“Único caminho de mudar o país é o caminho da política”, diz Ana Amélia Lemos

Por: OCP News Jaraguá do Sul

20/03/2018 - 07:03

Jornalista, gaúcha, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) esteve em Jaraguá do Sul nesta segunda-feira (19) para encontro com correligionários e para participar da plenária da Associação Empresarial. A convite do OCP, a senadora participou de uma sabatina com a colunista Patrícia Moraes e equipe de reportagem.

Entre os destaques da conversa, Ana Amélia falou sobre o reconhecimento que recebeu no ano passado, quando foi eleita a melhor senadora no prêmio da 10ª edição do tradicional Congresso em Foco. “É simplesmente você fazer o seu dever de casa, cumprir com sua missão, como vocês fazem o seu trabalho”, comenta a parlamentar.

Em conversa transmitida ao vivo nas redes sociais pelos veículos da Rede OCP, Ana Amélia também falou sobre eleição e reforçou a importância e dever do envolvimento do eleitor no processo político, desde a definição de critérios sérios para a escolha de seus candidatos, até o acompanhamento do mandato. “Não chega a 30% as pessoas que lembram em quem votaram para deputado estadual”, constata a senadora.,

A parlamentar também fala sobre influência da Lava Jato no processo de renovação política, fake news, relações econômicas internacionais, entre outros temas.

OCP: Senadora, seja bem vinda à sede do OCP News em Jaraguá do Sul. A primeira pergunta é justamente sobre o prêmio que a senhora recebeu. Qual a importância de iniciativas como essa para incentivar a boa atuação parlamentar?

Ana Amélia Lemos: Primeiro, obrigada pela oportunidade de estar aqui com vocês. É simplesmente você fazer o seu dever de casa, cumprir com sua missão, como vocês fazem o seu trabalho. Acho que ser senador não muda [isso]. É claro, a diferença é que vocês fazem [seu trabalho] e quem paga o salário de vocês é o empresário, o empreendedor do ofício da comunicação, e os patrões de vocês são os ouvintes, os telespectadores, os leitores das colunas ou seguidores das redes sociais. No meu, são os eleitores, e quem paga o meu salário é o povo brasileiro, o povo é que paga o salário de um parlamentar. Então se você cumpre adequadamente a função, tendo em vista que você tem quem pague seu salário e que você tem que prestar contas do que você está recebendo, assim como vocês fazem na área da comunicação, não é diferente do Senado.

OCP: Sobre sua atuação no Senado, e sendo representante da região Sul, existem bandeiras que são defendidas em conjunto com os demais estados, Paraná e Rio Grande do Sul? Quais são, e por quê?

Ana: Faço parte como membro titular da Comissão de Relações de Defesa Nacional e precisamente tomei iniciativa de criar, junto com o presidente da comissão, que é o senador [Fernando] Collor (PTC-AL) e com os demais senadores que integram essa comissão, uma subcomissão para tratar de um acordo parlamentar Brasil e Argentina, que tinha sido extinto no governo da família Kirchner e agora a gente reativou. E por que isso? Por que nós temos muitas contradições, muitos interesses conflitantes dentro do Mercosul. Um dos pontos dentro do Mercosul é precisamente esse de defender os interesses do RS, de SC e do PR. A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], por exemplo, mudou um sistema de verificação e fiscalização de produtos de origem alimentícia na fronteira, para entrada e saída de produtos. Antes, ela fazia isso em 24h ou 48h. Agora, são sete dias. Olha o custo disso, em burocracia, mas o custo, sobretudo, para o consumidor que vai pagar aquele produto, o risco de você ter um produto perecível na fronteira, porque sete dias uma carga de banana não aguenta, e nem uma carga de batata inglesa, e outras cargas perecíveis, então nós trabalhamos intensamente para ver com a Anvisa de mudar urgentemente. E também toda pauta municipalista, toda pauta federativa, que é uma agenda que muda conforme as emergências.

OCP: As Fake News são um problema para todos e também no meio político. Tivemos o exemplo polêmico nos Estados Unidos, em que notícias falsas e manipulação nas redes sociais influenciaram nas eleições de 2016. O que mais preocupa nesse sentido? Acha que o Brasil está propenso às fake news nas eleições deste ano?

