Ex-diretor da Câmara confirma que destinava parte do salário ao vereador Arlindo Rincos

Por: OCP News Jaraguá do Sul

22/06/2017 - 07:06 - Atualizada em: 23/06/2017 - 22:23

Por Verônica Lemus e Patricia Moraes

Autor de denúncia à Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul, o ex-diretor administrativo da Casa, Gleison da Silva Collares, confirma que destinou parte de seu salário a Arlindo Rincos (PSD) pela indicação ao cargo comissionado. Em entrevista concedida nesta quarta-feira (21) à reportagem do OCP, o ex-servidor manteve as afirmações que levaram à abertura de uma Comissão Processante para apuração do caso.

A denúncia de Collares chegou à Câmara em forma de carta, assinada e com firma reconhecida em cartório, segundo destacou o presidente da Câmara, Pedro Garcia (PMDB), durante sessão legislativa que deu início à abertura do processo. A carta do ex-diretor foi a segunda enviada ao Legislativo. O primeiro documento afirmava que vereadores praticavam a cobrança de parte dos salários, entre eles Arlindo Rincos.

A primeira carta era anônima. Porém, a segunda foi assinada por Collares, confirmando a prática da cobrança por parte de Rincos, mas indicando que não poderia fazer afirmações quanto a outros parlamentares.
Collares atuou como diretor administrativo no ano passado. Foi nomeado pelo então presidente da Câmara, José Ozorio de Avila, o Zé da Farmácia, no dia 28 de janeiro de 2016. Ele foi exonerado pela atual legislatura, em 26 de janeiro deste ano. Depois de manter-se em silêncio, o ex-servidor resolveu contar mais sobre o caso.

Cobrança teria começado durante negociação de cargos

Segundo afirma Collares, a cobrança teria começado em meio às negociações de distribuição dos cargos comissionados, que são ocupados por indicações políticas. “Quem sabe se tu virar diretor tu me ajuda com X (reais)”, teria dito Arlindo Rincos, pedido com o qual Collares acabou concordando. “Depois foi duas vezes (o valor), e depois já estava lá em três vezes, e se não for, tá na rua”, comenta o ex-diretor sobre como foram as cobranças durante o período.

Ele também afirma que o valor era repassado em dinheiro ao próprio vereador e não ao partido – como uma forma de contribuição partidária, esta uma prática contumaz e legal. Collares afirma que era bastante clara a condição: não destinar parte do salário a Rincos resultaria na demissão do cargo. Em relação aos valores, o ex-diretor conta que o montante final chegava a três vezes o valor cobrado inicialmente (que o ex-servidor preferiu não divulgar), contabilizando outros gastos.

“Com tudo dava isso, porque a gasolina era do nosso bolso. Ele mandava fazer alguma coisa, tinha que fazer. Se dissesse: ‘Ah não, estou indo pra casa’, que eu moro no João Pessoa, ‘não, não, tu vai lá no Ribeirão Cavalo fazer tal coisa’”, relatou. Atualmente trabalhando como professor da rede estadual, Collares diz ainda que o valor pago a Rincos chega a ser mais do que ganha hoje na função.

O ex-diretor permaneceu um ano no cargo e disse que decidiu não continuar como servidor da Câmara por conta do que teria acontecido. Questionado se chegou a manifestar ao parlamentar que não queria dar o dinheiro, Collares afirmou: “Manifestar, vou ser bem sincero que não. Sabe quando não existe (a possibilidade)? ‘Ou dá ou acho outro pra dar’, era muito claro isso”.

Collares diz que não chegou a haver uma briga entre ele e Rincos, mas que teria havido um rompimento de sua parte. “O pessoal da Câmara sabia (do rompimento) porque eu dizia ‘olha, esse cara não apoio mais, não tem’”, relatou o ex-diretor, afirmando ainda que outros vereadores também saberiam do seu rompimento, entre eles Zé da Farmácia. “Tanto é que no final ali eu tinha medo, de repente, de depois da eleição ser demitido. O Zé disse: ‘Não, teu trabalho aqui dentro é impecável, nenhum vereador nunca reclamou nada, eu te mantenho’”, afirmou o ex-servidor.

A cobrança de parte do salário de assessores é uma prática dentro da Câmara, diz Collares, a partir de comentários que teria ouvido. “Nada oficial, nada que eu possa dizer quem foi, mas se sabia disso. Até porque acho que se não fosse da prática de outros isso não se desenvolveria”, comentou.

O ex-diretor nega que a denúncia seria parte de uma perseguição política contra Rincos, pelo vereador ser da oposição, e afirma que não tem ligações com o atual governo. O objetivo da denúncia, diz Collares, é coibir a prática da cobrança, à qual entende que moralmente não pode ser conivente. “Decidi ganhar muito menos do que ganhava antes, mas prefiro pelo menos manter a verdade, botar a cabeça no travesseiro e estar tranquilo comigo mesmo”, declara.

Arlindo Rincos diz que tem total interesse em esclarecer acusações

Em nota oficial, divulgada no fim da tarde de quarta-feira (21) em sua rede social, Arlindo Rincos diz que tem “total interesse na elucidação das acusações” e informa que até o momento vem tomando conhecimento do caso somente por meio da imprensa. “Tendo tomado conhecimento através dos meios de comunicação da denúncia formalizada perante a Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul, torno público o meu total interesse na elucidação das acusações que recaem contra mim”, escreveu.

“Embora, até o presente momento, não tenha sido intimado para apresentar defesa ou prestar esclarecimentos, afirmo, antecipadamente, não ter dúvidas de que as provas que serão produzidas no decorrer das investigações comprovarão a retidão dos atos que pratiquei no mandato anterior”, diz Rincos em nota. A reportagem do OCP tentou contato ao telefone, mas não foi atendida pelo vereador.

Leia mais:

Líder do governo na Câmara preside Comissão Processante que investigará Rincos

Denúncia semelhante foi feita em 2015, mas abertura de comissão foi negada

Em 2015, o então vereador Jocimar de Lima (PSDC) também foi alvo de acusações de que ficaria com parte do salário de seus assessores. Junto à representação contendo a denúncia protocolada em novembro daquele ano na Casa, foram anexadas cópias de dois cheques de um ex-funcionário, nos valores de R$ 500 e outro de R$ 3 mil, com data de 2014.

O dinheiro teria sido cobrado pelo vereador a título de contribuição partidária. Na época, pelo voto da maioria dos vereadores – entre eles Arlindo Rincos (PSD) –, foi negada a abertura de comissão processante para investigar a denúncia. Um dos argumentos dos vereadores na época foi de que o caso já estava sendo investigado pela Polícia Civil.