O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou nesta sexta-feira (30) que o ex-presidente Jair Bolsonaro “jamais mencionou qualquer tentativa de ruptura” institucional no país nas conversas entre os dois após o segundo turno da eleição de 2022. Em depoimento no Supremo Tribunal Federal, no processo da suposta tentativa de golpe, Tarcísio disse que Bolsonaro estava “triste” e “resignado” na época.
“Jamais, nunca”, disse o governador ao ser questionado pela defesa de Bolsonaro se teve conhecimento de algum plano ou intenção de ruptura. “Assim como nunca tinha acontecido durante meu período de ministério, da mesma forma nessa reta final, nas visitas que fiz, nas conversas, jamais me mencionou qualquer tentativa de ruptura. O presidente Bolsonaro estava triste, resignado. Estava com erisipela muito grave, inclusive com um acesso no braço para medicação intravenosa. Conversamos várias coisas e esse assunto nunca veio à pauta”, detalhou Tarcísio.
O governador disse que esteve com Bolsonaro em Brasília nos dias 15 e 19 de novembro e em 10, 14 e 15 de dezembro de 2022. Nos encontros, relatou, Bolsonaro teria demonstrado preocupação com o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O único comentário era de lamentar e preocupação que a coisa desandasse. No governo, desde 2019, houve muitas reformas e depois o país passou por várias crises, como o rompimento de uma barragem Brumadinho (MG), a pandemia da Covid, crise hídrica e a guerra na Ucrânia. “Mas o governo terminou gerando emprego, crescendo, com superavit. E havia preocupação com o futuro do país”, contou.
Tarcísio ainda destacou que, dez dias antes de sua primeira reunião com Bolsonaro após a eleição após a eleição, o ex-presidente já havia determinado que o então ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, coordenasse os trabalhos de transição para o governo Lula. Também lembrou de uma live que Bolsonaro fez em 30 de dezembro, antes de viajar aos Estados Unidos. O governador destacou que, nessa transmissão, Bolsonaro disse “que nada termina no novo governo” e que “a vida continua”.
O governador ainda negou conhecimento sobre qualquer relação do ex-presidente com os atos de 8 de janeiro. “Não, nenhum. Presidente sequer estava no Brasil”, disse.
Também prestou depoimento nesta sexta o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro e responsável pela transição para o governo Lula. Ele relatou que, após o segundo turno, o ex-presidente determinou que ele fizesse a transição “da melhor maneira possível”. Mas lembrou que comentou com Bolsonaro que percebeu uma falta de interesse da equipe de Lula com a situação do país.
“Algumas das situações da transição nos decepcionou, como uma falta de interesse da situação do país. Comentei com ele”, disse Ciro, numa referência à equipe de Lula, ao ser questionado sobre como Bolsonaro acompanhou o período da transição. Acrescentou depois que o ex-presidente “em minuto nenhum, quis obstaculizar qualquer “tipo de trabalho da transição”.
Ciro Nogueira ainda relatou que, após a derrota de Bolsonaro para Lula, começaram a ocorrer paralisações de caminhoneiros e que, por isso, ele sugeriu que o ex-presidente fizesse uma entrevista coletiva de imprensa para que anunciar a transição e, com isso, desmobilizar o movimento.
“Na época, dia que iniciamos, foi no período que estava havendo a greve dos caminheiros, e precisava de uma fala do presidente, para que caminhoneiros desobstruíssem. Pedi que ele fizesse uma declaração e iniciasse a transição dessa forma”, relatou Ciro Nogueira.
A entrevista à imprensa foi realizada em 1º de novembro de 2022, logo após o segundo turno, e ficou conhecida pela frase dita por Bolsonaro logo no início, quando estava cercado por ministros do governo: “vão sentir saudade da gente”.
Depoimentos de testemunhas terminam na segunda-feira
A fase de depoimentos termina na segunda-feira (2). Depois, as defesas poderão produzir provas que tentem demonstrar a inocência dos réus. Na fase seguinte, eles mesmos vão prestar depoimento.
Depois, são apresentadas as alegações finais, em que as defesas e a acusação (exercida pela Procuradoria-Geral da República) se manifestam no processo com suas conclusões. Por fim, será realizado o julgamento. A perspectiva, no STF, é que o processo termine ainda neste ano.
* Com informações da Gazeta do Povo.