Durante a sessão desta quinta-feira (8) na Câmara Municipal de Jaraguá do Sul, o vereador Delegado Leandro Mioto (União) alertou sobre o avanço da violência doméstica na cidade e a necessidade urgente de intervenção para proteger mulheres vítimas de agressão.
Com mais de 15 anos de carreira como delegado, Mioto compartilhou relatos pessoais de casos recentes que atendeu na delegacia, revelando a brutalidade e a frequência com que as mulheres chegam feridas no plantão policial.
“Em apenas dois plantões recentes, atendi quatro casos de violência doméstica — todos com vítimas gravemente agredidas fisicamente. Em dois desses casos, os agressores afirmaram ter espancado as companheiras simplesmente por se sentirem ofendidos com algo que elas disseram”, destacou. “É inadmissível que uma fala gere uma resposta tão brutal. Vi mulheres chegarem à delegacia com cortes profundos no rosto, membros enfaixados, hematomas. Não há justificativa para tamanha violência”, completou.
O vereador também chamou a atenção para o ciclo da violência doméstica, que muitas vezes começa de forma sutil, com agressões verbais e emocionais, e pode escalar para episódios físicos graves.
“A agressão física é o fim de uma escalada que começa com sinais verbais e emocionais. Muitas mulheres não percebem ou preferem ignorar os primeiros alertas, seja por medo, dependência financeira ou por acreditar que estão protegendo os filhos e a família”, explicou.
Mioto também alertou sobre os impactos psicológicos nas crianças que crescem em lares violentos.
“Muitas vezes, o agressor é um pai atencioso com os filhos, e isso confunde a criança. Ela cresce naturalizando o abuso, achando que é parte de uma relação normal. E esse ciclo pode se repetir, com o filho se tornando um agressor no futuro”, frisou.
Para o parlamentar, a simples prisão do agressor não é suficiente:
“Não há mérito em prender um homem quando a mulher já está devastada, sem conseguir falar, andar ou sequer abrir os olhos. A verdadeira vitória é impedir que a violência chegue a esse ponto”, lembrou.
A vereadora Sirley Schappo (NOVO) reforçou a gravidade do problema e apresentou dados alarmantes.
“Em apenas cinco dias, tivemos um caso de feminicídio e nove registros de espancamento contra mulheres no município. E tantas outras que foram espancadas e que nem fizeram o boletim de ocorrência”, lamentou.
Sirley também chamou a atenção para as mudanças geracionais e a reação violenta de alguns homens à crescente autonomia feminina:
“Elas já estão se rebelando, por assim dizer. Diferente da geração da minha mãe e da minha avó, que aceitava tudo quieta. Mas muitos homens não aceitam esse novo comportamento. Por às vezes se posicionar e dizer uma coisa num tom mais forte, o homem já acha que aquela mulher merece apanhar por causa disso?”, indagou.
Ela também demonstrou preocupação com o cenário nacional.
“Hoje nós temos, a cada 6 horas, uma mulher morta. Por dia, são 4 mulheres no Brasil. Em Santa Catarina, foram 51 feminicídios no ano passado e, só até março deste ano, 11”, destacou.
Apesar do pessimismo em relação à mudança imediata no comportamento masculino, Sirley se mostrou esperançosa quanto às futuras gerações:
“Eu já não tenho mais muita fé na atual geração masculina. Mas eu tenho muita fé nas futuras gerações. Punição para quem não tem mais jeito e educação para as futuras gerações”, reiterou.
Ao final, ambos os vereadores fizeram um apelo para que as mulheres não silenciem diante da violência.
Mioto destacou que a Procuradoria da Mulher da Câmara está disponível para acolher e encaminhar cada caso, enquanto Sirley lembrou da importância da mobilização dos homens para combater a violência de gênero.