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Com participação de Amin, missão do Senado explora possíveis caminhos para reverter tensão comercial com os EUA

Divulgação/Nelsinho Trad

Por: Pedro Leal

28/07/2025 - 20:07 - Atualizada em: 28/07/2025 - 20:55

Washington (EUA) – À frente da missão oficial do Senado brasileiro aos Estados Unidos, o senador catarinense Esperidião Amin presidente participou nesta segunda-feira (28) de uma série de reuniões estratégicas em Washington para melhor compreender os motores da nova onda tarifária imposta por Donald Trump e articular possíveis respostas à medida, que afeta diretamente exportações brasileiras.

Com apoio da Embaixada do Brasil, os encontros reuniram especialistas dos mundos jurídico, econômico e político norte-americano. Participaram da rodada o ex-advogado-geral do USTR no primeiro governo Trump, Stephen Vaughn e o ex-diretor do Departamento de Comércio, Ryan Majerus — todos com experiência em disputas comerciais. Também estiveram presentes o diretor-executivo para as Américas da Eurasia Group, Christopher Garman; o diretor da consultoria para Estados Unidos, Clayton Allen; e o presidente da Ipsos Public Affairs, Clifford Young. Do lado brasileiro, contribuíram o diretor-executivo do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Paulo Correa; o ex-economista-chefe do Banco, Mauricio Moreira; e o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo.

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Em todos os painéis, uma tônica comum: a escalada deve ser evitada. “Não é o momento de jogar gasolina no fogo”, alertou um dos interlocutores, ao defender uma abordagem de serenidade e o envio de “sinais corretos” para viabilizar a reversão das sobretaxas no curto prazo.

Um dos bastidores mais relevantes foi a avaliação jurídica apresentada por Stephen Vaughn, que explicou como o Executivo norte-americano pode, mesmo após eventual derrota judicial, reinstaurar tarifas por meio de diversas outras ferramentas legais já disponíveis. A orientação foi clara: reconstruir pontes políticas com o centro de decisão e alinhar a comunicação estratégica.

Roberto Azevêdo reforçou que muitas das crises comerciais são fruto de ruídos. “Noventa por cento das crises que acompanhei eram baseadas em interpretações errôneas”, disse. Apesar das tensões com a OMC durante seu mandato, Azevêdo afirmou que os EUA ainda mantiveram canais de negociação. “Há espaço para diálogo, desde que se tenha clareza estratégica.”

Na frente econômica, a representação do Brasil no BID sugeriu uma estratégia de médio e longo prazo voltada à diversificação de parceiros comerciais e fortalecimento das trocas regionais. Um exemplo citado foi o potencial ainda subaproveitado entre Mercosul e México.

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Já os analistas do Eurasia Group e da Ipsos apresentaram um retrato realista do cenário eleitoral dos EUA. Apesar do impacto econômico negativo das tarifas — com leve aumento da inflação e retração modesta no crescimento —, a base de apoio de Trump segue firme. “Ele percebeu que pode ter um pequeno custo agora, mas se recupera rápido”, avaliou um dos especialistas.

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Empresários dos EUA devem pressionar por adiamento de tarifas

Na parte da tarde, os senadores participaram de uma reunião com representantes da U.S. Chamber of Commerce e de gigantes empresariais norte-americanas, como Cargill, Caterpillar, ExxonMobil, Shell, Dow Chemical, Merck, S&P Global, Johnson & Johnson, IBM, DHL, Kimberly-Clark, entre outras. O encontro, articulado pelo Brazil-U.S. Business Council, também contou com a presença da embaixadora Maria Luiza Viotti e integrantes da missão diplomática brasileira.

Diante da urgência imposta pela entrada em vigor das tarifas na sexta-feira (1º), os senadores passaram a articular com o setor privado americano uma nova ofensiva: a elaboração de uma carta conjunta da U.S. Chamber às autoridades norte-americanas, pedindo a prorrogação do prazo para início das sobretaxas.

A ideia é pressionar pela postergação da medida enquanto se constroem alternativas técnicas e diplomáticas. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) revelou que também foi solicitado à Câmara de Comércio que intermedeie uma conversa entre os presidentes dos EUA e Brasil, com vistas à retomada do diálogo político de alto nível entre os países.

Durante a reunião, empresários defenderam gestos concretos do Brasil e citaram como exemplo o acordo recente entre EUA e União Europeia. “O Brasil precisa mostrar que é insubstituível em cadeias produtivas críticas, como alimentos, energia e componentes industriais”, afirmou um dos executivos. A avaliação predominante foi a de que complementaridade econômica e pragmatismo diplomático são o melhor caminho para evitar perdas bilaterais.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).