Apesar do perfil empresarial, Antídio Lunelli (PMDB) promete não ficar atrás de uma mesa se for eleito prefeito de Jaraguá do Sul. O candidato diz que estará constantemente nas ruas e não fechado em um gabinete. Munido de informações e preparado para responder à entrevista, Lunelli compareceu à redação do OCP na última sexta-feira e, confrontado, disse que é possível levar referências do modelo aplicado em empresas ao setor público, mas garantiu que se eleito haverá espaço para o diálogo.
Tendo o fortalecimento da matriz econômica como uma das principais propostas, o candidato disse que não há possibilidade para aumento de impostos e adianta que irá desburocratizar o setor para que o município possa atrair investimentos. “O Brasil já é burocrático, Santa Catarina mais ainda e Jaraguá do Sul é o pior de todos, por que isso?”, questiona Lunelli. O empresário também aposta na consolidação do parque industrial de acordo com estudos do novo macrozoneamento, aprovado este ano, e no Centro de Inovação, estrutura em processo de finalização.
Lunelli repetiu diversas vezes que não fará promessas antes de estar totalmente inteirado da situação financeira da Prefeitura, por isso não antecipa como ficará sua equipe de gestão, entretanto, ressalta que não tem compromissos políticos, mesmo tendo uma coligação com seis partidos. “Eu colocarei na Prefeitura pessoas realmente comprometidas com o nosso projeto. Caso não rendam no trabalho, serão substituídas como em qualquer empresa. Não terei cargos políticos que não sejam eficientes”. Na entrevista a seguir, o empresário que se filiou ao PMDB em 2012 e que disputa uma eleição pela primeira vez, fala também sobre saúde, educação, mobilidade, cultura e lazer.
O senhor deve ter percebido que esta entrevista está sendo feita por seis mulheres. Então vamos aproveitar este gancho para começar. Nós mulheres avançamos muito, mas ainda enfrentamos diversos obstáculos, principalmente em relação ao mercado de trabalho. Na gestão pública não é diferente. Se eleito, como deve ser a ocupação do primeiro escalão em relação às mulheres. Elas devem ter espaço, e qual espaço?
A participação das mulheres hoje na sociedade é de suma importância, tanto no setor público quanto no setor privado. Exemplo disso é que nossas empresas possuem muitas mulheres em cargos de chefia. Elas têm sensibilidade em diversas áreas como por exemplo, minha irmã Viviane que é diretora administrativa financeira do grupo Lunelli e exerce um papel fundamental. Mas isso é uma questão de competência, acima de tudo tem que ter competência, o que não falta nas mulheres. Mas quero deixar claro que se for eleito cada cargo será analisado de forma criteriosa, não temos tempo para errar. Vamos tratar da igualdade e condições a todos. O dia que nós tivermos igualdade nas condições, nos estudos, nas formações, que é aquilo que eu sempre falo e sonho, da mesma forma que existe o sistema único de saúde, o projeto, a essência dele é maravilhosa, é fantástica. E assim também deveria existir na questão de educação, um sistema único de educação até o nível técnico. Até aquela idade de 16, 17 anos, depois uns dois anos no mínimo de regime militar, forte, de formação. E depois uma universidade. Transformaríamos o Brasil em um país de primeiro mundo.
A falta de vagas na creche tem atingido muito as famílias. Atualmente são aproximadamente 800 crianças numa lista de espera, apesar das medidas que os governos tomam para tentar sanar esse problema. O senhor vê algum tipo de parceria com alguma entidade privada ou até uma solução pública?
Creches não existem mais. Hoje, a cidade possui 29 centros de educação infantil. Com cerca de sete mil alunos, um investimento mais do que justo de R$ 945 por cada aluno. Já existem empresas parceiras dos centros, vamos ampliar essas parcerias entre o público e o privado. Otimizar as despesas sem perder a qualidade do ensino. Rever os valores de licitação, ter mais convênios com os grandes empregadores da cidade. Esta é a primeira atuação. Depois de equilibrar as contas e aumentar nossa receita vamos ver quais são os bairros que possuem a maior demanda e buscar recursos junto ao Ministério da Educação, junto ao presidente Temer, para fazer novas creches e depois arcarmos com as despesas mensais. Vou trabalhar de forma incansável, priorizar este problema na minha gestão e dar um pouco mais de qualidade de vida para as mães que precisam trabalhar todos os dias. Só que nós temos que verificar para ver se realmente são as mães que precisam trabalhar. Daí tem que se dar uma olhadinha com lupa.
Lunelli afirmou que é preciso dar aos servidores ferramentas de trabalho para garantir eficiência
O senhor pensaria em abrir mais creches ou buscar uma parceria?
Não, primeiro, ter os números na mão. Mas se você vê pela quantidade de crianças que nascem mensalmente em Jaraguá do Sul, isso quase dá uma creche por mês, um centro de educação por mês. Como eu respondi, tem que ser analisado, tem que ser olhado.
