A sensação que dá é de certo medo, de que algo poderá cair sobre a cabeça ou de que, por algum motivo, será preciso sair dali às pressas. Mas a sensação é muito mais fruto da imaginação do que devido a algum risco real, pois a obra – de construção do túnel duplo no morro do Vieira, em Jaraguá do Sul – é estável como as rochas por onde passa.
A abertura do túnel duplo, no bairro João Pessoa, faz parte do pacote de obras previstas no terceiro trecho (lote 2.2) de duplicação da BR-280, que começa no trecho 1, em São Francisco do Sul, terminando no quilômetro 74,6, em Jaraguá do Sul, no bairro Nereu Ramos.
Os dois túneis, quando prontos, terão uma extensão de 1.070 metros cada. Faltam 90 metros para a conclusão das escavações de cada túnel.
Na manhã desta terça-feira (3), a equipe do OCP acompanhou o trabalho dos profissionais da Cetenco, empresa contratada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para executar a obra.
A visita, a pedido do OCP, foi autorizada pelo engenheiro Antônio Carlos Gruner Bessa, chefe de serviço da Unidade Local do Dnit em Joinville.
Marte ou túnel?
Já vestidos com os equipamentos de proteção individual (EPIs), repórter e fotógrafo do OCP seguem túnel adentro. O primeiro impacto é o da vista, ao deixar a claridade do dia para acostumar os olhos ao nível mais baixo de luminosidade.
Aos poucos, o ruído também muda, para um barulho forte vindo do sistema de ventilação, que justifica o uso do protetor de ouvido.
Enquanto a luz natural vai baixando cada vez mais e a luz artificial, meio amarelada – às vezes mais vermelha, outras totalmente branca -, preenche o enorme espaço aberto entre solo e rocha, o cenário vai ganhando uma cor só: uma mistura de terra com concreto.
Contra a luz, as sombras humanas parecem seres de outro mundo. O cenário, monocromático, e o som que destoa dos barulhos cotidianos contribuem para a estranha impressão de estar pisando em Marte.

Marte ou túnel? | Foto Verônica Lemus/OCP News
Quase na metade do túnel uma pessoa menos inclinada às atividades físicas pode começar a cansar ou, ao menos, a considerar com um pouco de preguiça o tempo que vai levar entre chegar ao fim do túnel e, depois, voltar tudo de novo.
Uma saída pela direita dá um ar novo à obra. O caminho leva a um túnel paralelo, a passagem de emergência, que vai servir como uma rota alternativa em caso de acidente ou necessidade de evacuar o local.
Ali, acomodadas no chão, é possível ver as estruturas de aço que, quando instaladas, seguram o teto no trecho final dos túneis.
O técnico da Cetenco explica que o processo de abertura do túnel por meio de explosivos já encerrou. A técnica foi utilizada na parte rochosa do morro. No trecho final, diz o técnico, já é solo e a continuação da abertura passa a ser feita por máquinas.
Onde é rocha, o teto é mais ondulado, irregular. Na parte de solo, é possível ver o relevo das estruturas de aço que, como bem apontou o técnico, parecem costelas de algum vertebrado.

Estruturas de aço sustentam o teto e dão aspecto de “costela” ao túnel | Foto Verônica Lemus/OCP News
De volta ao túnel principal, chega-se mais perto do seu fim. O barulho de água torna-se mais perceptível.
Durante todo o caminho, é possível ver uma tubulação nas paredes, que faz parte do sistema de drenagem. Já um outro tubo, mais fino, leva ar comprimido até o fundo, para a operação de alguns modelos de máquinas.
Por fim, uma pequena subida antecede a porção final da parte já aberta do túnel, que termina em um paredão. Dali para a frente, faltam cerca de 100 a 200 metros para que a escuridão do túnel encontre a luz da saída, pelo outro lado.

Alguns metros separam o fim do túnel da luz da saída, do outro lado | Foto Verônica Lemus/OCP News
Dados
De acordo com o relatório do Dnit SC, do fim de agosto, as obras físicas no terceiro trecho de duplicação da BR-280 (lote 2.2) estão 33,76% concluídas.
Além do túnel duplo, o contrato prevê a abertura do contorno viário – entre o bairro Caixa D’Água em Guaramirim, até Nereu Ramos em Jaraguá do Sul -, com as obras de arte complementares, como viadutos e pontes.
Para 2019, o orçamento do governo federal para a duplicação é de R$ 89,1 milhões, englobando todos os trechos. Com o montante previsto para o ano, o resultado a ser alcançado segundo estimativa do Dnit inclui trabalhos como pavimentação, viadutos e serviços no túnel.

Foto Eduardo Montecino/OCP News
Neste lote, informa o órgão, não existem pendências ambientais ou indígenas. Porém, o orçamento disponibilizado para este ano permite apenas a continuidade da obra em um ritmo lento, “muito abaixo da necessidade e capacidade de execução dos serviços contratados”, diz o departamento, no relatório.
Para tentar acelerar o andamento das obras, o Fórum Parlamentar Catarinense mantém tratativas junto ao governo federal para uma suplementação de R$ 40 milhões para agilizar os trabalhos, até a liberação do orçamento de 2020.
Receba as notícias do OCP no seu aplicativo de mensagens favorito:
Telegram
Facebook Messenger