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Umbandistas pedirão respeito e liberdade em manifestação neste sábado

Por: Elissandro Sutil

23/02/2018 - 11:02 - Atualizada em: 26/02/2018 - 12:02

A Federação da União dos Cultos Afro-Brasileiros (Fuca) está promovendo uma manifestação pelo direito de celebrar a religião. O evento acontece neste sábado (24), às 18h, na rua Egon Koch, no bairro Jaraguá Esquerdo. A organização espera um número expressivo de pessoas em favor da causa.

O professor José Aparecido Félix, presidente do Fórum Itinerante Afro-Religioso de Santa Catarina, que integra a organização da manifestação, ressalta que há preconceito e discriminação contra as religiões afro-brasileiras em todo o Brasil.

No entanto, um caso específico em Jaraguá do Sul gerou grande comoção entre os praticantes. Ele conta que recentemente uma casa de Umbanda foi proibida pela Polícia Militar de tocar os atabaques (instrumento musical de percussão) durante as sessões, em razão das constantes denúncias por parte da população, que se sente incomodada com o barulho.

Proibição impede celebração plena dos ritos

“Para nós, ele (o atabaque) é um instrumento essencial, é a nossa voz. Proibirem os atabaques é como se tirassem a eucaristia da missa católica. O atabaque faz parte do nosso instrumental litúrgico. Nós nos sentimos agredidos”, enfatiza, acrescentando que o instrumento ritualístico é justamente o que faz com que a atividade religiosa aconteça.

O objetivo do manifesto, de acordo com Félix, é trazer à população local uma consciência de que “nós temos o direito de celebrar a nossa religião, e há uma garantia constitucional que está sendo desrespeitada”.

O professor garante que esse caso não é pontual em Jaraguá do Sul e que naquela casa religiosa a Polícia já fez diversas intervenções. “E nós também não ficamos parados, fomos até o comando (da PM) e colocamos a nossa posição. E o que muito nos assusta é que o trabalho começa às 18h30 e às 19h a Polícia já está lá porque tem muitas chamadas”, aponta.

Adeptos se sentem intimidados

Atualmente, Jaraguá do Sul possui mais de 68 casas religiosas, nem todas federadas, segundo a Fuca. Conforme seu presidente, Antônio Piasson, muitas não se mostram, estão escondidas e intimidadas.

Elas (as casas) acabam não aparecendo, não dizendo o que são e o que fazem”, revela. Ele explica que é comum, por exemplo, que os praticantes deixem a cidade para participar das atividades da Umbanda em outros municípios.

No sábado, o movimento deverá pedir mais respeito e menos intolerância religiosa. “A liberdade religiosa está na Constituição, nós temos esse direito. Não é justo que sejamos tratados dessa forma”, contesta Félix.

PM diz que reclamações não se referem à questão religiosa

O sub-comandante do 14º Batalhão da PM, major João Carlos Benassi Kuze, disse que são muitos comuns reclamações de pessoas que moram perto de igrejas. Observa ainda que há mais reclamações acerca de som alto em igrejas evangélicas do que de cultos umbandistas.

Quanto ao caso específico registrado no bairro Jaraguá Esquerdo, explica que em nenhuma das vezes em que a PM esteve no local citado, sempre atendendo a alguma reclamação, algum dos vizinhos que reclamou do som dos atabaques se referiu à prática religiosa.

“Eles se sentem incomodados com o som em um momento de descanso, lembrando que estas reclamações são comuns em qualquer horário do dia em Jaraguá do Sul, onde muitas empresas ainda trabalham em 3º turno e os trabalhadores adotam horários diferentes de sono”, explica.

Porém, frisa que as abordagens aos cultos sempre foram respeitosas por todas as partes envolvidas, tanto que nem foram registrados boletins, e diz que o possível recolhimento dos instrumentos, em qualquer circunstância, seria a última alternativa, caso as reclamações se repetissem.

Umbanda também fica fora do turismo religioso

Antônio Piasson também observa que Jaraguá do Sul está trabalhando no projeto de turismo religioso e, mesmo que a Fuca seja uma entidade constituída no município há mais de cinco anos, a Umbanda não foi convidada a participar.

“Até hoje a gente acompanha pela mídia os católicos e os evangélicos se reunindo para criar esse roteiro religioso. E por que nós não somos chamados? Isso é um preconceito. Nunca fomos procurados para conversar”, lamenta.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP