Caso de estupro escancara problema da falta de efetivo policial em Jaraguá do Sul

Foto: Divulgação

Por: Claudio Costa

02/03/2024 - 07:03

Um estupro seguido de tentativa de homicídio acabou escancarando o problema da falta de efetivo policial em Jaraguá do Sul. O vereador Rodrigo Livramento (Novo) recebeu a informação de que uma pessoa ligou para o número 190 e informou sobre o autor, com tornozeleira eletrônica, em atitude suspeita antes do crime acontecer.

Livramento conta que no dia seguinte ao estupro, ocorrido no dia 20 de fevereiro, foi informado de que uma pessoa havia contatado a Polícia Militar. Porém, com as guarnições ocupadas com outras ocorrências, não foi possível realizar a verificação da situação.

“No meio da sessão, eu recebi a mensagem de um munícipe dizendo que estava conversando com outra pessoa, que disse que acionou a Polícia Militar antes do estupro ocorrer. Chamou a polícia porque viu um homem com tornozeleira e as mesmas características, a mesma camisa do autor. Ele me mandou um print da ligação para a Polícia Militar”, relata o vereador.

“Fui conversar com o [tenente-coronel] Kuze para verificar essa informação. Realmente, a polícia não tinha ido até o local do ocorrido, o que é algo muito grave. A polícia não chegou a tempo, quando poderia ter chegado a tempo de salvar aquela mulher. A resposta que o Kuze me deu foi a pior possível. Não deu tempo de chegar porque não tinham policiais suficientes”, completa.

Desabafo na Câmara

O comandante do 14º BPM (Batalhão de Polícia Militar), tenente-coronel João Kuze, foi até a tribuna da Câmara de Vereadores na terça-feira (27) e fez um corajoso desabafo. O oficial contou que a unidade ficou arrasada após a constatação do erro. Ele destaca que todas as guarnições em serviço estavam empenhadas em ocorrências. Com o cometimento do estupro, guarnições abandonaram outros atendimentos para atender o caso.

O tenente-coronel João Kuze, comandante do 14º BPM, esteve na Câmara de Vereadores no dia 27 de fevereiro | Foto: Divulgação

Sobre o crime

A vítima foi interceptada na ciclovia no bairro Rau e arrastada pelos cabelos para o outro lado do trilho. Após ser abusada sexualmente, a mulher foi apedrejada e levou socos na cabeça. Em seguida, ela foi jogada pelo bandido de cima de uma ponte da linha férrea em um córrego, mas conseguiu sair e pedir ajuda para o marido que a procurava.

“Nós ficamos muito mal no batalhão com o caso do estupro. A pergunta do vereador Livramento foi muito pertinente porque nesse caso a força pública foi acionada previamente. Porém, era uma suspeição e nada estava fazendo até então, era só um homem perturbando com uma tornozeleira eletrônica. Mas o único culpado por esse ato é o estuprador”, comentou o oficial na tribuna.

“Esse estuprador, como tantos outros que lotam os presídios, são encorajados por um sistema nefasto, que os guarda muito bem. Eles têm direito a uma progressão de regime absurda. E este estuprador foi preso pela Polícia Militar em janeiro de 2024, em Guaramirim. Ele roubou um Uber em Araquari e escolheu uma motorista. Ele escolheu uma mulher porque era naturalmente um covarde. Ao chegar em Guaramirim, a agrediu fisicamente, levou um telefone e pouca coisa. A juíza entendeu que ele não representava risco para a sociedade”, completou.

Falta de efetivo

Com cada vez menos efetivo, os policiais militares acabam tendo dificuldades para atender as ocorrências. Segundo Kuze, em 2002 o quartel da PM em Jaraguá do Sul deixou de ser a 3ª Companhia do 8º BPM, sediado em Joinville, para virar o 14º Batalhão. Nessa época, a unidade recebeu um aporte de efetivo e ficou com 267 policiais. Em 2024, esse número diminuiu para 175 PMs.

“Naquela época, a cidade tinha 110 mil habitantes e hoje está beirando os 200 mil. Houve uma multiplicação na frota de veículos e uma mudança no perfil da cidade, que deixou de ser provinciana para ter um público flutuante cada vez maior. São muitas pessoas passando pela cidade para fazer negócios de fora de Santa Catarina e do Brasil”, pondera.

“Essa pujança é muito boa para a segurança pública. Só que esse crescimento traz alguns problemas residuais. E essa fala que eu fiz na Câmara não deve ser encarada com uma mensagem de pânico. Estamos em um momento crucial em que a quantidade de ocorrências e a quantidade de efetivo está em teste. Esses dois fatores estão colocando em xeque as nossas estratégias e a forma como empregamos nosso recurso humano cada vez mais escasso”, complementa.

Essa situação apelidada de “panela de pressão” por Kuze foi o que motivou a sua fala. O apelo por uma união entre a classe política e a sociedade foi feito em público para trazer transparência para a situação.

População da cidade aumentou e o número de policiais não acompanhou esse crescimento. De 2002 para cá, a quantidade de agentes até diminuiu | Foto: Fábio Junkes/OCP News

OCP lança campanha pela segurança

Nesse contexto, o OCP lança a campanha “Jaraguá + Segura: mais policiais nas ruas já”. O veículo de comunicação mais antigo da cidade busca o apoio da sociedade em prol do aumento do efetivo em Jaraguá do Sul. O presidente da Rede OCP de Comunicação, Walter Janssen Neto, destaca a forte ligação do veículo com os entes da segurança pública.

“O OCP já doava parte do valor das novas assinaturas para a Amigos da Segurança Pública de Jaraguá do Sul e Região. Esse dinheiro foi revertido para a compra de equipamentos para os policiais da nossa região. E esse esforço ganha o apoio de diversas entidades da nossa sociedade. Agora, a luta é por um aumento no número de policiais militares e, com isso, a busca por uma melhor qualidade de vida para os jaraguaenses”, frisa Janssen.

Kuze ficou muito feliz com a notícia da criação da campanha e lembra que foi para a Câmara de Vereadores para sensibilizar a sociedade sobre o problema. Ele afirma que essa é a maior necessidade do batalhão responsável por Jaraguá do Sul ser considerada a cidade mais segura do País.

“É muito importante o fato do OCP ter abraçado essa causa. A nossa comandante regional, coronel Arlene de Souza Vilella, tem conversado com o comandante-geral. O coronel Aurélio José Pelozato da Rosa está ciente sobre a necessidade das inclusões de efetivo e tem lutado para mudar a defasagem no efetivo em toda Santa Catarina. A informação que eu recebi é de que o governador também tem ciência disso, está sensibilizado e busca a solução do problema. Infelizmente, o concurso está barrado por questões jurídicas que nós não concordamos em hipótese alguma. Mas essa movimentação do OCP trazendo a comunidade para essa discussão, para que lutemos em várias frentes, é o grande diferencial desse veículo de imprensa”, conclui o oficial.

Arte: Bruna Schneider

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Claudio Costa

Jornalista pós-graduado em investigação criminal e psicologia forense, marketing digital e pós-graduando em inteligência artificial.