Terça-feira será dia decisivo para o caso AME Jonatas

Por: Windson Prado

19/02/2018 - 16:02 - Atualizada em: 20/02/2018 - 15:22

O caso do suposto desvio de recursos da Campanha AME Jonatas terá um novo capítulo nesta terça-feira (20). É quando três desembargadores do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) julgam o mandado de segurança ajuizado pela família Openkoski. No documento, Renato e Aline Openkoski, 20 anos, os pais do pequeno Jonatas, pedem o fim do bloqueio judicial das contas bancárias de onde está parte do dinheiro arrecadado pela campanha. Os recursos foram retidos pelo juiz da 4ª Vara da infância e da Juventude do Fórum de Joinville, Márcio Renê da Rocha, a pedido da promotora do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), Aline Boschi Moreira. Agora para utilizar o dinheiro no tratamento da criança, os pais precisam apresentar comprovantes das despesas à Justiça.

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Também a pedido do MPSC, a Polícia Civil passou a investigar o caso desde a semana passada. Quem comanda o inquérito criminal é a delegada Geórgia Bastos, titular da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso. “Vamos investigar se o casal cometeu algum crime. A princípio, estamos trabalhando em cima do artigo 89, da Lei da Pessoa Deficiente, que trata de crimes de apropriação indébita”, explicou a delegada Geórgia.

Até a tarde desta segunda-feira (19), a investigação que teve início na semana passada, já interrogou quatro pessoas. Os pais do pequeno Jonatas devem ser os últimos a serem ouvidos pela delegada. “Também já solicitei os autos da Ação Civil Pública para ter mais detalhes a respeito do caso. O prazo deste tipo de investigação é de 30 dias, mas é bem provável que pedirei ampliação do prazo, devido a complexibilidade do caso”, completou a delegada.

Uma série de controvérsias

As suspeitas de que os pais de Jonatas estariam dando uma destinação equivocada aos recursos da campanha AME Jonatas tiveram início no segundo semestre do ano passado. Foi depois que parentes e outras pessoas que ajudaram na campanha começaram a questionar a falta de transparência na prestação de contas do dinheiro arrecadado.

Empresário, Renato Openkoski, pai do pequeno Jon, nega as acusações de apropriação indébita | Foto Arquivo pessoal

Em menos de um ano, a campanha AME Jonatas arrecadou mais de R$ 4 milhões. O dinheiro fez com que a família mudasse o padrão de vida. Eles trocaram uma casa humilde no bairro Nova Brasília para viver em uma maior, no bairro Anita Garibaldi. Celulares de última geração e um carro importado também foram adquiridos pelo casal. A justificativa para os gastos é a de que tudo é utilizado para dar mais força à campanha e uma melhor qualidade de vida ao Jonatas, segundo Renato Openkoski.

A gota d’água, que revoltou muitas pessoas que ajudaram na campanha, foi uma série de fotos, tiradas por Aline e Renato em uma viagem de réveillon à Fernando de Noronha. Nos últimos meses, Renato afirmou em entrevista ao Jornal de Joinville e a Revista Veja que a viagem teria sido um presente de um médico amigo da família. Mas, neste domingo (18), em reportagem ao Fantástico, da rede Globo, o jovem se contradisse, falando que pagou pelas passagens com recursos próprios.

Antes do início da campanha, Renato atuava com palestras evangélicas. Agora, ele se diz empresário, dono de uma empresa que fabrica e vende camisetas, para ajudar no tratamento do filho. Tanto Renato quanto Aline negam terem desviado recursos da campanha AME Jonatas, para benefício próprio.

Durante todo o fim de semana, tentamos conversar novamente com Renato, mas ele não retornou às ligações. Nesta segunda-feira (19), a reportagem conseguiu falar com Renato, mas ele disse que não poderia dar entrevista porque estava ocupado. A família também bloqueou a exibição da página da campanha no Facebook

Do diagnóstico ao tratamento

O pequeno Jonatas tem um ano e meio e foi diagnosticado com AME (Atrofia Muscular Espinhal) do tipo 1 logo depois de nascer. Segundo o pediatra neonatologista e especialista em desenvolvimento infantil que trata de Jonatas, Guilherme de Abreu Silveira, esta é uma doença cruel que afeta o sistema muscular e neurológico. “Ela é causada por uma mutação em um gene responsável por produzir uma proteína que “protege” os neurônios motores, justamente os responsáveis por levar o impulso nervoso da coluna vertebral para os músculos. Sem essa proteína, os neurônios morrem e os impulsos não chegam, o que provoca a atrofia muscular e a paralisação dos músculos”, explica o especialista.

Pequeno Jon acompanhado dos pais, Aline e Renato (à esquerda) e a equipe médica formada pela enfermeira Nathalye Bucci e o pediatra Guilherme Silveira | Foto Arquivo pessoal

Não há cura para Ame, mas os pais das crianças diagnosticadas com a doença, apostam em um tratamento importado capaz de minimizar os efeitos da AME e dar mais qualidade de vida aos pacientes. O tratamento é feito a partir do medicamento chamado Spinraza. Cada dose custa R$ 350 mil. Foi em busca de recursos para comprar o medicamento que a família do pequeno Jonatas iniciou a campanha, que em pouco tempo ganhou proporções nacionais.

Com o dinheiro arrecadado, o tratamento começou a ser feito no início do ano. Até agora, a criança já recebeu três doses da medicação, num período de 45 dias. A quarta aplicação, segundo o médico que trata a criança, deve ser feita 30 dias após a terceira, ou seja, daqui há 15 dias. Depois disso, Jon deve fazer um tratamento constante, com aplicações de quatro em quatro meses.

Segundo o pediatra e os familiares do bebê, ele vem reagindo bem ao tratamento.

Cada dose do medicamento importado custa R$ 350 mil | Foto Arquivo pessoal

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