VidacomFarinha: “às vezes, uma batata pode salvar a sua vida”

Rafaela Thomé fala dos desafios da culinária e do empreendedorismo na gastronomia | Foto Divulgação

Por: OCP News Jaraguá do Sul

20/07/2018 - 19:07 - Atualizada em: 27/07/2018 - 14:24

*Por Rafaela Thomé

O que acontece quando você espreme uma batata? Ora, uma batata é só uma batata e quando você a espreme ela pode virar purê, recheio, massa. Isso é o que acontece com a batata, mas o que acontece com você quando você espreme uma batata?

Uma batata espremida criou efeitos e resultados inesperados para mim e para todas as batatas que fossem cruzar o meu caminho dali pra frente. Isso aconteceu em um curso de massas frescas, numa noite qualquer de meio de semana.

Poderia ser apenas mais um dos cursos entre tantos outros que eu vinha fazendo no meu ano sabático. Aliás, além de cozinheira, posso me chamar de curseira profissional – nunca fiz tantos cursos num período tão curto de tempo. Nunca investi tanto em mim e nas coisas que me dão prazer.

Curso de barista, curso de aquarela, curso de costura, alguns cursos sem a mínima chance de continuidade (porque eram só testes mesmo, e eu descobri que não sou boa em muitas coisas), curso de fotografia de comida, curso de marketing em rede social, vários cursos de gastronomia, curso de chef, curso de cozinheira, curso de culinária plant-based e, finalmente, o curso onde a batata se tornou protagonista – o curso de massas frescas.

Uma batata sozinha é somente uma batata, mas quando ela encontra a farinha e se junta com o ovo, isso é quase um milagre. Foi esse o milagre que aconteceu depois da batata espremida. Eu comi aquele nhoque do curso como se fosse a última refeição da minha vida: se eu morresse ali, a sensação seria de morte com dever cumprido.

Naquela mesma noite aprendi uma receita de um molho de linguiça com bacon, que usava ervas frescas. Quase chorei quando provei. E foi nesse momento, depois do nhoque com este molho, daquela vibração e explosão de sabores dentro de mim que eu me lembrei de uma vida inteira. Uma vida inteira que eu não vivi. Era como se eu estivesse em débito com a vida, vivendo propósitos que não eram meus, fazendo coisas que não faziam sentido e atendendo a pessoas que não importavam.

Fazer nhoque é algo demorado, cheio de truques. Mas se alguém ama servir, o faz sempre com carinho. E eu tenho ótimas memórias dentro de mim sobre servir com carinho, memórias que vem à tona quando eu amasso batatas, quando afundo a mão no saco de farinha, enquanto toco uma massa.

A batata amassada e aquele molho resgataram em mim a necessidade de voltar a atividade de viver, para replicar as receitas que aprendi ao longo da vida.  E essa do nhoque com molho de linguiça e bacon eu te ensino na semana que vem!