Na bagagem dos colonizadores alemães de Jaraguá do Sul, assim como de outras etnias, vieram costumes ainda hoje cultivados na cidade. Um deles, ou melhor, a soma de muitos deles é materializada através da Schützenfest, que chega a 28ª edição no próximo mês. Uma tradição que chegou há muito mais tempo na cidade. De acordo com a historiadora Silvia Kita, os colonizadores alemães, não só de Jaraguá do Sul, mas de todo o país, trouxeram diversas atividades e quiseram perpetuar a cultura deles também no Brasil. Em Jaraguá do Sul, esse movimento iniciou a partir de 1895. “Dentre essas atividades culturais realizadas no país de origem está a tradição do tiro, por exemplo, que engloba várias coisas, não somente a questão do tiro em si. Nela está a Busca de Rei, que é uma tradição bem folclórica”, conta. x1002 A historiadora explica que esse costume, a marcha feita nas sociedades de tiro em busca do novo rei dos atiradores, conta com diversos aspectos da cultura: tem a banda acompanha todo o desfile, a gastronomia, porque o rei é recebido com uma mesa farta de quitutes alemães e bebidas, e os trajes típicos. “Isso se volta para os principais elementos importantes na cultura: a música, a vestimenta, a alimentação e a arquitetura, vista em muitas sedes de sociedades como o Salão Barg”, exemplifica. Ela completa dizendo que “um verdadeiro leque de informações culturais se traduz nas buscas de rei”. x1003 Em Jaraguá do Sul, a área com o maior número de sociedades fica entre os bairros Rio Cerro e Rio da Luz sendo esta, considerada por Silvia, a região que mais deu força para a manutenção dos costumes germânicos. “Eles trouxeram toda essa cultura e conseguem, mesmo após 140 anos da colonização do município, manter essa tradição. Tem percalços nesse caminho? Tem, mas eles conseguem manter de uma forma muito intensa”, revela. x1004 Schützen impulsiona manutenção das sociedades de tiro silvia Segundo a historiadora Silvia Kita, a Festa dos Atiradores trouxe o espírito da cultura alemã para dentro de Jaraguá do Sul novamente, mostrando à população que não participa efetivamente das sociedades que esse patrimônio precisa ser preservado. Apesar de acontecer apenas uma vez ao ano, a festa é resultado de atividades que ocorrem ao longo dos 12 meses. “Se olharmos para os municípios vizinhos, veremos que Jaraguá do Sul ainda é o que mais preserva as tradições. Nos outros, é como se a modernidade tivesse abocanhado elas (as tradições) e as extinguido. Jaraguá ainda consegue fazer com que isso permaneça. Acredito que a festa é o carro chefe da conservação. A Schützen é a mola propulsora dessa preservação”, afirma. Silvia lembra que a festa começou na década de 80, fruto de uma reunião entre as sociedades do Rio da Luz, que buscavam maneiras de fazer com que os jovens permanecessem nas sociedades. “Eles pensaram que tinham que fazer algo diferente para atrair esses jovens novamente para o tiro. Resolveram fazer uma festa única, reunindo todas as sociedades”, lembra. Como a discussão foi levada para a administração pública, ficou decidido que todas as sociedades do Vale do Itapocu seriam convidadas para participar, foi então que nasceu a Associação dos Clubes e Sociedades de Tiro do Vale do Itapocu (ACSTVI) e a Schützenfest. “A festa começou de uma forma muito familiar e o que guarda até hoje é o resgate da cultura e o voluntariado porque a festa é a feita, em boa parte dos casos, com trabalho voluntário”, enfatiza. Ela completa dizendo que o evento é um patrimônio cultural imaterial. “Esse patrimônio tem vários aspectos, que começam com a associação, tem o ponto alto na busca de reis, na atividade do tiro. Retomamos isso através da tradição e a Schützen é o ápice, o complemento que faz com que essas características se unam e que isso seja preservado”, enfatiza. A historiadora ainda destaca que também é importante que o poder público esteja presente e dê suporte para que essas atividades continuem vivas na cidade.