“Eu acho que não vou conseguir dormir lá. Não sei se vou conseguir deixar minhas filhas dormirem sozinhas. Tenho medo de acontecer alguma coisa e chegar antes nelas do que eu. Medo de não conseguir salvá-las”.
O sentimento de Luciane Freitas, 40 anos, é real e se justifica depois que a família saiu correndo de casa na madrugada da última segunda-feira (18), com o risco eminente de soterramento em Guaramirim.
A família foi recebida em meio a mais de 20 pessoas no abrigo montado para receber a população atingida.
O deslizamento ocorrido na Vila Freitas destruiu 10 casas e colocou outras dezenas em perigo, sendo inclusive interditadas pela Defesa Civil, como é o caso de Luciane. Apesar de não ter perdido a residência, ela teve que deixá-la por conta do risco.
As lembranças também assustam a aposentada Nadir Pereira Ribeiro Kolachneck, 53 anos, que vê o rastro de destruição no portão de casa. Duas casas de madeira que foram arrastadas pelo deslizamento se amontam na lateral do jardim.
Embora o imóvel não tenha sido atingido, familiares tiveram as casas afetadas e precisaram deixar o local. Nadir é uma das poucas pessoas que tem imóvel próprio no local atingido.
De acordo com a secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação, cerca de 80% das residências da Vila Freitas são alugadas.
“Era de madrugada ainda, aquilo fazia tanto barulho, tinha gente correndo descalço, com o pé machucado, foi horrível. Nós não sabemos direito o que fazer”, lamenta.
Sem ter certeza do que irá acontecer com os familiares, a aposentada espera que o município tome atitudes para amparar a população. “Todo mundo está traumatizado e sequer sabe como proceder”, destaca.
Moradora da Vila Freitas há 27 anos, Ivone Schfranski, de 49, teve a casa interditada pela Defesa Civil e desde domingo está na casa de familiares.
“Começou um barulhão lá em cima e era só gente correndo. Você não sabe direito para que lado correr, vinha arrebentando tudo. Era a mesma coisa que estivesse acabando o mundo”, lembra.
Ivone cobra um posicionamento do poder público com relação ao destino dos moradores que, ou perderam suas casas, ou não podem voltar para elas.
Graziele Borges, 35 anos, está passando os dias na casa de colegas e voltou ao local da tragédia na manhã de terça-feira (19).
Ela sabe que não tem como voltar para casa e admite que não conseguiria entrar sabendo que os filhos correm risco.
“Não tem como voltar para casa. Eu nem quero, não vou colocar meus filhos em risco. Nós só precisamos de um lugar para morar”, diz.
Aluguel social
O prefeito Luís Chiodini decretou, ainda na segunda-feira (18), situação de emergência no município.
Com isso, além de facilitar o acesso a obras e recursos federais que devem auxiliar nas ações de amparo às famílias, a liberação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para reconstrução das casas se torna viável.
Após a retirada das famílias com as casas interditadas, o passo é realizar o cadastro das que foram atingidas para traçar as melhores ações, ressalta a assistente social Janaína Regina Ferreira.
O levantamento já foi iniciado, explica, e após a conclusão, cada caso será analisado para que se tome as providências necessárias para realocação.
Chiodini explica que além de entrar com o processo de liberação do FGTS, a Prefeitura irá liberar o aluguel social, recurso que é disponibilizado para o custeio de pagamento de aluguel para as famílias atingidas.
“A questão agora é cadastrar para que a gente possa colocá-lo em prática. O teto é de R$ 700 reais. Vamos ter que buscar orçamento para colocar a disposição dessas pessoas, mas eu não vejo tanta dificuldade, é uma questão burocrática”, finaliza.
“A SC-108 está literalmente pendurada”
A cena de devastação na Vila Freitas choca, mas ainda pode piorar. A situação do solo e o asfalto cedido da SC-108 pode provocar novos deslizamentos, garante o diretor da Defesa Civil de Guaramirim, Ezequiel de Souza.
“Há novos riscos sim, se a previsão do tempo nos alertar que vem chuva. Se a chuva voltar aí o estado de alerta retorna. A SC-108 está literalmente pendurada”, enfatiza.
As trincas no solo do morro do Schmidt e a situação da rodovia preocupam e colocam o risco como eminente, por isso, a interdição parcial da Vila Freitas continua.
Segundo Souza, 25 casas, atingindo cerca de 45 pessoas, seguem interditadas no local por estarem expostas a um possível novo deslizamento.
O diretor ressalta ainda que, neste momento, não há nenhuma ação a ser realizada além da interdição preventiva. “Não tem muito o que se fazer, não tem obra de contenção. Não tem o que ser feito no momento além de evacuar o local e preservar as vidas”, finaliza.
Ele ressalta ainda que situações como essa sempre servem de alerta, mas afirma que todas as áreas do município foram mapeadas recentemente, portanto, não cabe uma revisão das áreas de risco no momento.
Saiba mais sobre o deslizamento
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