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Folha de São Paulo: documentos mostram alerta da Abin a GSI e Ministério da Justiça sobre violência em 8 de janeiro

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Por: Pedro Leal

28/04/2023 - 09:04 - Atualizada em: 28/04/2023 - 09:12

Documentos obtidos pela Folha de São Paulo, divulgados em reportagem de Thaís Oliveira e Cézar Feitosa para o jornal nesta quinta-feira (27), mostram que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) enviou desde o dia 6 de janeiro alertas a Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) e ao Ministério da Justiça, já sob o comando de Flávio Dino (PSB), sobre a possibilidade de ações violentas e invasão a prédios públicos nos atos que ocorreriam dois dias depois, em 8 de janeiro.

Segundo o jornal, os informes foram enviados pela Abin à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional no dia 20 de janeiro.

Os informes são mantidos em sigilo.

Além do GSI, outros 13 órgãos receberam os comunicados, incluindo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, aponta o material que está em posse do Congresso.

No caso do Ministério da Justiça, os informes foram repassados desde ao menos o dia 2 de janeiro, recebidos pela Diretoria de Inteligência. No dia 6, a PF e a PRF também passaram a receber informes da Abin, já com menção à possibilidade de violência nos atos.

Segundo a Abin, o ex-ministro Gonçalves Dias recebeu ao menos três alertas em seu celular desde o dia 6.

A existência de alertas da Abin na véspera dos ataques foi revelada pela Folha em 9 de janeiro. Os documentos obtidos agora mostram os destinatários, horários e a íntegra das informações repassadas pela agência de inteligência.

Procurados, o GSI e a Justiça negaram ter recebido os comunicados. A defesa de Gonçalves Dias —o ministro pediu demissão no último dia 19— disse que não iria se manifestar.

A primeira mensagem, enviada pela Abin às 19h40 do dia 6, já dizia que havia o “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”, a intenção de invadir o Congresso e o deslocamento de pessoas potencialmente armadas.

Ex-Ministro

Na manhã dos ataques, de acordo com o documento da Abin, Dias recebeu o primeiro aviso às 8h53 diretamente em seu celular. O texto dizia que cerca de cem ônibus haviam chegado a Brasília para “os atos previstos na Esplanada”. A mensagem foi enviada somente para o ex-ministro e não aos demais órgãos.

Às 9h, um segundo alerta foi enviado ao ex-ministro, à diretoria de Inteligência da pasta de Dino e aos órgãos do governo do Distrito Federal.

O comunicado chamava atenção para o “incremento significativo no número de barracas” no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército de sábado para domingo.

Às 10h, a agência de inteligência enviou duas mensagens, desta vez a todas as autoridades que acompanhavam as atualizações, informando que havia “convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas”.

Às 13h23, quando a Abin já alertava sobre a presença de pessoas que se diziam armadas, o secretário de Segurança Pública em exercício do DF, Fernando de Sousa Oliveira enviou um áudio ao governador Ibaneis Rocha (MDB) em que dizia que estava “tudo tranquilo”, e que os manifestantes tinham “topado” caminhar em direção à Esplanada de forma “pacífica, organizada, controlada”.

A mensagem foi repassada pelo governador a Dino.

Após o início dos ataques, às 16h43, o governador ainda disse ao ministro que “vamos precisar do Exército”, em referência a uma possível decretação de operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) – opção descartada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dino.

 

GSI e Ministério da Justiça negam ter recebido informes

O Ministério da Justiça, em nota, disse não ter recebido os informes de inteligência. Em depoimento à PF, o general Gonçalves Dias também negou que tivesse recebido relatórios da Abin e disse que só soube dos alertas enviados pelas equipes de inteligência quando reuniu as informações para responder os questionamentos da CCAI.

O ministro da Justiça também negou ter recebido informes da Abin sobre a possibilidade de ataques em 8 de janeiro.

Em entrevista ao site Metrópoles, Dino reforçou que não recebeu nenhuma informação da agência, e disse que isso possivelmente ocorreu pelo fato de as informações estarem sendo trocadas pelo WhatsApp.

Em sua primeira entrevista após o episódio de 8 de janeiro, Lula também criticou a falta de informações de inteligência.

“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso”, disse o presidente à GloboNews, em janeiro.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).