Prefeitos apontam erros e acertos dos primeiros 100 dias de governo Bolsonaro e Moisés

Por: Elissandro Sutil

13/04/2019 - 08:04 - Atualizada em: 13/04/2019 - 08:44

Completando os primeiros 100 dias dos novos governos federal, de Jair Bolsonaro (PSL), e estadual, de Carlos Moisés (PSL), os cinco prefeitos da microrregião de Jaraguá do Sul avaliam os principais erros e acertos das novas administrações.

Na esfera federal, é quase consenso entre os prefeitos que o governo precisa alinhar as estratégias e comunicação entre sua equipe de ministros e também com os próprios membros da família Bolsonaro. O vai e vem de anúncios do governo e o recuo nas medidas anunciadas é criticado pela maioria dos gestores municipais.

Já no âmbito do Estado, a principal avaliação é de que faltaria ao governador Carlos Moisés mais atitude e mais presença e posicionamento públicos na condução do cargo.

Por outro lado, os prefeitos concordam que tanto Bolsonaro quanto Moisés – que é estreante na política – têm à frente grandes desafios em seus governos.

Antídio Lunelli confia na direção do governo federal, principalmente na economia

O prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli (MDB), vê a chegada de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República como a mudança no governo federal de que o Brasil precisava, trazendo uma proposta de gestão mais alinhada ao pensamento da direita.

No entanto, acredita existir muita polêmica sobre a figura de Bolsonaro, pelas decisões que tem a responsabilidade de tomar a fim de implantar sua proposta de governo.

“Eu entendo de uma forma muito fácil que seria de se resolver [as questões] se houvesse vontade política. Só que infelizmente nós temos muitos partidos com quem conversar no nosso país, a democracia traz isso também, mas existe muita polêmica”, avalia o prefeito.

Um exemplo é a discussão em torno da reforma da Previdência. Embora discorde de alguns pontos colocados na proposta, Lunelli defende uma maneira mais prática e objetiva para solucionar os problemas e implementar as reformas necessárias, à exemplo da gestão no setor privado.

Apesar das dificuldades, o prefeito tem boas expectativas sobre o governo Bolsonaro, principalmente pela disposição a uma abertura da economia brasileira.

“Nós precisamos manter a relação com os nossos países compradores, exportadores”, ele diz.

Governador precisa “sair da toca”, diz Lunelli

Quanto ao governo do Estado, a impressão de Lunelli é que o governador Carlos Moisés (PSL), ao assumir o cargo, possivelmente não tinha a noção exata da “grandiosidade e talvez até da responsabilidade disso tudo”, diz o prefeito.

Mas a composição de uma equipe técnica em seu governo, ele afirma, é o que deve compensar certa falta de conhecimento na gestão da máquina pública.

No caso do deslizamento de parte da SC-108, em Guaramirim, o prefeito acredita que talvez por medo o governo do estado teria buscado resolver a situação por meio do governo federal.

“Mas nosso governador está tomando pé da situação, ele tem seus assessores, e acredito que será também um governo que deverá dar certo, por ser um governo bastante técnico”, diz Lunelli.

O prefeito acredita que também faltaria à Moisés estar mais à frente das situações. “O governador tem que sair da toca, ele tem que se apresentar, tem que mostrar a sua cara, dizer para o que veio”, completa.

Para Luís Chiodini, compromisso com municípios é um dos pontos positivos do governo federal

O prefeito de Guaramirim, Luís Chiodini (PP), demonstra otimismo quanto ao governo Bolsonaro, principalmente pela sinalização do presidente ao compromisso de fortalecer os municípios – revendo o pacto federativo -, e ao de fazer uma gestão idônea, “sem corrupção e com transparência”.

“Se ele conseguir fazer isso, a médio prazo, porque a curto prazo ele não vai conseguir – embora algumas ações pequenas ele já demonstra essa postura de falar e fazer realmente, ainda e preocupado com os cofres públicos -, aí eu também acho que vai conseguir ter essa administração [que pretende]”, diz Chiodini.

Por outro lado, o prefeito conta que os diversos anúncios do presidente ou de sua equipe, seguido de um recuo depois de uma reação negativa – popular ou por parte de pressões políticas -, é o que o deixa “um pouco desconfiado” como gestor público.

“Uns teatrinhos políticos que não agradam quem entende da política e a própria população, porque acho que a população brasileira almeja alguém que seja um líder de fato, e que bata o martelo em suas decisões e cumpra com as decisões tomadas”, afirma.

Impasse sobre SC-108 pesa em avaliação

Ao avaliar os primeiros 100 dias do governo Carlos Moisés, o prefeito de Guaramirim não deixa de levar em conta a demora na resolução do impasse para o reparo da SC-108, após deslizamento em fevereiro.

Como prefeito da cidade, Chiodini se manifesta de acordo com o sentimento da população. “Eles estão revoltadíssimos com essa situação que ocorre na SC-108, onde 52 dias depois do deslizamento e soterramento de casas ainda está uma incógnita”, afirma.

Apesar do tratamento dado pela equipe do governo ao Município, satisfatório na avaliação de Chiodini – “eles conversam, dão resposta” -, por outro lado, o governo ainda não deu uma data certa para a liberação do dinheiro para recuperação da rodovia, pontua o prefeito.

Quanto aos demais posicionamentos do governador, Chiodini cita como positivos o consórcio com as associações de municípios para aquisição de usinas de asfalto para pavimentação de ruas, e a transparência na cobrança ou isenção de impostos – resultando na padronização dos incentivos às empresas de um mesmo setor.

“Em termos de governo, de transparência com a população, eu avalio que, se conseguirem efetivar isso, terão sucesso em administrar o governo do Estado”, declara.

