Tiro ao Alvo: Para manter a tradição

Por: OCP News Jaraguá do Sul

12/04/2016 - 04:04 - Atualizada em: 13/04/2016 - 08:15

As raízes da tradição do tiro ao alvo estão em países da Europa, onde grupos de homens, para proteger suas terras de saqueadores, utilizavam armas de fogo.

Com o passar do tempo, uma competição foi estabelecida entre eles para ver quem era o melhor em disparos contra um alvo fixo, o que resultou na criação da Schützenfest, ou Festa de Rei do Tiro, consagrando os melhores atiradores. Em Santa Catarina a tradição do tiro chegou com os imigrantes alemães no início do século 19, motivada pelo uso constante de armas de fogo na proteção das propriedades seguidamente atacadas por índios ou animais selvagens. E até hoje as Schützvereins (Sociedades de Atiradores), representam um importante legado da cultura alemã.

Não foi diferente no Vale do Itapocu onde esta prática esportiva desaguou, também, na Schützenfest, a Festa dos Atiradores, realizada desde 1989 e inserida no calendário anual dos grandes eventos turísticos de Santa Catarina no mês de outubro.

Na região, são 15 sociedades e clubes de tiro em atividade, porém, nem todas com estrutura que permita a prática do tiro ao alvo. O que interfere no interesse dos mais jovens pela modalidade, além de desinformação sobre a prática, avalia Christian Roberto Vota, há cinco anos diretor de tiro do Clube Atlético Baependi e treinador voluntário. Desde 1906 o clube realiza a Festa do Rei, a mais antiga entre as sociedades de Jaraguá do Sul e região.

2016_04_07 Christian Vota professor Tiro Baependi - em (2)

Vota cita manifestações que considera como preconceituosas de Organizações Não Governamentais (ONGs) até de outros países que acabam repercutindo negativamente na grande mídia brasileira. Dando a entender que praticantes de tiro alvo são pessoas armadas e propensas ao crime. Era o que dizia um projeto de lei do ex-deputado federal paranaense Dr.Rosinha que pretendia proibir também o tiro esportivo. A proposta foi rejeitada pela Câmara dos Deputados e o projeto arquivado. “Ao contrário, são pessoas devidamente treinadas, em plena capacidade de suas funções mentais, que sabem como usar uma arma esportiva corretamente e que jamais andam pela rua com as armas usadas nos estandes de tiro como sugerem (as ONGs), até porque há proibições rigorosas do Exército e da Polícia Federal neste sentido”, observa. Como exemplo, ele cita o atirador Samuel Lopes, sócio do Baependi, membro do Clube de Atiradores Jaraguá (CAJ) e destaque do tiro catarinense na atualidade. Lopes concorre a uma vaga para as Olimpíadas.

Maioria da população não tem raízes na cidade

Outro reflexo pelo baixo número de praticantes do tiro como esporte, que nos Estados Unidos começa a partir dos sete anos, diz Vota, é o fato de que 60% da população de Jaraguá do Sul não têm raízes na cidade ou germânicas. A comunidade tem pouca ou nenhuma conviência com os ambientes das sociedades onde a modalidade é praticada. Ele usa como parâmetro o próprio Baependi, com cerca de sete mil associados, entre os quais 500 assíduos, mas, hoje, com uma turma de apenas 37 interessados pela modalidade. “Um contingente resgatado, porque já foi menor, em torno de 20 pessoas”, observa o diretor de tiro. O lado positivo, analisa Vota, é que não há uma faixa de idade pré-estabelecida, incluindo o grupo que participa da competição de tiros da Schützenfest, entre os meses de março e setembro. “Aqui temos pessoas de todas as idades praticando o tiro, porque este tipo de esporte aqui (no clube) é incentivado “. A equipe é detentora do 2º lugar geral da competição realizada em 2015. “Mas vamos atrás do primeiro lugar este ano”, diz o instrutor.

Prática do tiro ressalta os valores humanos

A maioria ainda pratica a modalidade por pura diversão, porque o tiro mexe positivamente com a mente, observa Vota.  Destacando alguns valores cultivados com a prática do tiro como perseverança, foco, concentração, tranquilidade, paciência, disciplina e respeito. “O tiro de precisão se confunde com meditação tal o grau de concentração exigido. É preciso esquecer tudo que está ao nosso redor e focar somente no conjunto atirador, arma e alvo”, acrescenta Vota. Para ele, todo esforço é recompensado pelo prazer de ensinar a outros e “ver o time crescer em resultados, formando e fomentando a família do tiro baependiano”. O clube tem, hoje, 37 atiradores no campeonato da Associação de Clubes e Sociedades de Tiro do Vale do Itapocu, entre os quais 15 disputando o campeonato estadual de Carabina Seta. “Atirar, mesmo que em equipe, é competir contra si mesmo. Você sempre tem de melhorar a própria performance, porque quer ser o melhor entre os melhores. E é isso que faz com que esta modalidade tenha características quase únicas”, concluiu o diretor de tiro.