Como o senhor pretende fazer Jaraguá do Sul uma cidade melhor para se viver os momentos de lazer? Quais são os seus projetos para essa área?
Precisamos de mais praças, mais áreas de lazer e parques para as famílias. Por exemplo, temos o parque Malwee, na região sul, na Barra. Porém na Ilha da Figueira, nas regiões norte, Rau e Água Verde, faltam opções de entretenimento para a comunidade. Além disso, queremos que sejam locais fomentadores do esporte e da cultura. A Prefeitura possui inúmeros terrenos que podem receber essas áreas de lazer. Sabemos que não são investimentos altos, porém, precisam ser priorizados. Se investirmos nele, teremos redução nos gastos com a saúde pública, pois estamos atuando diretamente na prevenção dos nossos jaraguaenses. Jaraguá tem cerca de 80 áreas de lazer, mas aí estão os considerados parquinhos.
O atual governo reformulou a Schützenfest, através de consulta popular foi decidido que a mudança de data auxiliaria no sucesso da festa. O senhor, se eleito, manterá esse modelo, que segundo as pesquisas feitas com o público tiveram aceitação?
Sem dúvida, a nossa Schützenfest é um sucesso, uma tradição que precisa ser mantida e melhorada. Vamos investir para trazer mais turistas e fomentar a economia da nossa cidade. Queremos que a Schützenfest entre no calendário nacional das festas tradicionais catarinenses.
Os estudos para o Plano Diretor mostraram que Jaraguá o Sul tem uma alta taxa de desocupação na área central, enquanto a maioria dos loteamentos é levada para bairros distantes, dificultando que o poder público consiga levar infraestrutura urbana para esses locais. Esse tema esbarra diretamente na especulação imobiliária. Como o senhor vê essa situação? É possível colocar a função social da cidade acima do interesse econômico?
Jaraguá do Sul está crescendo verticalmente, o que é natural. O interesse econômico existe e vai continuar existindo. Assim como deve ser observado o cumprimento das leis de construção do município. É preciso avaliar tecnicamente a instalação de condomínios e loteamentos para cada área da cidade. Muitas vezes o que é bom para o Centro não é bom para outras regiões do município. O Dante Menel, por exemplo, tornou-se um problema. A localidade não tinha infraestrutura para receber tantas famílias e o impacto não conseguiu ser absorvido pela Prefeitura, gerando uma série de problemas ao seu redor. Projetos sem planejamento não farão parte do nosso governo. Ok? Aquele depósito de pessoas, isso tem que ser mais humanizado, tem que ser de uma forma diferente.
Qual será a política diante de impostos municipais, haverá mudanças ou revisões?
Olha, na atual situação hoje, como nós nos encontramos, aumentar impostos nem pensar. As pessoas não aguentam mais pagar tantas tarifas, o que vamos fazer é trabalhar para aumentar o fluxo do nosso caixa, atraindo mais empresas para Jaraguá. Melhorar as condições de trabalho, desde o micro empreendedor individual até empresas que empreguem mais de mil pessoas. Se dermos confiança para eles, e mostrarmos competência em nossa gestão, eles vão empreender mais. Quem não quer o apoio do governo para expandir e crescer? Então o nosso foco é nisso aí. Na geração de emprego, no crescimento da economia do nosso município.
Se fosse eleitor nos Estados Unidos, votaria em Hilary Clinton ou Donald Trump?
Eu vou te falar uma coisa, eu não estou acompanhando. Hoje eu estou focado na nossa eleição aqui. Hoje estou focado em Jaraguá do Sul.
O candidato afirma que é preciso desburocratizar a Prefeitura para garantir novos investimentos
A Prefeitura está prestes a lançar o edital de transporte coletivo, mas ainda há um processo judicial onde a atual concessionária tenta reaver mais de R$ 40 milhões de ressarcimento. Qual será o posicionamento da sua gestão a respeito dessa situação?
Se a empresa entrou com um recurso é direito questionar. Eu, caso seja eleito, vou trabalhar para preservar os cofres públicos da nossa cidade, mas precisamos ter um estudo jurídico forte sobre o assunto para tratarmos melhor o caso. Eu, fora da Prefeitura, na verdade, sei tanto quanto vocês.
Existe uma insatisfação dos usuários do transporte coletivo em Jaraguá do Sul e isso gera também a falta de demanda. Como o senhor vê essa questão da mobilidade no município?