Ana: Eu fui vítima das fake news nas eleições de 2014, quando um adversário se valeu delas para fazer um ataque calunioso, me tirando da vitória. Felizmente o Tribunal Superior Eleitoral criou um grupo de trabalho para atender a isso, mas eu tenho tido muito cuidado, pois as pessoas, até mesmo desavisadamente acabam reproduzindo essas falsas notícias. Um exemplo simples aconteceu comigo recentemente. Recebi uma gravação de alguém que, supostamente, estava fazendo votações pelos deputados no plenário da Câmara Federal. E isso não tem como ser real, hoje o sistema de votação é todo digital, inclusive com solicitação de senha e impressão digital. Muita gente tem distribuído notícias falsas como verdade. Recentemente, a vereadora do Rio Marielle Franco, morta a tiros, foi vítima de falsas notícias. Recebi uma foto dela no colo de Marcinho Vp. Eu suspeitei e analisei melhor, e não era a mesma pessoa. Sou adversária das ideias da Marielle, mas não posso ser irresponsável e prejudicar a imagem de alguém. Temos que ter cuidado, se não queremos que aconteça com a gente, não podemos permitir que aconteça com os outros.

OCP: O governo federal recentemente admitiu a possibilidade de que o orçamento para 2019 não atenda à chamada regra de ouro, sendo necessário congelar investimentos ou contrair dívida para pagar despesas correntes. Essa situação não coloca em risco o ciclo de recuperação do país?

Ana: Nós tiramos Dilma Rousseff por causa das regras de ouro. Eu acho que tem que fazer qualquer coisa, menos mudar a regra de ouro. Por que seria um casuísmo vergonhoso, eu que votei sou totalmente contra mudar a regra. Por que foi que fizemos isso? Foi com base na lei de responsabilidade fiscal que nós nos fundamentamos para retirar o mandato de uma presidente. Agora, o sucessor vai repetir o mesmo erro, para que ele não tenha um processo de impeachment ele vai mudar a regra? Não, alto lá. Faça o que tenha que fazer, corte, corte o gasto que tem, desnecessário, supérfluo, nas coisas que pode cortar e trate de respeitar a regra de ouro. Pronto, é isso. Dona de casa, no orçamento familiar, perdeu emprego, cortaram a receita da família? “Pera aí, não vamos gastar, não vamos trocar de carro, não vamos comprar uma geladeira, vamos esperar até melhorar a situação”. O setor público tem que ter competência, tem que ter responsabilidade com a gestão. Sou totalmente contra mudar a regra de ouro da gestão, porque nós cassamos uma presidente com base nessa regra e mudar ela para ajeitar as contas e a contabilidade não é uma matéria justa, nem correta, nem responsável.

“O setor público tem que ter competência, tem que ter responsabilidade com a gestão”, diz Ana Amélia | Foto Eduardo Montecino/OCP

OCP: Em diversos discursos a senhora destaca que a segurança é um ponto essencial. Também defendeu a intervenção federal frente às críticas da oposição, pergunto, o que fazer no âmbito federal para melhorar a segurança do país? Qual sua posição a respeito da redução da maioridade penal e revogação do estatuto do desarmamento?

Ana: São temas que estão na cabeça do Brasileiro, o rio Grande do Sul foi o estado com maior índice de rejeição ao estatuto do desarmamento por ser um estado legalista, um estado com armas registradas. Havia clubes de caça e pesca que controlavam as épocas, respeitando fases de reprodução e isso não acabou com a fauna do RS, não que eu seja uma defensora da caça. As fábricas de armas são no Rio Grande do Sul e temos essa cultura. Jaraguá do Sul é segura pois as entidades, em conjunto com as policiais, se organizam para isso. As empresas investem em segurança e vai da educação da população, as pessoas se ajudam, a história da arma é cultural, não é admissível que um agricultor em um sítio afastado, sem nenhuma proteção ou rondas da polícia seja assaltado por um bando armado com um risco de estupro ou latrocínio sem que ele tenha em sua casa uma arma para se defender. Temos que analisar isso de forma cuidadosa. Sou a favor da redução da maioridade penal. Se um jovem de 16 anos vota e decide o futuro do país e de sua cidade ele também tem que assumir suas responsabilidades. É impossível que um guri que acessa a internet e faz um aplicativo não saiba diferir o bem ou o mal. Vivemos uma inversão de valores onde em geral em escolas, principalmente públicas, o aluno bate no professor, que é um ser sagrado, e o pai vai para a escola e defende o filho sem saber o que ocorreu. Qual educação ele está dando para esse filho? Estudei em escola pública e tive uma grande educação, fui numa escola no Japão e não há funcionários para limpeza pois os alunos limpam, fui em uma escola em Brasília e haviam dois funcionários só para limpar a classe pois os alunos jogavam tudo no chão, isso me choca.

