Escolas de Jaraguá do Sul se preparam para retorno com atividades pedagógicas

Por: Natália Trentini

10/10/2020 - 06:10

Nesta semana o governo do Estado definiu regras para retorno das atividades presenciais nas escolas públicas e privadas de Santa Catarina. Em Jaraguá do Sul, as escolas municipais e estaduais se preparam para oferecer atividades de reforço pedagógico assim que o município sair da classificação grave (cor laranjada) no mapa estadual que avalia o risco potencial de Covid-19.

Hoje, nenhuma unidade de ensino de Jaraguá e região pode retornar presencialmente. Isso é ponto pacífico, porque a portaria autoriza, já no artigo primeiro, o retorno presencial de estabelecimentos que estão em regiões cujo risco potencial é alto, ou seja, cor amarela. Jaraguá do Sul e região (incluindo Joinville), estão no risco grave, representado pela cor laranja, portanto estamos excluídos dessa portaria até o momento”, reforça a secretária Municipal de Educação, Ivana Dias.

Apesar de apresentar índices baixos de proliferação e mortalidade por conta do coronavírus, Jaraguá do Sul está inserida na região metropolitana do Norte-Nordeste catarinense, que conta com municípios em situação mais complicada, como Joinville.

Como o mapa de classificação de risco é atualizado semanalmente, as redes educacionais se preparam para deixar o planejamento em dia caso a classificação mude, seguindo as orientações estabelecidas pelo Estado.

Preparação nas salas da escola Euclides da Cunha I Foto Natália Trentini

Conforme Ivana, o documento abre duas possibilidades de retorno para as atividades presenciais. As escolas podem retornar de forma escalonada, ou seja, uma turma nova por vez, com intervalos de sete dias, começando pelas turmas finais – 9º ano, no fundamental, e 3º ano, no médio, ocupando apenas 50% da capacidade máxima de cada sala, com distanciamentos de 1,5 metros entre aluno.

A outra possibilidade é de retorno com atividades complementares, voltadas especialmente para reforço educacional. Em Jaraguá do Sul, rede estadual e municipal definiram esse modelo – que deve ser seguido em toda microrregião do Vale do Itapocu.

Na rede particular, cada escola deverá optar por um desses dois modelos autorizados: escalonado ou com reforço.

Nas duas situações, o aluno só poderá voltar com autorização dos pais ou responsáveis.

Ganho pedagógico

Conforme a secretária Municipal de Educação Ivana Dias, a decisão por oferecer o reforço educacional tem em vista o ganho pedagógico para os alunos.

Com autorização do Comitê de Enfretamento da Covid-19, o município já vinha trazendo alguns alunos em situação ímpar para escola. Os principais motivos eram falta de estrutura física ou suporte familiar para desenvolver a atividade de forma virtual. Casos raros, afirma Ivana, pontuando que 99,7% dos alunos da rede estão cumprindo a rotina com as aulas online.

“Agora nós vamos intensificar esse atendimento. Ao invés de atender 10 crianças por escola, nós vamos tentar atender 5, até 10, por sala”, planeja.

A equipe pedagógica de cada unidade irá identificar as crianças com mais dificuldades e propor esse retorno, algo que deverá ser autorizado pelos pais.

“Pelo escalonamento demoraria muito para chegar às turmas e teríamos que ter o professor lá e cá, nós não conseguiríamos. Não é possível, nessa altura do campeonato, contratar um professor substituto para trabalhar com uma criança que ele sequer conhece, dando suporte a um planejamento que não é o dele”, avalia Ivana.

A intenção da Secretaria é organizar um esquema para que parte dos professores esteja presencialmente uma vez por semana para as atividades de reforço e nos demais dias sigam nas salas de aula remotas.

Foto Divulgação

“O modelo remoto não é o ideal, mas é o que é possível hoje e que atinge praticamente todos os nossos alunos”, comenta. “Estamos planejando as atividades pedagógicas com muito critério, sem sobrecarregar o professor e o aluno”.

Ivana ainda reflete que, pelo retorno escalonado, as crianças da pré-escola, as últimas nessa lista, não seriam chamadas antes do fim do ano letivo.

Estado terá que contratar professores

A dinâmica de retorno a atividades presenciais funcionará da mesma forma na rede estadual. Entretanto, o gerente de Educação da Regional de Jaraguá do Sul Fernando Alflen, destaca que deverão ser contratados professores temporários, os ACTs, para trabalharem como mediadores dos alunos que precisam de reforço, em uma carga de 8 horas semanais.

Essa contratação é necessária porque muitos professores pertencem aos grupos de risco e os demais estão com a carga horária cheia, uma vez que as aulas remotas seguem para as turmas.

Gerente de Educação, Fernando Alflen I Foto: Divulgação

“Estamos na preparação para um reforço escolar para os alunos que não estão fazendo as atividades virtuais e físicas e para os alunos que ao final do conselho de classe a escola percebeu uma dificuldade de aprendizagem. Esses alunos serão convidados, se os pais autorizarem, a terem esse reforço”, pontua.

