Covid-19: Polêmico tratamento em Rancho Queimado é debatido na Alesc

Foto Divulgação/PMRQ

Por: Ewaldo Willerding Neto

16/06/2021 - 14:06 - Atualizada em: 16/06/2021 - 19:56

O polêmico tratamento com um kit de medicamentos não específicos para Covid-19, alternativa empregada pelo município de Rancho Queimado para tratamento das pessoas contaminadas com o novo coronavírus, foi assunto da reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa realizada nesta quarta-feira (16).

A reunião contou com a participação do médico Armando Taranto Junior, ex-clínico do município, defensor do tratamento imediato dos pacientes com teste positivo. A participação do médico foi proposta pelo deputado Jessé Lopes (PSL).

Armando Taranto Junior defendeu o método que ele chama de “testa e trata”. Na opinião dele, se as pessoas fossem tratadas imediatamente após o diagnóstico de Covid-19 não haveria tantas mortes. “O povo tem que saber que existe um protocolo de remédios que fazem efeito, existe um protocolo de tratamento”. O clínico argumentou ainda que, em épocas e situações excepcionais, o médico pode aplicar soluções conforme a sua consciência e que ele “achar que faz bem”.

 

 

Conforme o relato de Taranto, o município de Rancho Queimado registrou apenas duas mortes causadas pela doença, no começo da pandemia (antes do início da medicação dos pacientes). Desde então, 1.939 pacientes foram atendidos, 1.109 pacientes foram medicados, sendo 435 positivados para a doença.

O kit de remédios empregados inclui ivermectina, azitromicina, hidroxicloroquina, antritombótico, corticoide e vitaminas. Alguns desses medicamentos, como a hidroxicloroquina, têm sua eficácia cientificamente questionada para o tratamento de Covid-19, mas o médico argumentou que o remédio faz bem. “É uma doença viral. Eu estou usando uma medicação que está dando resultado.” Ele assegurou que a população de Rancho Queimado não teve nenhuma complicação em função do remédio e que se houver complicações, basta suspender o uso.

 

Opinião dos deputados

O deputado Mauricio Eskudlark (PL) opinou que foi criada uma falsa imagem sobre o município de Rancho Queimado, enquanto há 22 municípios catarinenses que não registraram nenhum óbito, caso, por exemplo, de Mondaí, com 11 mil habitantes. “Temos municípios com população maior que Rancho Queimado que não tiveram nenhum óbito. Os senhores tiveram sorte de ter uma população mais isolada, que não tem tanta aglomeração. O tratamento não resolve, o que resolve é a vacina”, disse Eskudlark, que teve Covid-19. O deputado afirmou que fez uso dos chamados medicamentos para tratamento precoce por conta própria. “A hidroxicloroquina me causou um problema grave de estômago. Eu sou prova de que o tratamento precoce faz mal.”

A deputada Ada de Luca (MDB) relatou que também tomava hidroxicloroquina e vermífugo por conta própria, de 15 em 15 dias, e foi parar no hospital com problema cardíaco. “Pode ser um tratamento barato e populista, mas não é tratamento.” Na opinião da parlamentar, em Rancho Queimado, com alimentação e hábitos saudáveis, “até a imunidade das pessoas deve ser melhor”, o que pode ter contribuído para o que ela chamou de sorte. “Que o senhor continue com essa sorte, porque é uma sorte esse resultado.”

O deputado Jessé Lopes classificou como ridículos os comentários dos demais deputados. “Que ‘ridiculice’, deputados. É lamentável os catarinenses terem que ouvir isso de vocês.” Ele argumentou que o tratamento não substitui a vacina. “O tratamento é para as pessoas que já adoeceram e não fizeram a vacina.” Jessé assegurou que existem estudos que demonstram a eficácia da hidroxicloroquina para conter a proliferação do vírus. Para ele, a prova de que o tratamento empregado por Armando Taranto Junior funciona é o fato de ninguém de Rancho Queimado ter ido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB) lembrou que já houve outros impasses sobre medicamentos no Brasil e citou o caso da fosfoetanolamina, publicizada como pílula anticâncer, sem eficácia comprovada e que ainda continua sendo oferecida à população. “Cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa] validar qualquer tratamento aplicado no país. Há um ano e meio estamos discutindo isso, mas a Anvisa é a instância que avalia a eficiência dos remédios comercializados e distribuídos à população brasileira.”

Em resposta aos comentários dos parlamentares, Taranto argumentou que não teve sorte, teve o cuidado de atender e tratar o paciente na fase inicial. “Em medicina não existe nada exato, o que existe é o paciente.” Ele defendeu a aplicação da vacina, mas lembrou que a vacina não atende aqueles que já foram contaminados pelo vírus e precisam de tratamento. O médico esclareceu ainda que não recomenda a automedicação, mas o tratamento imediato após a contaminação pelo vírus.