OCP: Na semana passada a morte da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, ganhou repercussão internacional. Sendo a senadora também uma representante mulher na política, como se sente em relação a isso?

Ana: Acho que o debate tem dois vieses, o dela é um caso diferente porque ela está numa zona conflagrada, o Rio de Janeiro é um caso à parte, em que o crime organizado contaminou as instituições de segurança – polícia militar, polícia civil. Também não quero generalizar, porque tem gente muito séria e tem muito policial militar morrendo assassinado. Também tem que avaliar a pauta em que Marielle estava envolvida. Ela denunciava a milícia, essas execuções, tanto que uma identificação da arma da munição que a matou foi uma munição que estava em poder do crime organizado e que teria sido a mesma usado na maior chacina de São Paulo. Então há uma ligação entre essas questões. Agora, a mulher na política hoje está muito mais voltada às carreiras de Estado, concurso do Ministério Público, Judiciário. Hoje a procuradora-geral da República é uma mulher, a presidente do Supremo Tribunal Federal é uma mulher, a presidente do STJ [Superior Tribunal de Justiça] é uma mulher [entre outras]. Que carreiras são essas? Qual a via de acesso? Os concursos públicos. A mulher estuda muito, se habilita e tal. A carreira política, como de vereadora, de deputada, de senadora, é uma carreira de risco, não o risco da morte, é o risco de que nós não temos certeza se vamos entrar, se os partidos que estamos filiados vai nos ajudar. Eu acho esse negócio de cota, dos 30% [de candidatas mulheres], um faz de conta. Porque aí bota lá na lista de nominata, só que os partidos não dão nenhuma condição para as mulheres serem candidatas. Claro quando tem uma figura que tem nome, é conhecida, o partido se vale dela, mas quando ela não tem isso, mas ela precisa, ela é líder comunitária, ou tem boa transição em alguma área, como cultural ou econômica, o partido não faz, isso é, tem que se virar, aí o espaço fica mais curto.

OCP: A senhora esteve no município em 2012 na campanha de Dieter Janssen à Prefeitura. Assim como você, ele tem uma pauta em defesa de reformas no setor público, transparência, desburocratização e é símbolo da ficha limpa. Na sua opinião, o eleitor também tem um dever de se informar, e fazer o voto dele fazer a diferença?

Ana: Claro, ele tem que olhar, quem é esse cara? Quem é o Dieter, que você citou nosso prefeito, quem é Ana Amélia, quem é o candidato de qualquer partido? Seja PT, PMDB, PSDB, PTB (…) Olhem quem são essas pessoas. Se já estão em mandatos, o que esse deputado, de a, b, c ou d partido, fez? O que ele pode fazer mais? Ele é ficha limpa? Ele não está envolvido em nenhuma maracutaia, nenhuma Lava Jato? Às vezes me convidam para falar [em eventos], chego lá e faço uma provocação, quem é que lembra em quem votou para deputado estadual? Não chega a 30% das pessoas que lembram. Isso é uma revelação de que ele votou por alguma razão que ele sequer lembra do nome, isso um péssimo sinal. Como ele vai cobrar o exercício do mandato daquele parlamentar que ele votou? Votou porque amigo pediu? Porque é parente de não sei quem? Não, ele [eleitor] tem que ter um critério, como de qualidade.

OCP: Ainda no sentido da recuperação do país, o Brasil tem passado por dificuldades sucessivas em alguns setores do comércio exterior, com as barreiras tarifárias para o aço, a perda de exportações de carne por causa das revelações da Carne Fraca e os prejuízos acumulados pela Petrobras. O que está sendo estudado para incentivar a economia e controlar essas perdas?

Ana: Eu tenho falado muito com o ministro Blairo Maggi [ministro da Agricultura]. Eu acho que dessa limpeza, essa depuração da segurança da defesa sanitária, o que ficou em cheque não foi o sistema, mas os agentes que praticaram corrupção. Foi corrupção. O cara fazia o exame no laboratório que se vendeu para dar um laudo falso sobre determinado componente que não podia ter. Isso é corrupção. É corrupção do agente que libera uma carga que não pode ser liberada. Isso tem que ser banido. Porque o sistema brasileiro de defesa sanitária é muito bem feito. Nós temos que depurar para salvar a galinha dos ovos de ouro. De onde vem esse superávit comercial brasileiro? Dessa cadeia produtiva da carne! Bovina, suína, e de frango. Nós somos os maiores produtores e exportadores dessa cadeia, que é a segunda cadeia que mais vende depois da soja. Nosso superávit comercial está sustentado nisso. Temos que cuidar disso, com esse zelo, pois hoje, com o mundo globalizado, com a concorrência e as proteções que o mercado tem, qualquer deslize que nós fizermos será motivo para fechar a porta para aqueles produtos. Agora, também não podemos ser muito bananas de baixar a cabeça com o que não merece. O caso Estados Unidos, Brasil, aço e a sobretaxa que o senhor [Donaldo] Trump [presidente dos EUA] fez com o aço e com o alumínio. O comércio global tem que ser toma lá, dá cá. Existe uma regra da Organização Mundial do Comércio que regulamenta o comércio mundial e que estabelece, por exemplo, você não pode ter um sistema de cotas entre países, a não ser que você faça fora da cobertura da OMC. Porque unilateralmente não pode. E ele não pode, então Brasil junto com os outros países que são lesados com isso vai na OMC fazer um painel para reclamar. O problema é que nesse caso o Brasil tem um grande aliado, e quem é o grande aliado? A indústria americana, de bens de capital, a indústria americana de automóveis. Porque eles é que precisam desse aço, e de onde ele vai buscar esse aço.

OCP: Falando sobre eleições, como incentivar a população, mas principalmente os jovens, a ir às urnas motivados, considerando tanta corrupção e promessas não cumpridas?

Ana: Eu percebo que há uma movimentação da sociedade, de vários setores, com a perspectiva de renovação, com o sentido de melhorar, de depurar o sistema político. Mas também não podemos pensar em “terceirizar a ética”, ou seja, não adianta querer que só os políticos sejam éticos se você não é ético. É preciso que a questão da ética seja percebida num valor intrínseco e indispensável, como um princípio de vida que não pode ser transferido apenas para os congressistas. Ninguém chega ao Congresso Nacional com suas próprias pernas, chega porque alguém mandou, a sociedade mandou. E aí a relevância do voto. A ética da sociedade depende da conveniência, mas para mim é preciso ser ético como princípio de valor, como comportamento. Que moral tem a pessoa que faz alguma proposta errada, exigir que o Congresso tenha ética? A ética não pode ser terceirizada. Ou somos ou não somos, e se não somos não temos autoridade moral de cobrar.

” Eu percebo que há uma movimentação da sociedade, de vários setores, com a perspectiva de renovação”, diz Ana Amélia | Foto Eduardo Montecino/OCP

OCP: A senhora acredita que a Lava Jato vai mudar a política e a gente vai ter renovação na eleição?

Ana: Eu acredito muito, eu confio. A Lava Jato foi um divisor de águas na política brasileira e um divisor de águas na crença da sociedade que não é só pobre que vai para cadeia, mas pessoas famosas e influentes estão algumas ainda na cadeia, e isso é a melhor coisa que aconteceu nesses quatro anos de Lava Jato no Brasil. Felizmente as instituições estão muito fortes e isso não abalou a questão da estrutura, mas mostrou que mais uma vez o eleitor é chamado a cumprir com um dever fundamental, saber fazer escolhas, e que o único caminho de mudar o país para melhor é o caminho da política e da liberdade, fora desse não há salvação.

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