Uma audiência pública irá debater os horários e impactos da circulação do trem em Jaraguá do Sul. O requerimento apresentado pela vereadora Natália Petry foi aprovado pela Câmara de Vereadores esta semana. A proposta é reunir representantes do poder público, da iniciativa privada e da população em geral para elencar opiniões e sugestões que ajudem a melhorar a mobilidade urbana dos locais de circulação dos trens.
“O foco [da audiência] é regulamentar os horários de passagem do trem, seja determinando horários específicos de passagem ou divulgando melhor os horários em que ele vai passar. Respeitamos a ideia de que o município se desenvolveu em volta dos trilhos e sabemos que haverão os prós e contras, por isso a participação da comunidade é fundamental”, comenta a vereadora.
Segundo Natália, apesar de este ser um debate amplo, é importante que venha à tona. “Temos que sentir o quanto essa situação incomoda. É um movimento para melhorar a vida na cidade. Sabemos que não vai ser fácil a negociação com a Rumo ALL, mas mesmo que demore, pelo menos a empresa irá presenciar o desconforto que a situação causa para muitos”, opina a vereadora, que já havia apresentando o requerimento no final do ano passado, mas devido agenda apertada da Câmara não houve tempo para avaliação. A Rumo ALL é a empresa responsável pela linha férrea na região.
A partir da audiência, que ainda não tem data prevista para ocorrer, caso houver necessidade segundo a população, poderá ser criado um projeto de lei que regulamenta os horários de circulação dos trens, a exemplo do que já foi realizado em Joinville, em 2014, pelo vereador Odir Nunes. A lei na cidade vizinha proíbe a circulação dos trens entre 6h e 8h, entre 11h30 e 13h30 e entre 17h e 19h.
Por lá, no entanto, o caso já sofreu várias reviravoltas. Conflitos com a legislação federal dificultam a aplicação da regulamentação na prática. No ano passado, a Rumo ALL entrou com uma liminar na justiça e conseguiu suspender a lei. “Estamos vendo qual será o próximo passo. Isso é um atraso para as cidades [da região], porque elas não ganham nada com isso, muito pelo contrário, só traz prejuízo, porque deixa as cidades paradas”, defende o vereador joinvilense Odir Nunes.
No próximo dia 25, Natália deverá se reunir com Odir Nunes para trocar informações a respeito da lei. Nunes deve ser um dos principais convidados da audiência a ser realizada em Jaraguá do Sul. A empresa Rumo ALL também foi convidada para participar da audiência.
População é a favor do debate
Por volta das 11h da manhã de ontem, o trem apareceu no Centro de Jaraguá do Sul. Levou cinco minutos para atravessar a região, como de costume. No papel, cinco minutos até pode parecer pouco. Mas é tempo suficiente para congestionar um bom trecho da Rua Reinoldo Rau, no cruzamento que fica ao lado da Praça Ângelo Piazera, e tirar a paciência de motoristas, ciclistas e pedestres. Enquanto esperava para retomar seu trajeto, o entregador dos Correios, Ricardo Silva, de 35 anos, afirmou que é preciso discutir o problema com cuidado. “É meio chato, trava tudo. Mas por outro lado entramos num dilema, porque o trem está aqui antes de a cidade crescer. Se formos ver, a cidade é que deveria se adaptar ao trem, até porque é um transporte importante para a economia”, opina o entregador.
Para a auxiliar de expedição Emília Moraes, de 22 anos, a ideia de delimitar a passagem do trem aos horários de menor movimento pode ser uma solução positiva. “Eu trabalho no primeiro turno, quando saio sempre pego o trem e preciso esperar muito tempo, em um horário ruim. É bem legal a cidade pensar em alguma solução”, acredita.
Enquanto esperava, o motorista Rodolfo Puttjer, de 23 anos, aproveitou para checar o celular e o itinerário do dia. Ele trabalha com a coleta de produtos por toda a cidade e é acostumado a “esbarrar” com o trem em diferentes horários do dia. “Acho muito ruim ter que esperar, ainda mais que fico o dia todo na rua. Mas não penso que seria necessário mudar os horários ou trajetos, o trem é importante para a região. Poderia resolver fazendo uma passagem por cima ou algo desse tipo nos lugares mais movimentados”, diz.
“Restrição prejudica trânsito de mercadorias”
A restrição da passagem dos trens em determinados horários por Jaraguá do Sul poderia trazer impactos para a economia de Santa Catarina e do país, afirma a Rumo ALL em nota. A empresa apontou, por meio da assessoria de imprensa, que o trecho é o único acesso da malha ferroviária ao Porto de São Francisco do Sul, considerado um dos mais importantes do Brasil. “Além de sobrecarregar o modal rodoviário, já que cada trem com 100 vagões retira mais de 350 caminhões das estradas”, completou a nota.
A vereadora Natália Petry reconhece a importância do transporte ferroviário mais defende a criação de um cronograma ou a divulgação dos horários. “Em outras épocas as pessoas sabiam quando o trem passaria, agora não só passa em qualquer horário, como para no meio da cidade. É preciso disciplinar”, avalia.
Contorno ferroviário pode virar encargo da Rumo ALL
Retirar os trilhos da área urbana de Jaraguá do Sul poderá ser um dos requisitos para a renovação da concessão ferroviária com a empresa Rumo ALL. Em reunião no ano passado, o deputado federal Mauro Mariani (PMDB) e o prefeito Dieter Jassen (PP) tiveram posicionamento de que a União pretende repassar os encargos da obra como exigência para estender o contrato com a empresa por mais 30 anos. O projeto do contorno ferroviário existe desde 2000, mas nunca saiu do papel. Na época, a obra era orçada em R$ 100 milhões.