“Seus filhos e os filhos dos magnatas da tecnologia”

Por: Raphael Rocha Lopes

30/06/2020 - 14:06 - Atualizada em: 30/06/2020 - 14:12

“♫ Desde os primórdios/ Até hoje em dia/ O homem ainda faz/ O que o macaco fazia/ Eu não trabalhava/ Eu não sabia/ Que o homem criava/ E também destruía” (Homem primata, Titãs).

O aparelho celular é a nova chupeta das crianças pequenas. Pelo menos é o que parece. Posso falar apenas como observador, pois minha filha já não é criança faz tempo. Mas tenho observado bastante. Vejo muitos pais utilizando smartphone e tablets como forma de acalmar, distrair ou simplesmente se livrar da obrigação de dar atenção aos filhos.

É o seu caso?

Sim, é mais fácil.

Eu diria que é bem mais fácil! Esqueçamos, por um instante, a pandemia. Nos bares e restaurantes era praticamente impossível não se deparar com crianças entretidas ou hipnotizadas por algum aparelho eletrônico.

Em casa, pais estão trocando conversas e leituras ao pé da cama por celulares. Eles dão os dispositivos eletrônicos a seus filhos para que possam, eles próprios, os pais, se conectarem sem serem importunados.

Mas hoje não vou falar da miopia, das dores de cabeça ou de coluna, da nomofobia, ou de qualquer outro fator físico ou psicológico que isto pode gerar a médio e longo prazos. Quero só fazer uma pequena comparação injusta.

Os pais das outras.

Raphael, isso não acontece comigo. Apenas os pais das outras crianças fazem isso. Pode ser, claro. Não quero generalizar e é possível que vários leitores tenham, realmente, a consciência dos danos que esta facilidade gera.

Se não for o seu caso, mande esse texto para seus amigos e parentes que escorregam, no mais das vezes sem qualquer intenção de prejudicar os filhos, neste problema. Se for o seu caso, mesmo que constrangido, leia até o fim. Está quase terminando.

Quem quer ser um magnata?

O assunto não é novo, mas é recorrente. A tecnologia, especialmente quando se trata de internet e dados, está cada vez mais invasiva. Com muitas vantagens, claro, mas cada vez mais comandando nossos atos e, sim, nossas vontades.

Talvez por isso, as pessoas aparentemente com mais consciência sobre estas questões impuseram limites a seus filhos. Bill Gates não deu celulares a seus filhos até completarem 14 anos. Mas até hoje eles têm regras sobre uso nos horários das refeições e próximo de dormir. Steve Jobs, o cara com a cara da Apple, não permitia que seus filhos utilizassem iPad. Tim Cook já disse que não deixaria seu sobrinho entrar nas redes sociais.

No Vale do Silício, reduto da inovação e do digital, em uma escola onde os filhos dos executivos das gigantes da tecnologia estudam, o sistema, do ponto de vista da tecnologia eletrônica, parece mais de uma escola dos anos 90, e os computadores e tablets só aparecem no ensino médio.

Há muitos perigos por aí. De todas as vertentes. E eles sabem disso.

O que costumo perguntar aos pais em minhas palestras: você deixaria seu filho conversar com estranhos ou passear sem destino além dos muros de suas casas? Hoje os estranhos e os passeios estão dentro de casa…