O Itamaraty vetou a venda de 450 blinados Guarani, em sua versão ambulância, ao governo da Ucrânia. O negócio – uma das maiores transações na indústria de defesa brasileira – podia alcançar a cifra de R$ 3,5 bilhões, com R$ 180 milhões em royalties para o Exército brasileiro.
As informações são da coluna de Marcelo Godoy, no Estadão.
O veto veio após pressões por parte do Departamento de Assuntos Estratégicos, de Defesa e de Desarmamento, do Ministério das Relações Exteriores, que manifestou sua oposição ao negócio no fim do mês de maio, e por parte do PT.
A decisão foi mantida sob sigilo, mas acabou comunicada em junho à Iveco Defense Vehicles (IDV), cuja fábrica de Sete Lagoas (MG) produz o blindado.
Só depois disso é que os integrantes do Escritório de Projetos do Exército souberam informalmente da proibição.
Em 30 de maio, o chefe do Centro de Doutrina do Exército, o general Marcelo Pereira Lima de Carvalho, estabeleceu os 110 requisitos operacionais absolutos e uma dezena de requisitos desejáveis para a viatura blindada na versão ambulância.
O Exército pretendia usar o dinheiro dos royalties para desenvolver novas versões do blindado. O veto foi revelado pelo repórter Paulo Roberto Bastos Jr., da revista Tecnologia & Defesa.
Os blindados seriam pintados nas cores do serviço de emergência e resgate ucranianos para transportar feridos e civis, a fim de retirá-los em segurança das zonas de combate. O pedido da versão ambulância seria uma forma de receber o equipamento sem se chocar com a política de neutralidade do governo do Brasil.
A negociação pelo ministério da Defesa, no entanto, ofendeu tanto ao adido especial do Itamaraty, o ex-ministro Celso Amorim, quanto ao presidente Lula, que chegou a classificar o negócio como “fake news”.
O blindado produzido pela IDV é um projeto do Exército. Ele tem motor argentino e suspensão alemã. E é parte do programa de modernização do Exército. A Força estima que o preço do protótipo da ambulância produzido pela Iveco deve ficar entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões – só o chassis do blindado custa R$ 6,1 milhões.
Com a produção em série – mais barata em razão do volume –, o Exército prevê que cada ambulância deve custar R$ 8 milhões. Atualmente, a Força usa os antigos Urutus EE-11 para a a mesma função.