Líder yanomami acusa governo de priorizar apenas uma região na distribuição de recursos; entenda

Agência Senado

Por: Pedro Leal

03/07/2023 - 13:07 - Atualizada em: 03/07/2023 - 13:43

Mantendo uma força-tarefa em andamento na Terra Indígena Yanomami desde 20 de janeiro, após decretação de emergência em saúde pública, o governo federal tem anunciado ações para aumentar a distribuição de alimentos e medicamentos e ampliar o atendimento médico aos indígenas. Em paralelo, há ações coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para afastar os garimpeiros da região.

As ações, no entanto, não estão se mostrando suficientes segundo lideranças indígenas. As informações são da Gazeta do Povo.

“O número de óbitos que se mantém alto como antes mostra que não está havendo ações de saúde que atendam às necessidades das nossas aldeias”, diz Alberto Brazão Goes, liderança yanomami e ex-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), que enxerga favoritismo nas ações.

Para Goes, há concentração dos serviços de assistência do governo na área indígena de Surucucu, localizada em Roraima, enquanto as demais regiões permanecem em situação semelhante a antes do início da força-tarefa. Ele também vÊ morosidade do governo em combater o as facções do crime organizado, como PCC e Comando Vermelho, que comandam ações de garimpo e usam a região para o escoamento de drogas.

Para o líder yanomami, um dos motivos para a concentração de ações na área de Surucucu – que foi escolhida, por exemplo, para a instalação do Centro de Referência em Saúde Indígena, inaugurado em abril – é que o atual presidente do Condisi Yanomami, Júnior Hekurari, pertence à região.

“Essa coordenação emergencial deveria ser ampla, nos dois estados, mas estão focando na região de Surucucu. Lá sim, aliviou bastante. Mas os óbitos, principalmente de crianças, continuam subindo porque outras regiões do território continuam esquecidas”, lamenta.

Hekurari, que também é presidente de uma ONG, foi um dos personagens com maior visibilidade no início do ano, quando a crise na Terra Yanomami foi exposta.

Segundos dados do Ministério da Saúde divulgados no sábado (24), 129 indígenas que residem na Terra Yanomami já morreram em 2023; há vários registros de causas de morte evitáveis, como desnutrição, pneumonia e tuberculose. A título de comparação, ao longo de todo o ano de 2022, foram registradas 209 mortes de yanomamis. Em apenas seis meses já houve 62% das mortes contabilizadas no ano passado.

A falta de assistência nas demais localidades da região motivou uma decisão da Justiça Federal, proferida no último dia 19, que determinou que o governo Lula reduza a vulnerabilidade social de indígenas amazonenses que fazem longas jornadas até as cidades em busca de benefícios sociais, em condições de insegurança alimentar e com risco de morte.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).