Sobras de tecidos se transformam em material para uso na construção e peças para móveis

Por: Elissandro Sutil

29/11/2017 - 09:11

Por meio de um projeto inovador e sustentável, uma estudante do curso de moda e um designer desenvolveram matéria-prima que visa solucionar um problema das indústrias têxteis: a sobra de tecidos. O estudo, realizado na Católica de Santa Catarina, em Jaraguá do Sul, resultou em um material ecologicamente correto, tão resistente quanto a madeira, que pode ser utilizado em construções e na fabricação de móveis. Nayara Ittner e Bruno Klein, criadores da placa que mistura os retalhos à resina de mamona, priorizaram o ganho ambiental obtido com baixa tecnologia.

A acadêmica da 8ª fase do curso de moda da Católica explica que a iniciativa nasceu de uma proposta de uma empresa de estofados da região, que buscava uma solução para os resíduos. “A ideia era reaproveitar a sobra de tecidos. Então, eu e o Bruno tínhamos carta livre para fazermos um projeto utilizando o produto. Optamos por criar uma matéria-prima que tivesse aplicação em vários mercados e em diversos usos”, aponta Nayara.

Ela revela que, no início, a dupla preferiu manter esse processo criativo bem aberto, permitindo-se usar a maior quantidade de material possível. Foram feitos diversos testes e o plástico chegou a ser cogitado, mas acabou sendo descartado. “Não tínhamos e nem queríamos usar maquinário de alta tecnologia. Nossa ideia era usar prensa mesmo, para mostrar que dá para fazer com o que a gente tinha. E assim não envolver tantos gastos energéticos, porque o intuito é ser sustentável. Buscando outras alternativas encontramos essa, um biomaterial com base oleosa e com fonte renovável, que é biodegradável”, ressalta a universitária, referindo-se à resina de mamona.

Crystian Freiberger, diretor industrial da empresa de estofados, revela que aproximadamente quatro mil toneladas de retalhos são enviados ao aterro sanitário por ano. Segundo ele, a empresa sempre se preocupou com a sustentabilidade, mas, agora, o foco era o reaproveitamento de material numa escala maior. “Estamos sempre buscando soluções para nossas demandas. As sobras de tecido já eram utilizadas no patchwork, por exemplo, mas de forma artesanal”, relata. Há aproximadamente dois anos, surgiu a ideia de reaproveitar os retalhos e dos alunos da Católica desenvolverem esse projeto.

A solução encontrada, uma placa rígida utilizando a resina da mamona, que pode servir para revestimento de maneira geral, foi obtida após muitas pesquisas e testes. De acordo com Bruno Klein, graduado em design pela instituição, esse biomaterial geralmente é incorporado à madeira e ainda não tinha sido colocado no tecido. O objetivo era otimizar o processo de maneira sustentável.

“A gente não queria ter um produto final muito maravilhoso, mas que no meio do processo soltasse fumaça, ou tivesse queima de alguma coisa, ou utilizasse outra energia que não fosse tão sustentável”, ressalta. Ele diz que é importante salientar que o desenvolvimento do projeto foi feito na Católica, mas, poderia ter sido realizado em casa. “Porque a prensa era o músculo e para picar o tecido era a mão e a tesoura. Tudo muito orgânico e doméstico, com baixa tecnologia”, defende.

 

Placa feita com resina de mamona e resíduos de tecidos, usando processo manual, resultou em material com alta resistência e produzido de forma sustentável | Foto Eduardo Montecino/OCP

Matéria-prima completamente nova

Coordenador dos cursos de design, moda e design de moda e orientador do projeto, o professor Netto diz que normalmente, quando pensam em design, as pessoas acreditam que é basicamente construir coisas diferentes, inovadoras e inusitadas. Mas a busca também pode ser por outras soluções. “Ao associar algo que era lixo para alguém a um novo material – a resina polimérica com base natural -, eles construíram uma matéria-prima completamente nova e que tem uma aplicação muito ampla para a própria indústria”, destaca.

Netto diz que este é um processo de design muito bem pensado, onde a indústria sai ganhando, porque diminui o seu impacto ambiental, e no qual o ambiente é beneficiado e a sociedade também, pois são geradas novas oportunidades de trabalho. “É o design pensando não só no produto bonito no fim do processo, mas em uma forma de atingir mais pessoas”, complementa.

Concluindo a pesquisa, Nayara e Bruno construíram o protótipo de uma banqueta, com estrutura em madeira de demolição e tampo feito a partir do aglomerado. A cor e a textura do material dependem do tipo de tecido utilizado, pois é a composição do pano que define o visual.