.

“Então, a pessoa vai utilizar aquilo que tiver em mãos, um peso de papel, um grampeador ou mesmo a força para impedir a agressão. No ataque que ocorreu na escola em SP uma professora bravamente foi lá e enfrentou o adolescente. Deu um mata-leão e tirou a faca. Ela foi uma corajosa, uma guerreira. Mesmo sem técnica, ela tomou uma atitude e salvou a vida de outras pessoas”, finaliza.

 

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Claudio Costa

Jornalista pós-graduado em investigação criminal e psicologia forense, perícia criminal, marketing digital e pós-graduando em inteligência artificial.