Ex-ministro de Lula ordenou que Abin excluísse alertas de relatório enviado ao congresso, diz Folha

Divulgação/GSI

Por: Pedro Leal

14/06/2023 - 09:06 - Atualizada em: 14/06/2023 - 10:10

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, general Gonçalves Dias, teria ordenado que a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) retirasse alertas enviados a ele sobre os atos de 8 de janeiro do relatório entregue ao Congresso Nacional.

As informações são da Folha de São Paulo – em matéria nesta quarta-feira (14), o jornal afirma que a relação enviada aos parlamentares no dia 20 de janeiro não continha os informes feitos diretamente a ele pela agência.

A Comissão de Atividades de Controle de Inteligência (CCAI) do Congresso pediu todos os documentos com informes de inteligência disparados pela Abin entre os dias 2 e 8 de janeiro – mas segundo apurado pelo diário, registros foram suprimidos sob o argumento de que a troca de informações “não ocorreu por fontes oficiais”.

De acordo com a Folha de São Paulo, os alertas foram recebidos via Whatsapp, e apenas Dias teria autorização para encaminhar as informações a partir do Sisbin, o Sistema Brasileiro de Inteligência.

Os alertas também foram disparados para o grupo de WhatsApp da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. A pasta era a responsável por executar o plano de policiamento e segurança da Esplanada dos Ministérios e das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Os 11 alertas enviados ao então ministro só chegaram ao Congresso em maio, por meio de um novo relatório da Abin, após quase quatro meses do primeiro pedido de informações logo no dia seguinte aos atos.

Este novo documento, segundo a Folha, foi entregue à CCAI pela atual diretoria da agência, após uma solicitação da Procuradoria-Geral da União (PGR) com base em outra reportagem publicada em março que revelou a existência dos alertas.

Gonçalves Dias pediu demissão do cargo em abril após a divulgação de imagens que mostram ele e agentes do GSI circulando entre os manifestantes que invadiram o Palácio do Planalto, mas sem interceder nos atos.

O jornal também revelou como o uso do WhatsApp se tornou comum para a troca de informações de inteligência durante a gestão do delegado e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que faz parte da CPMI do 8/1. Na época, a Abin era subordinada ao GSI, enquanto que agora faz parte da Casa Civil do governo.

Na época dos ataques e da entrega do primeiro relatório, a Abin estava sob o comando de Saulo Moura da Cunha, indicado por Lula como diretor-adjunto até a sabatina do Senado.

Cunha foi convidado por Gonçalves Dias em abril para chefiar a Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do GSI. Ele pediu demissão no começo de junho ao ser convocado para depor na CPMI que investiga os atos de 8 de janeiro.

Ele não quis comentar qual teria sido a orientação de Gonçalves Dias sobre o envio das informações ao Congresso.

Já a defesa do ex-chefe do GSI disse que ele não tem “esses documentos” citados, que a investigação está sob sigilo e que o general tem respondido a todas as perguntas feitas no âmbito do inquérito.

A Abin também não comentou a revelação dos documentos e disse que o assunto está sendo tratado pela Casa Civil.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).