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Resgate da tradição germânica na Schützenfest: história que se estende por décadas

Por: Elissandro Sutil

04/11/2019 - 16:11 - Atualizada em: 13/11/2019 - 11:06

Quando os imigrantes europeus vieram colonizar o Brasil trouxeram muito mais do que apenas o idioma e as roupas na bagagem. Eles trouxeram também as tradições de seus países de origem. Em Santa Catarina, os costumes são preservados até hoje e atravessam gerações, principalmente quando se fala da cultura alemã.

Em Jaraguá do Sul, os costumes germânicos são tratados como patrimônio e a Schützenfest, Festa dos Atiradores, é a principal manifestação de resgate cultural da comunidade. A festa entra, este ano, em sua 31ª edição, com 11 dias de muita música, gastronomia típica, chope artesanal, apresentações culturais e tiro esportivo.

Desfile Banda Mottener na Schützenfest em 1993. | Foto Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul

Foi no ano de 1989 que a festa aconteceu pela primeira vez em Jaraguá do Sul, criada e organizada pela Associação dos Clubes e Sociedades de Tiro do Vale do Itapocu (ACSTVI). É considerado um momento para relembrar os costumes germânicos, promover a alegria e também a integração da comunidade.

Assim como na Alemanha, a festa acontece anualmente em Jaraguá do Sul e é realizada pelas sociedades de atiradores – “Schützenverein” em alemão -, com apoio da Prefeitura, tornando-se o evento oficial no Brasil e o mais esperado pela comunidade da região.

Estandes de tiro da Schützenfest em 1992. | Foto Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul

O tiro esportivo e a disputa pela realeza são os pontos que marcam a essência da Schützen. Apesar de a festa estar focada nas competições entre as sociedades, os estandes de tiro são abertos à comunidade. Entre as modalidades praticadas estão o chumbinho e a seta.

Os primeiros passos da história

A primeira sociedade de tiro que nasceu na cidade foi a Sociedade de Atiradores Jaraguá, no ano de 1906, formada por um grupo de pessoas da comunidade, entre elas o Coronel da Guarda Nacional Bernardo Grubba e a esposa, que doaram suas terras recém-adquiridas para a instalação do primeiro estande de tiro das redondezas.

Em seguida foram surgindo outros grupos, pela região, como Sociedade de Atiradores Dr. Lauro Muller (1916), Sociedade de Atiradores e Sport Rio Cerro II (1916), Sociedade de Atiradores Einigkeit (União) (1928), Sociedade de Atiradores Concórdia (1931), Sociedade de Atiradores Progresso (1952), Sociedade Desportiva e Recreativa Boa Esperança (1952), entre outras.

Primeira sociedade de tiro em Foto Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul

A partir de 1938, durante a Campanha de Nacionalização, foi proibido falar, escrever em alemão no Brasil, e as sociedades de tiro tiveram que se adequar. De acordo com a historiadora Silvia Kita, foram escondidos documentos e as pessoas passaram a fazer atas apenas em português.

“Depois, com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas foram perseguidas, e as sociedades tiveram que alterar suas denominações, passando para nomes em português”, conta Silvia.

Na época muitas sedes de sociedades foram tomadas por militares, tendo documentação, armas e bandeiras recolhidas, e algumas nunca foram devolvidas.

Mas após a guerra, os grupos, aos poucos, foram se reconstituindo. Em meados da década de 1980, algumas sociedades do interior iniciaram reuniões para a realização de uma grande festa entre os grupos da região.

A iniciativa se ampliou e, em 18 março de 1989, foi criada a ACSTVI, para realizar anualmente a Schützenfest, a grande Festa dos Atiradores.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP