A troca de domicílio eleitoral de Carlos Bolsonaro para Santa Catarina, apesar da pré-candidatura presidencial do irmão mais velho, Flávio Bolsonaro, ambos do PL do Rio de Janeiro, aumentou a expectativa dos partidos do Centrão, que apostam em um recuo do filho 01 do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O grupo político já demonstrou disposição em articular uma candidatura alternativa ao clã Bolsonaro com acenos para os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), em busca de um nome para concorrer com Lula em 2026. Na avaliação das lideranças do Centrão, o fato de Carlos Bolsonaro manter a pré-candidatura ao Senado pelo novo estado seria um indicativo de que Flávio não descarta a reeleição como senador fluminense no próximo ano.
No entanto, o PL trata as pré-candidaturas dos irmãos como “irreversíveis”, sem chance de recuo, do que foi planejado pelo líder da família, que segue detido em prisão domiciliar após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Antes da nova cirurgia, na quinta-feira (25), Bolsonaro escreveu uma carta que foi lida por Flávio, reforçando a pré-candidatura presidencial do filho primogênito, que surge como herdeiro natural dos votos do ex-presidente. “Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim. Ele [Flávio] é a continuidade do caminho da prosperidade que iniciei bem antes de ser presidente, pois acredito que precisamos retomar a responsabilidade de conduzir o Brasil com justiça, firmeza e lealdade aos anseios do povo brasileiro”, escreveu o ex-presidente.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente do diretório municipal do PL do Rio de Janeiro, Bruno Bonetti, descartou a possibilidade de o senador Flávio Bolsonaro desistir da pré-candidatura presidencial em 2026, dependendo da articulação política dos partidos do Centrão.
“O Flávio está igual um foguete. Na política manda quem tem voto, e quem tem voto é o presidente Bolsonaro. É legítimo que ele escolha o filho 01. Flávio está ao lado dele desde 2002, coordenando campanhas e construindo o projeto político”, disse Bonetti, que é suplente do senador Romário (PL) no Congresso Nacional.
Questionado se a mudança de Carlos Bolsonaro para Santa Catarina, com o objetivo de disputar o Senado, poderia sugerir que Flávio mantenha a reeleição pelo estado fluminense como um “plano B”, o presidente carioca do PL esclareceu que o ex-vereador do Rio tinha um desejo pessoal de se mudar para o Sul do país.
“O Carlos nunca quis concorrer com o irmão; isso é algo muito forte. Ele tomou a decisão de mudar para Santa Catarina, se programou, estabeleceu residência e tem uma relação antiga com o estado. Depois disso é que o Flávio, diante das injustiças sofridas pelo ex-presidente, é ungido pelo pai como candidato à Presidência”, comentou Bonetti, que lamentou perder um dos filhos de Bolsonaro para outro estado.
“Quando o Flávio é lançado, o Carlos já havia decidido seu caminho e não voltaria atrás. Do ponto de vista do Rio, adoraríamos que ele fosse candidato ao Senado, mas hoje essa ida para Santa Catarina é irreversível”, completou.
No último dia 11 de dezembro, Carlos Bolsonaro abriu mão do mandato de vereador carioca para migrar para Santa Catarina, considerado o estado mais conservador do país. Apesar do domínio do eleitorado de direita e dos aliados do ex-presidente Bolsonaro, Carlos tem dificuldades em se firmar no primeiro momento na disputa pelas duas vagas ao Senado. Isso porque outras lideranças da direita estão consolidadas no estado e despontam nas pesquisas, entre elas a deputada federal Caroline De Toni, também do PL.
Apesar da dificuldade inicial, Bonetti defende a pré-candidatura de Carlos como parte do acordo com o governador catarinense Jorginho Mello (PL). “Ele tem legitimidade para disputar, até porque tem o apoio do Bolsonaro, que é quem tem voto no Brasil. Dentro do arranjo do PL, quando o Bolsonaro veio para o partido, ficou combinado que uma vaga ao Senado seria indicada pelo presidente e a outra pelo governador.”
No Rio de Janeiro, o acordo é semelhante, com a vantagem de que o governador Cláudio Castro (PL), que encerra o segundo mandato em 2026, poderá disputar uma vaga ao Senado sem a concorrência dos integrantes da família Bolsonaro. Castro parecia fora do páreo, mas o sucesso da operação Contenção no combate ao Comando Vermelho aumentou a aprovação do governador fluminense e o colocou entre os pré-candidatos ao Senado pelo Rio cotados pela direita.
“A lógica do Rio é a mesma de Santa Catarina. O governador Cláudio Castro indica um nome, nesse caso ele mesmo, e o outro fica a cargo do Bolsonaro. Estamos aguardando a orientação do presidente e o que ele decidir será cumprido com entusiasmo. Dentro desse desenho, é natural que o governador seja peça central na articulação da vaga ao Senado”, disse Bonetti.
*Com informações da Gazeta do Povo.