Conflito entre Rússia e Ucrânia tem chance de evoluir para uma Guerra Mundial?

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Por: Elissandro Sutil

24/02/2022 - 14:02 - Atualizada em: 24/02/2022 - 14:43

Será que estamos testemunhando o início da 3ª Guerra Mundial? Isso é o que muitas pessoas estão se questionando diante os acontecimentos envolvendo a Russia e a Ucrânia. O assunto gerou uma avalanche de denúncias e sanções por parte do Ocidente, mas também dúvidas sobre a proporção que o confronto pode tomar.

Em reportagem do G1, autoridades e lideranças explicam que, por pior que seja a situação na fronteira entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se imagina um confronto militar direto entre a aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia.

“É uma guerra mundial quando americanos e russos começarem a atirar uns nos outros”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, no início deste mês, prometendo que não enviaria tropas americanas para a Ucrânia sob nenhuma circunstância.

A linha vermelha para a Otan e o Ocidente é se a Rússia ameaçar algum Estado membro da organização.

De acordo com o Artigo 5 da Otan, a aliança militar ocidental é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado.

A Ucrânia não é membro da Otan, embora tenha manifestado interesse em juntar-se à aliança militar, algo que Putin está determinado a impedir.

Países do Leste Europeu como Estônia, Letônia, Lituânia ou Polônia, que já fizeram parte da órbita de Moscou nos tempos soviéticos, atualmente são todos membros da Otan.

Esses governos estão claramente nervosos com o fato de que as forças russas podem não parar na Ucrânia e usar algum pretexto de “ajudar” minorias étnicas russas no Báltico para continuar invadindo outros países. Por isso, a Otan recentemente enviou reforços a seus membros do Leste Europeu.

Enquanto não houver conflito direto entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja, vire uma guerra mundial em grande escala.

A Rússia e os EUA detêm, juntos, mais de 8 mil ogivas nucleares, então os riscos envolvendo um conflito mundial são altos, principalmente considerando que ainda é levado em conta um protocolo da Guerra Fria de “Destruição Mutuamente Assegurada” (MAD, em inglês).

“Putin não está prestes a atacar a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como Belarus”, disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira (22).

Mas o imprevisível aqui é o estado de espírito de Putin. Muitas vezes descrito como friamente calculista, como o enxadrista e lutador de judô que é, seu discurso na segunda-feira (21) parecia mais o de um ditador do que o de um estrategista astuto.

Chamando a Otan de “perversa”, ele disse com todas as letras que a Ucrânia que não tinha o direito de existir como uma nação soberana independente da Rússia.

Sanções

O Reino Unido foi o primeiro, mas não é o único país a punir a Rússia com sanções, os EUA foram mais longe e a Alemanha, por exemplo, adiou a aprovação do enorme gasoduto Nord Stream 2 da Rússia.

A Rússia certamente retaliará de alguma forma. As empresas ocidentais na Rússia provavelmente sofrerão. Mas tudo pode piorar bem mais, se Putin assim quiser.

A vingança pode vir na forma de ataques virtuais, algo sobre o qual o Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido já alertou. Muitas vezes difíceis de atribuir ao governo russo, esses ataques podem ter como alvo bancos, empresas, indivíduos e até infraestruturas nacionais fundamentais.

Após anos de declínio das relações com Moscou, inclusive com o envenenamento de dissidentes russos em solo britânico, a confiança mútua entre a Rússia e o Ocidente é quase zero.

E esse é um cenário perigoso em meio à crise em curso na Ucrânia.