Apesar da movimentação da Prefeitura de Jaraguá do Sul e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de revisar a normativa que detalha os critérios de tombamento do Rio da Luz, o que possibilitaria que parte do bairro pudesse ser “destombado”, grande parte dos moradores não aprova a ideia.
No fim de semana, a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, confirmou que o órgão está trabalhando para entregar em breve a nova normativa.
Apesar de Kátia destacar que houve um pacto entre a comunidade, a Prefeitura e o Iphan, o presidente da Associação de Moradores do Rio da Luz Onisio Glatz, enfatizou que as pessoas do bairro querem um melhor esclarecimento deste processo.
“Nunca fomos chamados pelo Iphan para conversar sobre um pacto. Eles não nos procuraram para combinar alguma coisa. Se for para alterar, ou mexe em tudo, ou não mexe em nada “, destaca.
Moradora do bairro, Cláudia Piske, de 45 anos, relata que a comunidade ficou sabendo do tombamento do Rio da Luz apenas seis anos depois de ter começado em 2007.
Segundo Cláudia, os moradores da localidade querem restrições menos rígidas quanto às obras de reformas e construções em todo o bairro. Ela destaca que o tombamento manchou a imagem do bairro, onde diversos locais foram abandonados pela rigidez e alto custo para reformar.
“Eu tenho dois ranchos velhos que não quero mais mantê-los, só que não posso derrubar. Seria um terreno que eu poderia utilizar para outra coisa”, explica.

Maria mostra um dos locais abandonados no Rio da Luz | Foto Eduardo Montecino/OCP News
Também morador do Rio da Luz Loribert Rahn, de 67 anos, afirma que as exigências para reformar ou levantar uma casa fazem as pessoas abandonarem o bairro.
“Hoje em dia, é mais prático para os jovens irem para o Centro do que construir algo aqui, onde não podem fazer a casa do jeito que quiserem”, explica.
Normativa deve ser definida nos próximos dias
O vice-prefeito de Jaraguá do Sul Udo Wagner (PP), deve ir a Brasília esta semana para tratar dos últimos detalhes para aprovação da nova normativa.
Esse processo foi iniciado há mais de dois anos e pretende garantir a preservação sem inviabilizar a área em que não tem as características trazidas pelos colonizadores. O conjunto rural de Rio da Luz e áreas de entorno envolve atualmente 49 quilômetros quadrados, que deve ser diminuído com a revisão da portaria.
A Prefeitura afirma que o tombamento permite que o Iphan possa fazer captação de recursos públicos para execução de obras e outras atividades relacionados à preservação do Conjunto tombado. Um desses exemplos citados é a restauração da Casa Rux e a atual busca do Município para captar cerca de R$ 25 milhões de reais para obras de infraestrutura urbana no bairro.
“A Associação de Moradores não é contra a Prefeitura, o Iphan ou tombamento, nós somos a favor da comunidade do Rio da Luz. Queremos mais informações sobre esse tema”, esclarece o presidente Onisio Glatz.
Reforma em cemitério também gera reclamações
As obras de conservação e preservação do cemitério do Rio da Luz II era uma demanda antiga da comunidade. Os trabalhos, que iniciaram no início de 2018 e terminaram este ano, foram apontados como uma das situações positivas do tombamento pela Prefeitura, já que a obra recebeu cerca de R$ 177 mil do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Arqueológico, Artístico e Natural.
Porém, segundo os moradores do bairro, é difícil perceber que o local passou por melhorias. De acordo com Almiro Weiss, alguns túmulos foram mexidos e parte deles foi jogada no gramado, que não pode ser aparado por causa da reforma.

Cemitério do Rio da Luz continua em mal estado | Foto Eduardo Montecino/OCP News
“Eles colocaram uma proteção para as pessoas não caírem, mas essa proteção impede a gente cuidar da grama”, lamenta.
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