Voluntários da região realizam nova campanha para ajudar Aldeia Piraí durante pandemia

Por: Natália Trentini

12/05/2020 - 18:05 - Atualizada em: 28/05/2020 - 09:20

Um grupo de voluntários da região está realizando uma nova campanha para arrecadar recursos para compra de donativos para a Aldeia Piraí, localizada em Araquari. Em torno de 150 indígenas, do povo Guarani Mbya, estão de quarentena por conta da pandemia de Covid-19.

Durante o isolamento, os indígenas não estão podendo vender os artesanatos ou realizar oficinas e vivências no local, o que normalmente garante renda à comunidade.

Os órgãos governamentais têm proibido a saída ou entrada de pessoas em comunidades indígenas, para que os povos nativos se mantenham totalmente isolados durante a pandemia. A população indígena é considerada um grupo de risco pelo Ministério da Saúde e está mais suscetível ao vírus.

Cacique Ronaldo Costa destaca importância do apoio da comunidade às aldeia indígenas. Foto: Natália Trentini/Divulgação

A campanha vai arrecadar os recursos por uma plataforma de financiamento coletivo. O objetivo é comprar alimentos (cestas básicas, legumes, laticínios, verduras), itens de higiene (produtos de higiene pessoal e de limpeza), leite e fraldas para bebês, cobertores para o frio, tabaco para medicina e rezo, e logística (gasolina e EPI) para a realização da campanha.

A aldeia também precisa de ração para cães e gatos, já que muitos animais são abandonados próximo à BR-280, onde fica a aldeia, e são acolhidos pela comunidade indígena.

Ajuda mais que necessária

Uma primeira chamada para doações foi feita pelo grupo de voluntário em março. Ao todo foram arrecadados R$ 3 mil, que foram revertidos em alimentos e outros itens para a Aldeia – a prestação de contas sobre a destinação dos recursos pode ser conferida nesse link.

Segundo o cacique Ronaldo Costa, as doações da última campanha duraram cerca de 15 dias. Dentro da aldeia, a vivência é de comunidade, como uma grande família, e tudo é dividido – assim como algumas doações são enviadas para outras comunidades.

Ronaldo conta que só na região existem 10 aldeias, além dos guaranis pelo país, que vivem em cidades onde não existe uma rede de solidariedade tão forte.

“A gente está fazendo [doações]. Do índio para o índio, é família”, conta. “Apesar de ter 150 pessoas aqui no total, é assim que funciona o costume da gente, não importa se é de longe, tudo é meu parente e se precisar eu vou ajudar. Eu sei que não é muito”.

Os órgãos oficiais costumam levar donativos na comunidade, mas Ronaldo destaca que a frequência não é constante e os donativos não são suficientes para muito tempo.

A aldeia tem recebido doações pontuais de outros grupos, mas que normalmente não são tão expressivas em quantidade.

Degradação da natureza

“O povo indígena não dependia de fora. O povo tinha o próprio alimento. Tínhamos nossos casacos que tirávamos da natureza. Mas como é que a gente vai andar na mata se não tem mais nada? Olha pro lado é plantação de eucalipto, arroz”, comenta o cacique Ronaldo.

É costume da comunidade manter hortas, plantio de milho e melancia, ter um açude com peixes e algumas galinhas, onde eles têm trabalhado nas últimas semanas.

Mas tradicionalmente o sustento do indígena vinha da mata e com a natureza tão degradada, a arte indígena acabou virando fonte de renda.

Comunidade produzindo artesanato, fonte de renda para a Aldeia. Foto: Arquivo OCP News

Ronaldo mostra preocupação com os próximos meses diante do cenário. “As comunidades não podem sair para vender artesanato. Não pode sair e o pessoal não pode entrar, a gente está de mão amarrada. A gente não sabe até quanto a gente vai ficar [assim] e até quando nossos parceiros vão ajudar, ninguém tem garantia”, diz.

No ritmo da quarentena, o cacique ressalta que o povo tem trabalhado na terra e elevado orações diariamente na Casa de Rezo – como é de costume, todas as noites a comunidade toda se reúne para rezar por todo mundo.

Crianças guarani na Casa de Rezo, onde a comunidade se reúne toda noite. Foto: Barbara Elice/Divulgação

Ronaldo ressalta a alegria de receber ajuda nesse momento de dificuldades. “Para se fazer uma roda grande, sozinho você não faz. Precisa do outro”, finaliza.

Como ajudar

Os voluntários irão receber as doações em dinheiro e se responsabilizará em comprar e higienizar os alimentos e entregá-los em segurança. Para doar, basta acessar a plataforma nesse link.

 

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