Armindo Sésar Tassi aguarda reforma tributária

Prefeito de Massaranduba, Armindo Sésar Tassi (MDB) também se mostra confiante em relação ao governo Bolsonaro, pela sinalização do presidente em fortalecer financeiramente os estados e, principalmente, os municípios.

Além do compromisso do próprio presidente, o prefeito destaca o pronunciamento do ministro da Economia, Paulo Guedes, durante a Marcha dos Prefeitos em Brasília, em que garantiu apresentar a reforma Tributária.

“Ele quer fazer já esse ano, mas claro que vai depender também dos parlamentares. A reforma Tributária vai ajudar muito os municípios e os estados, para que tenham mais recursos, já que a realidade dos problemas está nos municípios, a gente está no dia-a-dia junto da comunidade”, diz o prefeito.

Governo Moisés acerta em tratamento dado aos prefeitos, avalia Tassi

Assim como vê no governo federal uma abertura para os municípios, Sésar Tassi faz a mesma leitura a respeito dos primeiros 100 dias do governo de Carlos Moisés, embora o Estado esteja sem poder de investimento, como o próprio governador admite aos prefeitos, observa Tassi.

Um dos principais pontos positivos da gestão de Moisés seria o contato e tratamento dado aos gestores municipais. Mesmo o governo anterior sendo do MDB, partido do prefeito, Tassi considera que o atendimento na atual gestão tem sido melhor e mais presente.

Tassi pondera que ainda é cedo para mais avaliações, mas diz ter esperança “muito boa” de que o Estado irá se recuperar financeiramente, e atribui tal responsabilidade também ao governo federal, pelo poder econômico de Santa Catarina.

“O governo federal também tem que dar sua parte para o estado. Nós somos o sexto estado que mais arrecada, mas o vigésimo terceiro em retorno dos recursos”, o prefeito destaca.

Conflito interno prejudica governo federal, analisa Osvaldo Jurck

O prefeito de Schroeder, Osvaldo Jurck (PSDB), vê nestes primeiros momentos de governo Bolsonaro muito conflito interno entre a equipe. “Ninguém se entende”, ele diz. Outro ponto que prejudica a governabilidade, para o prefeito, é a interferência dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

“É uma coisa interna deles que eles tinham que ver, eles não estão se entendendo, isso reflete na área educacional, nas áreas que deveriam andar”, considera o tucano.

Para Jurck, falta mais conversa e consenso entre a equipe, que deveria canalizar os anúncios oficiais de governo através de assessoria, e também manter as decisões tomadas.

Quanto às medidas e ações do governo, o prefeito diz que a expectativa é grande sobre o governo, não só para os gestores públicos, mas também para o setor produtivo, principalmente sobre a reforma previdenciária.

Há ansiedade para uma definição da proposta e em saber de que maneira ela vai ocorrer, diz Jurck, “para que o país possa começar de novo a ganhar mais credibilidade nesse sentido, porque todo mundo está numa insegurança”.

Jurck tem incerteza sobre reforma Administrativa

Entre os prefeitos da microrregião, Jurck foi um dos que se mostrou preocupado com a reforma Administrativa apresentada pelo governador Carlos Moisés à Assembleia Legislativa.

O tucano teme que a Saúde e a Educação fiquem prejudicadas, com a desativação das Agências de Desenvolvimento Regionais (ADRs), caso o governo não mantenha certa estrutura em funcionamento.

“Acho que isso é o primordial, e não sei se ele já tem uma definição [sobre isso]. Resumindo, a gente está muito numa incerteza porque não se sabe exatamente de que maneira vai acontecer essa reforma Administrativa”, afirma Jurck.

João Carlos Gottardi aprova primeiras ações do governo federal, mas aponta erros

A recuperação na credibilidade do país seria um dos primeiros resultados positivos do governo Bolsonaro, na avaliação do prefeito de Corupá, João Carlos Gottardi (PSD).

Para ele, as propostas de reforma da Previdência, reforma política e a revisão do pacto federativo são fatores discutidos pelo governo que precisam caminhar para a retomada do país.

“E eu vejo que ele [presidente] defende isso. Claro, vamos depender de deputados, senadores, mas eu vejo que o governo tenta ser mais alinhado com os municípios, e vejo isso de uma forma positiva”, diz o prefeito.

Por outro lado, uma das falhas do governo estaria nas relações diplomáticas com outros países. Para o prefeito, o presidente “não tem nada que ficar se intrometendo em briga de Estados Unidos com Israel”.

“O Brasil tem que cuidar primeiro dos seus problemas. Brigando, ele está perdendo crédito lá fora. O Brasil tem que ser um país amigo de todos os países”, o prefeito defende.

Moisés estaria errando ao lidar com burocracia, diz prefeito

Quanto ao governo do Estado, o prefeito avalia que Moisés conseguiu cumprir com algumas de suas metas, como a de eliminar as ADRs, “que eram cabide de emprego e não serviam para nada”, opina Gottardi,

Ele defende que alguns cargos técnicos, como de engenheiros, devem continuar existindo, mas avalia que a maioria se tratava de cargos políticos e de “pessoas derrotadas em eleição lá dentro ocupando cargo”, declara o prefeito.

No entanto, o governo ainda estaria lento e precisaria “acordar para algumas coisas”, como no caso do impasse da SC-108. Gottardi pondera que a proposta de Moisés seria fazer um governo não burocrata, mas na prática estaria sendo.

Principalmente em situações de emergência, o prefeito defende que é preciso deixar de lado a burocracia e agir, assim como teria agido logo ao assumir o comando do Município, em 2017, quando municipalizou a escola São José.

“Eu bati no peito e corri o risco de contratar os professores e depois eu expliquei para a promotoria, que concordou que fiz certo e para atender os alunos. É isso que está faltando para o governador”, considera o prefeito.

 

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