O escândalo de tráfico sexual e pedofilia envolvendo o falecido financista bilionário Jeffrey Epstein voltou a ganhar destaque na imprensa americana nos últimos dias, com ênfase no possível vínculo do presidente Donald Trump com o caso, algo que vem sendo especulado há anos, mas sem evidências até o momento.
Na quarta-feira (23), uma juíza distrital dos EUA negou um pedido do Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) para divulgar transcrições de depoimentos de um julgamento, prestados à Justiça Federal do sul da Flórida.
Nesta quinta-feira (24), o procurador-geral adjunto, Todd Blanche, deve conversar com Ghislaine Maxwell, ex-companheira de Epstein condenada em 2022 pelo aliciamento de menores para atividades sexuais, segundo informaram fontes à CNN.
Uma nova crise surgiu dentro do governo Trump depois que o Departamento de Justiça prometeu divulgar novos arquivos confidenciais sobre o esquema criminoso do financista, como uma possível lista de nomes conhecidos da elite americana envolvidos na rede de tráfico sexual, mas voltou atrás, sem divulgar novos detalhes da investigação.
O The Wall Street Journal (WSJ) divulgou uma reportagem esta semana alegando que autoridades do Departamento de Justiça informaram o presidente em maio de que seu nome aparecia em “diversos arquivos” do caso. Mais cedo, um porta-voz da Casa Branca negou a informação, classificando-a como “mentirosa”.
Quem foi Jeffrey Epstein

Foto: Estado da Flórida/Wikimedia Commons
Nascido na década de 1950 em Nova York, Jeffrey Epstein iniciou sua carreira como professor de matemática em uma escola de elite de Manhattan, mesmo sem ter concluído seus estudos universitários. Na instituição, fez conexões importantes que lhe renderam uma ascensão para o mundo dos negócios antes de completar 30 anos.
Depois de abandonar a atividade como docente, se tornou um financista e gerente de fortunas de Wall Street que ascendeu de uma origem humilde em Coney Island, acumulando uma riqueza extraordinária, que incluía uma mansão de sete andares em Manhattan, além de ilhas privadas. Epstein ficou conhecido por circular entre a elite e pessoas poderosas, como Donald Trump, Bill Clinton, o príncipe Andrew, do Reino Unido, além de celebridades e empresários, como Bill Gates.
Epstein foi acusado de um extenso esquema de tráfico sexual e abuso de centenas de meninas menores de idade — algumas com apenas 14 anos — em suas propriedades em Nova York, Flórida, Novo México e em sua ilha privada no Caribe, popularmente conhecida como Ilha Epstein.
Condenado em 2008 por exploração sexual e facilitação à prostituição de menores, Epstein cumpriu uma pena branda na época graças a um polêmico acordo de não persecução feito por seus advogados com a promotoria do caso, que o obrigou a se registrar como um agressor sexual e a cumprir 13 meses de prisão, recebendo em troca imunidade para evitar acusações federais contra ele e seus possíveis cúmplices.
O financista foi novamente acusado de tráfico sexual e preso em julho de 2019. Um mês depois, Epstein foi encontrado morto na prisão, aos 66 anos, enquanto aguardava julgamento. Sua morte foi classificada como suicídio.
Do que Epstein era acusado?
Uma primeira investigação contra Epstein surgiu em 2005, com denúncias de exploração sexual de menores em Palm Beach, na Flórida. Segundo a acusação, o bilionário abusou de meninas menores de idade em sua residência entre 2002 e 2005.
As vítimas foram recrutadas por ele para realizarem atos sexuais em troca de dinheiro. Na época, o criminoso alegou que considerava a prática consensual e acreditava que todas tinham mais de 18 anos.
Ele conseguiu fechar um acordo com a Justiça que envolveu um registro de agressor sexual, o cumprimento de 13 meses de prisão. Em troca, ele recebeu imunidade para evitar acusações federais contra ele e seus possíveis cúmplices.
Em 2019, um juiz distrital da Flórida considerou o acordo feito com Epstein anos antes ilegal. Em julho daquele ano, ele foi preso e criminalmente acusado por abuso de menores e por liderar uma rede de exploração sexual. Um mês depois, foi encontrado morto em sua cela com indícios de suicídio.
O que é a lista de Epstein?
O caso Epstein voltou à tona em janeiro do ano passado com a divulgação de mais de mil página de documentos judiciais sobre a investigação pela Justiça dos EUA. Na ocasião, descobriu-se que mais de 150 nomes foram citados no processo.
Os documentos divulgados no ano passado eram relacionados a uma ação movida por Virginia Giuffre, uma das principais denunciantes de Epstein, contra a ex-amante e parceira de negócios do acusado, a herdeira britânica Ghislaine Maxwell.
As informações tornadas públicas pela justiça americana atraíram a atenção global na expectativa de que citassem o envolvimento de personalidades ligadas ao financista, no entanto, não surgiu nenhuma lista nova com o nome de pessoas públicas relacionadas aos crimes pelos quais Epstein é investigado.
Os arquivos também não incluíram episódios específicos de irregularidades cometidas por outros homens além do financista. Na época, a imprensa americana afirmou que os documentos apresentados no Tribunal Distrital Federal de Manhattan apenas acrescentaram mais contexto às relações que Epstein manteve ao longo dos anos com homens poderosos, como o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, o atual, Donald Trump, e um membro da realeza britânica, o príncipe Andrew, filho da falecida rainha Elisabeth II.
Desde então, especula-se sobre uma suposta lista de clientes de Epstein, na qual estariam presentes figuras públicas da elite americana. Por enquanto, isso não se concretizou. Em fevereiro deste ano, o Departamento de Justiça divulgou cerca de 200 páginas novas dos documentos contendo registros de voos, uma lista de evidências e outros nomes ligados a Epstein.
Nesses registros de voo aparecem os nomes de várias pessoas conhecidas, entre famosos e empresários, incluindo algumas anotações para o presidente Donald Trump.
O que Trump tem a ver com Epstein?
Trump mesmo já admitiu que ele e Epstein tiveram uma amizade de mais de uma década, a partir dos anos 1980. “Conheço Jeff há 15 anos. Cara fantástico”, disse Trump à revista New York, em 2002.
Ao longo desse período, eles foram vistos juntos em grandes festas, como uma promovida por Trump em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, em 1993, e outra das “Angels” da Victoria’s Secret, em Nova York, em 1997.
Entre 1993 e 1997, Trump aparece sete vezes como passageiro nos registros de voo do jato particular de Epstein. O republicano reconheceu as viagens, mas garantiu nunca ter ido à ilha do financista [a Little St. James, uma ilha privada de 283 mil metros quadrados no Caribe, onde ocorreriam os crimes sexuais] e negou ter participado de qualquer irregularidade com ele.
Em 2004, Trump e Epstein romperam relações, depois de disputarem a compra de uma mansão à beira mar em Palm Beach, que acabou sendo arrematada pelo republicano. Em 2019, Trump declarou não ser “fã” de Epstein, com quem não falava há 15 anos, depois de uma “briga”.
Trump teria escrito carta em 2003, diz WSJ
O jornal americano Wall Street Journal (WSJ) publicou uma investigação afirmando que Donald Trump escreveu uma carta “obscena” parabenizando Epstein pelo seu 50º aniversário, em 2003.
Segundo a publicação, a carta datilografada era emoldurada pelo contorno de uma mulher nua, que parece ter sido desenhada à mão por Trump, e a assinatura era um “Donald” imitando os pelos pubianos. A mensagem final seria “Feliz aniversário – e que todos os dias seja outro segredo maravilhoso”.
Em entrevista à publicação, Trump negou ter escrito a carta ou feito o desenho. “Este não sou eu. Isso é uma coisa falsa. É uma história falsa do Wall Street Journal”, disse.
Com a divulgação da suposta carta, o presidente dos EUA anunciou um processo contra o jornal e o seu dono, Rupert Murdoch.
* Com informações da Gazeta do Povo.