O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe morreu hoje (8), após ser baleado durante um comício na cidade de Nara, perto de Quioto. A notícia foi dada pela NHK, a televisão estatal do Japão, e confirmada pelo hospital.
As informações são da Agence France Presse (AFP)

O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe no chão, com as mãos no peito, após ser baleado no Japão — Foto: Kyodo / via REUTERS
A polícia japonesa deteve um suspeito do ataque, Tetsuya Yamagami, com cerca de 40 anos. Ele é acusado de tentativa de homicídio.
Yamagami usou “equipamento semelhante a uma arma”, aparentemente de fabricação caseira. Ele deu dois disparos contra as costas de Abe, a uma distância de cerca de 3 metros.
Second video shows the attempted assassination of former Japanese Prime Minister Shinzo Abe
NOTE: Video not graphic, but viewer discretion is advised pic.twitter.com/BZNGHP78ds
— BNO News (@BNONews) July 8, 2022
Shinzo Abe, de 67 anos, foi primeiro-ministro do Japão entre 2006 e 2007 e, mais tarde, entre 2012 e 2020.
O comício desta sexta-feira ocorria antes das eleições para o Senado japonês, marcadas para domingo (10).

Suspeito de cometer ataque contra o ex-premiê do Japão é interceptado por seguranças após disparo — Foto: The Asahi Shimbun/via REUTERS
Abe discursava em apoio a Kei Sato, um membro da câmara alta do Parlamento que concorre à reeleição como representante da cidade de Nara.
Quem era Shinzo Abe?
Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição. Na época, era simultaneamente um símbolo de mudança e juventude – e do pedigree de um político de terceira geração, preparado desde cedo para exercer o poder dentro de uma família conservadora de elite.
Sua retórica política frequentemente mencionava a necessidade de fazer com que o Japão tivesse um papel mais relevante nos assuntos internacionais.
Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.
Inicialmente ele declarou que renunciou por motivos políticos, mas depois admitiu que tinha um problema de saúde, que mais tarde foi diagnosticado como colite ulcerativa.
A condição exigiu meses de tratamento, superado graças a um novo medicamento, segundo Abe.
Abe voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012.
Sua vitória encerrou um período turbulento em que os primeiros-ministros se sucediam ao ritmo de de até um por ano.
Abe ficou famoso no exterior por sua estratégia de recuperação econômica, conhecida como “abenomics”, iniciada em 2012, na qual misturou flexibilização monetária, grande recuperação orçamentária e reformas estruturais.
Alguns avanços foram registrados, como o aumento da taxa de emprego das mulheres e dos idosos. O país também passou a recorrer de maneira mais intensa à imigração para enfrentar a escassez de mão de obra.
Porém, sem reformas realmente ambiciosas, o programa teve sucesso apenas parcial, atualmente ofuscados pela crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.
Participação nas Olimpíadas do Brasil

Shinzo Abe apareceu no encerramento das Olimpíadas do Rio em 21 de agosto de 2016. — Foto: Stoyan Nenov/Reuters/Arquivo
Na cerimônia de encerramento da Olimpíada no Rio, em 2016, Shinzo Abe surpreendeu surgindo de dentro de um cano verde vestido do personagem de videogame Super Mario no meio do Maracanã.
O episódio foi o início da apresentação da Olimpíada seguinte, em 2020, que aconteceria em Tóquio – e era mais uma de muitas expressões de “soft power” do político no cenário internacional.
Seu primeiro governo estabeleceu raízes da política cultural que se tornaria o programa “Cool Japan” estabelecido por Yoshihiko Noda em 2011, e fortalecido no segundo governo de Abe – uma política estatal de promoção e divulgação da produção cultural japonese.
Por conta da pandemia de coronavírus, Abe pediu e foi autorizado o adiamento da Olimpíada de Tóquio para 2021. Foi a primeira vez na era Moderna que os Jogos Olímpicos foram adiados.
Abe, muitas vezes atingido por escândalos que afetaram pessoas próximas, soube aproveitar os acontecimentos externos – lançamentos de mísseis norte-coreanos, desastres naturais – para desviar a atenção e se apresentar como um líder indispensável diante das adversidades.
Também foi beneficiado pela falta de um rival do mesmo porte dentro de seu partido, PLD (Partido Liberal Democrata), e a fragilidade da oposição, que ainda não se recuperou de sua passagem desastrosa pelo governo entre 2009 e 2012.
Mas sua popularidade caiu a partir do início da pandemia de covid: as ações do governo Abe foram consideradas lentas e confusas.
Durante muito tempo ele se agarrou à esperança de manter os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, que seriam o grande momento de de seu mandato.