Na escola estadual Euclides da Cunha, mesmo sem uma data efetiva para esse retorno presencial, a equipe escolar começou a se mobilizar levantando o número de alunos que precisam do reforço.

“Não serão muitos, aqui é só Ensino Médio”, comenta Adriane sobre os casos de evasão, especialmente no terceiro ano, comenta a diretora Adriane Grub.

Diretora da escola Euclides da Cunha, Adriane Grub I Foto: Natália Trentini

Ela reforça que a escola esteve aberta durante todo esse período distribuindo as atividades físicas para alunos e com as equipes mantendo a estruturas físicas em dia.

Professores estaduais condenam retorno

O professor e coordenador regional do Sinte-SC (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina), Francisco Assis Rocha, comenta que a entidade de classe é contrária a qualquer retorno nesse fim de ano, por conta da exposição de professores, corpo escolar e alunos.

“Temos os assintomáticos. Podemos ter um aluno que tem em casa um adulto do grupo de risco. Podemos ter o aluno levando o problema para dentro de casa ou trazendo”, avalia.

Professor e coordenar do Sinte-SC, Francisco Rocha I Foto: Natália Trentini

Mesmo com os cuidados, o professor avalia que é desnecessário realizar um movimento como esse no fim do ano letivo. Segundo ele, o Sinte-SC avalia a possibilidade de greve quando o retorno for sinalizado.

Planos para abertura

Além de organizar a forma com que o retorno a essas atividades vão acontecer, as escolas precisam apresentar um plano de contingência – trazendo diretrizes de como a escola vai atuar.

O município, desde junho, tem esse protocolo pronto, prevendo a necessidade desse planejamento. Agora, o documento está sendo adequado às diretrizes trazidas pelo Estado, além de receber demanda da rede estadual, privada e federal através da Comissão Municipal de Educação – que atualiza o documento de forma colaborativa.

“É um documento do território municipal, não da rede municipal, que apenas fez a base. Eles apresentaram sugestões e temos um documento uniforme. Não teremos uma retomada na qual cada unidade de ensino ou rede vai fazer de um jeito, todos nós temos a mesma base”, ressalta a secretária Municipal de Educação Ivana Dias.

O plano foi alinhado em reunião na última quarta-feira (7) e agora deverá ser homologado pelo Comitê Extraordinário Covid-19. Depois, será compartilhado com todas as redes para que cada escola ainda crescente detalhes referentes a realidade da estrutura.

O documento conta com inúmeros detalhes, desde como os alunos serão recebidos, até protocolos em caso de suspeitas da doença.

“Mesmo as regiões que estão no amarelo, que poderiam voltar a partir da publicação da portaria, no entanto, precisam ter o plano de contingência educacional pronto”, pontua a secretária.

Equipamentos

Tando rede estadual, como municipal, afirma ter os EPIs (Equipamento de proteção individual) para serem distribuídos nas unidades.

Além disso, todas as alterações físicas precisarão ser feitas para garantir o distanciamento de 1, 5 metro nas salas de aula e demais espaços, na higienização e distribuição de alimentos, entre inúmeros fatores.

Mesmo que houvesse uma autorização do Estado, Ivana ressalta que um retorno integral, em qualquer escola, seria inviável. Primeiramente pela falta de capacidade física para garantir o distanciamento seguro, conforme preconiza a autoridade sanitária.

“Quando se fala em retorno para o município de Jaraguá do Sul, está se falando de 21 mil alunos. Nós não estamos falando de 100″, comenta.

Conforme o Censo da Educação Básica de 2019, Jaraguá do Sul conta com um total de 38,6 mil alunos: 21,1 mil na rede municipal, 9,4 mil na estadual, 6,8 mil na privada e 1,2 mil na federal.

Escolas particulares irão definir forma de retorno

O Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina (Sinepe/SC) se posicionou favoravelmente a um retorno integral das aulas e um movimento de pais de Jaraguá do Sul também pede ao governo do Estado por essa liberação. Entretanto, o assunto não é consenso e está sendo amplamente debatido.

O diretor do Colégio Marista São Luís e presidente do Conselho Municipal de Educação, Airton Bonet, acredita que, assim que houver mudança no mapa de risco, o retorno escalonado é a melhor opção.

As escolas da rede privada estão mobilizadas na construção do plano de contingência e preparadas para fazer os investimentos em estrutura interna e equipamentos de segurança. Mas ele avalia que, além disso, é preciso pensar na parte educacional, humana e social.

Foto Divulgação

“A gente se prepara para um momento novo nas escolas. Acolher os alunos depois desse período que a gente viveu, é tempo novo que requer alguns cuidados”, avalia o diretor.

A ansiedade para rever os colegas, as novas formas de interação, a construção de da percepção do autocuidado – especialmente com as crianças mais novas, que querem abraçar os amigos, brincar, estar próximas.

“Parece apenas uma decisão, mas é um aprendizado coletivo”, comenta. Bonet afirma que todas as escolas estão tecnicamente aptas a retornar, mas avalia que esse movimento requer cuidado e atenção para evitar casos de contágio no ambiente escolar.

 

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