“Absolutamente constrangedora”, diz Dallagnol sobre decisão que afastou juíza

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por: Pedro Leal

15/04/2024 - 19:04 - Atualizada em: 15/04/2024 - 19:37

O ex-deputado e ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Novo), que teve seu mandato cassado pelo TSE, descreveu como “absolutamente constrangedora” a decisão do corregedor Nacional de Justiça, de afastar a juíza Gabriela Hardt e de outros três desembargadores.

O ministro Luis Felipe Salomão determinou os afastamentos nesta segunda-feira (15/4), alegando irregularidades nas atuações em processos relacionados à Operação Lava Jato.

As informações são do Portal Metrópoles

Em decisão monocrática, Salomão tirou das funções do Judiciário a ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba-PR, além dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) Thompson Flores, Danilo Pereira Júnior e Loraci Flores de Lima.

Em nota, Dallagnol afirmou que “apesar da tentativa de dar ares de gravidade e seriedade à decisão, a simples leitura do documento mostra se tratar de uma decisão frágil, desprovida de fundamentos e carregada de um tom que passa a mensagem de perseguição política a juízes e desembargadores que atuaram na operação Lava Jato, condenaram corruptos e contrariaram interesses poderosos”.

Na análise, ele expõe algumas conclusões:

“De fato, a decisão afirma, resumidamente, que a juíza cometeu irregularidade de forma intencional ao ter homologado o acordo entre o MPF e a Petrobras, por meio do qual se garantiu que fosse devolvida ao Brasil 80% da multa que a Petrobras deveria pagar nos Estados Unidos às autoridades daquele país, em razão da corrupção descoberta nos governos do PT. Assim, a Lava Jato garantiu que cerca de R$ 2,5 bilhões de reais retornassem aos cofres públicos brasileiros, em vez de irem para os dos Estados Unidos. Os argumentos do corregedor para concluir que a juíza cometeu irregularidade ao decidir dessa forma são os seguintes: a petição do MPF é escassa de informações e a juíza decidiu de forma muito rápida, em cerca de 2 dias”, critica.

Dallagnol segue: “inacreditável que o corregedor nacional de Justiça tome uma decisão tão grave como o afastamento cautelar de uma magistrada, com base em argumentos tão débeis, frágeis e ridículos, trazendo à tona a hipótese de que as punições desproporcionais, sem fundamentação e sem provas reais de irregularidades graves contra juízes e desembargadores que atuaram na operação Lava Jato ocorram unicamente por motivação política”.

Gabriela Hardt é alvo de uma representação disciplinar aberta pelo corregedor em maio de 2023. O relatório final da investigação será submetido ao plenário do CNJ nesta terça (16/4). No documento, são citados supostos desmandos na destinação de valores bilionários dos acordos feitos pela Petrobras e por empreiteiras como a Odebrecht.

A desembargadora afastada foi a responsável por homologar o acordo de leniência que previa a destinação de recursos para uma fundação privada. A prática foi considerada por Salomão como a transformação da ideia de combate à corrupção “em uma espécie de ‘cash back’ para interesses privados”.