Voluntário jaraguaense ajuda a construir casas em ‘comunidades invisíveis’ pelo Brasil

Bryan Muller é voluntário no TETO e busca recursos para nova ação no Paraná | Foto: Divulgação/ TETO Paraná

Por: Elissandro Sutil

16/05/2018 - 05:05 - Atualizada em: 25/05/2018 - 15:42

Quem o vê em meio a inúmeros jovens após a construção de uma casa não imagina que o caminho de Bryan Müller teve suas primeiras curvas em Jaraguá do Sul e que, por pouco, ele não está nas quadras de futsal.

Nascido e criado por aqui, o jovem, hoje com 27 anos, nutriu o sonho que todo garoto que viveu o que almejava: ser jogador de futsal. Mas o caminho ficou complicado e a bola foi deixada de lado.

Bryan mudou sua vida para Pontal do Paraná, no litoral paranaense, para cursar oceanografia na UFPR (Universidade Federal do Paraná), e foi no ambiente acadêmico que, mais uma vez, a vida deu uma guinada.

Ao conhecer o trabalho do TETO, o agora oceanógrafo mestre em sistemas costeiros e oceânicos, foi despertado para uma missão que ultrapassou os limites geográficos.

Assista ao vídeo:

Em resumo, o TETO é uma organização internacional que atua na América Latina e Caribe, trabalhando na defesa dos direitos das pessoas que vivem em comunidades que vivem em condições precárias e invisibilizadas, com o objetivo de diminuir a vulnerabilidade social por meio do engajamento comunitário e da mobilização de jovens voluntários e moradores.

Hoje, Bryan é um desses voluntários, mas para chegar a embaixador da organização, ele passou por alguns processos. Depois de conhecer a organização, há cerca de cinco anos, pelas redes sociais, Bryan levou um tempo até conseguir participar de um dos fóruns produzidos em Curitiba, uma das cidades em que o TETO atua.

O processo para participar

Ele conta que à época, como estudante universitário, não tinha dinheiro para as viagens entre o litoral e a capital paranaense e teve que esperar pacientemente até a graduação terminar e o orçamento ficar livre para participar do primeiro fórum.

A partir daí, o desejo de contribuir impulsionou Bryan a participar cada vez mais ativamente e o ápice foi a participação na primeira construção em uma comunidade, que ocorreu em dezembro de 2016. “Eu tinha interesse em contribuir porque entendia que era uma causa muito nobre e importante”, conta.

Reconhecer a situação social

A Comunidade Portelinha, em Curitiba, foi a primeira a contar com o trabalho de Bryan mais ativamente, na construção de moradias e o impacto na vida do oceanógrafo foi gigante.

“Me impressionou bastante porque eu já tinha andado no Centro da cidade e não imaginava que tinha uma comunidade ali, mas essa é a real intenção da cidade, esconder a pobreza. A imagem que os gestores de uma cidade querem mostrar é de uma cidade cheia de prédios, super desenvolvida”, avalia.

Para participar dessa construção, o jaraguaense contou com a desistência de um voluntário, já que as equipes são definidas com antecedência. E a partir daquele momento, Bryan seguiu o mesmo lema do TETO: “começou, não para”.

O jovem ainda afirma que ir até a comunidade foi um choque de realidade e uma motivação a mais para passar a refletir sobre sua própria realidade.

“Encontramos pessoas como a gente, que tem trabalho ou não, que tem sonhos, medos, família. São pessoas iguais a nós e conhecer essas pessoas, tentar se colocar no lugar delas, nas condições de vida que elas têm me fez passar a refletir sobre o que tenho e que, muitas vezes, não valorizo”, destaca.

Bryan já participou de três ações de construção em comunidades invisíveis de Curitiba e região metropolitana | Foto: Divulgação/ TETO Paraná

Envolvido cada vez mais com a organização, Bryan participou ainda de outras três construções, em 2017, duas em Curitiba e uma em Araucária, na região metropolitana.

Apesar do desgaste físico das construções que são realizadas durante uma semana, na qual os voluntários ficam alojados na comunidade, ele ressalta que o aprendizado se sobrepõe ao cansaço.

“O desgaste físico não chega nem perto do ganho que a gente tem. Eu acho que o principal aprendizado que eu tive é reconhecer a vida de privilégios que possuo e não percebia”, afirma.

Ele enumera privilégios que são até considerados básicos, mas que estão longe da realidade dessas comunidades, como acesso a saneamento e educação.

“São várias coisas que eu tenho na minha vida, mas milhares de pessoas no Brasil não têm. É preciso ser grato, saber que tenho esses privilégios e reconhecer que essa situação social também é minha responsabilidade”, afirma.

São diversas as ações realizadas pelo TETO, e muitos jovens do mundo todo participam. | Foto: Divulgação

Para Bryan, entrar em contato com a realidade vivida por inúmeros brasileiros fez cair por terra a ideia de meritocracia e ele ressalta ainda que essas comunidades são invisibilizadas pela sociedade e pelos “tomadores de decisão”.

“Crescemos muito com a ideia de meritocracia, mas lá a gente percebe que não é assim, às vezes quem quer muito não tem nenhuma oportunidade, ninguém dá uma oportunidade ou essa pessoa tem um cenári ali muito mais difícil do que o nosso”, enfatiza.

Ajude na campanha online

Voluntário, Bryan se tornou um embaixador do TETO, após participar de fóruns e ações, e agora busca arrecadar R$ 12 mil até o dia 7 de junho. O valor arrecadado já tem um destino: a construção de 28 moradias em Curitiba. A data também está definida: em julho.

O TETO mantém um calendário anual tanto de construções quanto de outras ações de intervenção e divulgação. A do mês de julho acontecerá entre os dias 21 e 27, no bairro CIC. Com a vaga garantida para participar, efetivamente, da construção, ele espera a liberação do trabalho para colocar a mão na massa.

Mas, antes disso, a missão é árdua, conseguir arrecadar o dinheiro que irá custear essas construções. São diversos embaixadores com metas a bater. No Paraná, segundo Bryan, são sete.

“Eu aceitei o desafio de captar o dinheiro, são R$ 12 mil em 45 dias, é bastante desafiador. Eu entendia que era uma forma de representar essas famílias que muitas vezes não são escutadas, entendia que poderia, de alguma forma, ser esse representante para tentar transformar vidas”, analisa. “Parto da ideia de que a pobreza também é minha responsabilidade”, completa.

Entre as ações para chegar a meta de R$ 12 mil, cofrinhos foram espalhados por Curitiba e Pontal do Paraná, eventos estão sendo organizados e Bryan também busca a colaboração de influenciadores digitais que possam divulgar a causa.

Nova ação acontece entre os dias 21 e 27 de julho | Foto: Divulgação/ TETO Paraná

Parceiras com empresas e instituições também são bem-vindas, garante o jaraguaense. E, para o dia 16 de junho, já há um grande evento agendado, o jogo das estrelas que irá reunir vários ex-jogadores. O jogo, que acontece no Couto Pereira, terá a renda revertida para a construção.

Além disso, Bryan realiza uma campanha on-line de arrecadação através da plataforma Benfeitoria. No site, é possível colaborar com valores que variam de R$ 20 a R$ 2 mil, que funciona com uma dinâmica de recompensas, mas também é permitido contribuir com outros valores.