Por Kamila Scheineder  Visto como um dos mercados com maior potencial de crescimento no Brasil, o setor de energias renováveis tem atraído cada vez mais investimentos da jaraguaense WEG. De olho nas oportunidades trazidas por este setor, a gigante da automação tem ampliado sua atuação e conquistado espaço em uma área bastante visada pelo mercado internacional. Esta semana a WEG anunciou que estará à frente da construção de três complexos de geração de energia fotovoltaica, na cidade de Coremas, na Paraíba. O projeto, que receberá R$ 426 milhões em investimentos, coloca a empresa jaraguaense entre os destaques do cenário internacional, superando, inclusive, empresas vindas de potências econômicas como Alemanha e Estados Unidos. Outros projetos assumidos pela empresa incluem sistemas de fornecimento de energia solar do Tribunal Superior Eleitoral e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que juntos somam investimentos acima dos R$ 5 milhões. Para falar sobre as tendências do setor e a atuação da indústria, o OCP conversou com o diretor de Novas Energias da companhia, João Paulo Gualberto da Silva. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre os avanços do mercado brasileiro, os investimentos previstos pela WEG e a importância deste setor para o desenvolvimento sustentável do País.
Linha de produção de aerogeradores no parque fabril WEG 2, em Jaraguá do Sul | Foto: Divulgação
  Confira a entrevista exclusiva na íntegra: As três usinas de Coremas somarão investimentos de até R$ 426 milhões. O que um projeto desta magnitude representa para a WEG? Em termos de faturamento, é algo significativo. É um parque solar bastante grande, de 90 MWp (megawatts-pico), e que vai ser um dos maiores já construídos no Brasil. Até então, a WEG vinha fornecendo componentes, mas neste projeto faremos a construção total do parque, com uma linha de transmissão de sete quilômetros, a subestação de 90 MWp, todo o projeto executivo e estatísticas. Vai ser o primeiro projeto da WEG onde a empresa é responsável pela estruturação da usina solar inteira. O projeto de uma usina é muito competitivo. São projetos enormes e de alto valor, e neste caso concorremos com empresas espanholas, americanas e alemãs, e acabamos ganhando a licitação. A WEG está ganhando um know how muito importante com este projeto. Quando tempo é necessário para desenvolver um projeto como este? A parte de construção é rápida, o que demora mais é a subestação e o prazo de entrega dos equipamentos. Uma vez com as licenças de construção em ordem, cada 30 MW (megawatts) é três meses. O projeto é dividido em três fases de 30 MW cada – a primeira ainda para este ano, a segunda para início do ano que vem e a terceira até outubro de 2018. Quem será beneficiado pelo projeto? Esta é uma obra de um leilão de energia de reserva, que nada mais é do que quando o sistema interligado nacional compra energia para dar segurança energética ao sistema. Quem paga por esta energia é todo o mundo, consumidores e agentes, de uma forma proporcional. É uma energia reserva que é comprada pelo sistema para casos de necessidade. Esta energia reserva representa cerca de 5% da quantidade de energia do sistema. Quais são os investimentos previstos pela WEG para o setor de energia solar atualmente? É importante saber que a energia solar tem dois grandes locais de atuação: a geração solar em usinas, como a de Coremas, e a geração distribuída, que são pequenas usinas, como a da Scar (Sociedade Cultura Artística, de Jaraguá do Sul), por exemplo. Como o mercado brasileiro reduziu muito o consumo de energia, por conta da situação econômica, já há uns dois anos não se contrata novos projetos de usinas de energia solar e eólica, e para este ano a expectativa é muito pequena. Então, a WEG tem investido forte na geração distribuída, que gera o crédito de energia localmente. Para energia solar ainda não temos planos de sair do mercado nacional, mas estamos investindo em uma linha de inversores solares para energia distribuída, que está sendo desenvolvida na Alemanha e é focada em inversores de pequeno porte, entre 5kW e 10kW (quillowats). Quais projetos estão sendo desenvolvidos atualmente neste sentido? Recentemente ganhamos uma licitação do Tribunal Superior Eleitoral, no valor de R$ 3,692 milhões, e vamos construir, junto com um parceiro de Brasília, um projeto pequeno, mas importante para a WEG. Estimamos que será necessário menos de um mês para construir a estrutura. Também ganhamos uma licitação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), de R$ 1,795 milhão, para instalar o sistema solar no teto da sede da Aneel. Além disso, também vamos ser responsáveis por fazer o sistema de 40 agências da Caixa Econômica Federal de São Paulo e 40 agências do Nordeste – pelo menos dez delas já estão prontas. Ou seja, estamos cada vez mais penetrando a geração distribuída pequena, em residências, comércios e pequenos negócios. Qual é a vantagem deste modelo de energia solar para o mercado? Hoje temos grandes centros com sistemas de distribuição perto do esgotamento. Uma cidade como Florianópolis, por exemplo, tem regiões onde surgem cada vez mais prédios, mas há uma limitação na capacidade de transmissão de energia da estrutura e dos fios da cidade. Conforme os usuários de energia aumentam, é exigido grandes investimentos no sistema, o que é caro e trabalhoso. Com a geração e o armazenamento de energia dentro de casa, diminui-se a necessidade destes investimentos, o que deve estimular com força o uso desta energia nos próximos anos. E no caso dos consumidores, qual a maior vantagem? A energia solar já está muito perto de se tornar mais barata do que a energia distribuída pela rede. Vou dar um exemplo: ao pegar uma conta de luz, é possível observar que ao utilizar mais de 150 kW por mês de energia, o usuário paga R$ 607,00 por MWh (megawatt hora). No caso da energia solar, o preço está em torno de R$ 300,00 na geração, ou seja, metade do valor. Claro que ao colocar no telhado de uma casa esse custo vai ser mais caro, chegando a uns R$ 500,00, mas este valor vem caindo. E a tendência é que a energia da rede suba, até porque os impostos não estão diminuindo, ao mesmo tempo em que a instalação da energia solar declina e o retorno, que hoje gira em torno de sete anos, vai sendo cada vez mais rápido – logo estará em quatro anos. Como caminha o mercado de energia solar no Brasil? Vamos demorar a nos igualar a países como China e Alemanha?Não, este será um processo rápido. A fabricação do módulo solar é hoje uma commoditie, existe uma sobreoferta de módulos no mundo, o que tem feito o preço despencar. Isso é bom para quem pretende investir nessa tecnologia – o preço dos módulos caiu 16% nos últimos seis meses e continua caindo. É uma tecnologia que já está dominada. De certa forma, a energia eólica já está mais madura no Brasil, enquanto a solar ainda passa por uma curva de aprendizado, mas este aprendizado deve ser rápido. Como o Brasil caminha para o futuro? O País já dá a importância devida às energias renováveis? Sim, todos os atores do setor elétrico têm uma consciência muito grande do efeito das mudanças climáticas e a necessidade de manter a nossa matriz limpa. O Brasil tem hoje uma das matrizes mais limpas do mundo - 66% da geração de energia é hídrica, cerca de 8% eólica, 2% nuclear e a solar ainda é insignificante, mas vai ser importante no futuro, até por conta do nosso nível de irradiação. Estamos muito perto da linha do equador e por isso o nordeste e sudeste são promissores. Aqui no Sul a irradiação é menor e por aqui a geração de energia é cerca de 16% menor do que no Nordeste. Mas ainda assim tem muito potencial. E em termos de energia eólica, qual é o foco atual? Neste sentido, a WEG está investindo em iniciativas para buscar pedidos no mercado externo e até mesmo a fabricação fora do Brasil. Isso tudo está em estudo, mas temos planos para ter uma atuação mais agressiva no mercado externo. Devemos anunciar estes investimentos em breve. Hoje temos aqui em Jaraguá do Sul a capacidade produtiva de 10 aerogeradores por mês, e por enquanto não há planos de investimentos em capacidade de produção, ao menos não para o mercado interno. Por: Kamila Scheneider