Eu acho que o que talvez deva existir é uma forma de se levar as coisas para que as pessoas consigam entender. Talvez deva existir mais transparência, que é exatamente em cima daquilo que nós pretendemos trabalhar. Não estamos aqui criticando A, B, ou C, entende? Mas a forma como que se trabalha numa empresa, onde temos os números abertos, tem uma participação nos resultados, todo o colaborador sabe o que está acontecendo. Até porque nós estamos no mesmo barco, na mesma família. E as mesmas coisas tem que estar acontecendo dentro do setor público. Agora, nunca conseguiremos agradar a todos, seja ele no transporte público, seja na saúde, seja na educação, isso jamais vai acontecer, nem Jesus Cristo conseguiu. Mas nós podemos ser o mais transparente possível, o mais justo possível, e entender realmente as verdadeiras dificuldades da população. Quando existem pessoas de boa vontade tudo se resolve, só não tem solução para a morte, o resto tem solução para tudo.
A diminuição de cargos na Prefeitura, promessa de campanha, será feita por reforma administrativa, com a efetiva extinção dos cargos? Com quantos cargos políticos o senhor pretende trabalhar?
Antes de falar de cargos precisamos saber a real situação do caixa da Prefeitura. Quem me conhece sabe que não prometi cargos para ninguém. Na minha campanha não prometi um prego para ninguém, absolutamente nada. Eu colocarei na Prefeitura pessoas realmente comprometidas com o nosso projeto. Caso não rendam no trabalho, serão substituídas como em qualquer empresa. Não terei cargos políticos que não sejam eficientes.
O atual governo ampliou de duas para seis escolas o programa de educação integral. O senhor pretende dar sequência e ampliar o programa?
Óbvio, não vou só manter como queremos trabalhar para ampliar a educação integral. É um programa fundamental para tirar os jovens da rua, inserir eles na cultura, no esporte, revelando talentos em matemática e outras áreas. E para o futuro da nossa cidade nós precisamos resgatar essas crianças. Sem cultura, sem a prática esportiva, teremos uma cidade sem cultura, que é um mero depósito de gente, sem destino e sem futuro, essas são palavras do senador Luiz Henrique da Silveira. Agora tudo depende (gesto de dinheiro), mas faremos o melhor, pode ter certeza disso.
Para atrair novas empresas e investimentos, é preciso antes investir em infraestrutura, de forma a tornar a cidade atrativa aos olhos do empreendedor. Como o senhor pretende solucionar esta equação diante da defasagem orçamentária atual?
Jaraguá é um polo de inovação e vai ficar maior com a construção do Centro de Inovação. A Prefeitura vai ampliar mais essa área com a construção do setor, temos informações que os recursos já estão garantidos pela Secretaria do Estado de Desenvolvimento Econômico. Além disso, se for eleito tenho como compromisso um novo parque industrial, a área já está identificada no macro zoneamento da cidade na região rural do bairro João Pessoa e no Rio Cerro II. Isso não precisa de investimento da Prefeitura, precisamos atrair empresas do mundo inteiro para Jaraguá, afinal, a cidade possui uma das maiores fabricantes de motores elétricos do mundo, a WEG, a maior empresa de sabores do mundo, como a Duas Rodas, e diversas empresas do setor têxtil e uma série de exemplos. Sabemos que já existem empresas que querem vir para cá, vamos identificar e elas mesmas farão os investimentos necessários para o setor industrial.
Existem algumas ações específicas para atrair investimentos?
Olha, em primeiro lugar, é a garantia de determinadas leis que têm que ser aprovadas pela Câmara de Vereadores para que não aconteça como foi feito e hoje tem impasse jurídico. Deixaram as brechas e tem que ser melhor estudado, analisado e adequado. Porque o que acontece hoje é que nós perdemos empresas para Guaramirim, Schroeder, Massaranduba, Araquari, Barra Velha. Em Jaraguá ficou tudo muito difícil, as licenças são muito demoradas. Eu mesmo tive projetos dentro da Prefeitura que levaram dois anos e meio, isso é inadmissível. Não sei o que se pensou aqui, ou se imaginou que estavam em cima da onda e hoje o resultado está aí. Falta incentivo fiscal, diálogo. O empresário tem que ser tratado com respeito, não como um bandido. Os valores estão invertidos, quem trabalha, quem produz hoje? O Brasil já é burocrático, Santa Catarina mais ainda e Jaraguá do Sul é o pior de todos, por que isso?
O investimento em Saúde passou de 20% do Orçamento, em 2012, para 27% no ano passado. O atual governo abriu novos postos, fez os médicos baterem cartão e adotou o agendamento de consultas por telefone, mas ainda há demanda reprimida. O que o senhor pretende mudar no setor?
Jaraguá tem uma boa infraestrutura na saúde, mas sabemos que podemos fazer ainda mais. Nossos hospitais são referência em todo país e vamos reforçar essa parceria com eles. Temos o desafio de melhorar os exames, consultas e as especialidades, que são lentos. Vamos fazer gestão na saúde com tecnologia para economizar recursos. Fazendo com que melhore nossa possibilidade de investir nessa área primordial. Com relação ao pronto atendimento, queremos ampliar a capacidade de atendimento.
Se eleito, qual será o seu relacionamento com a imprensa? O senhor está preparado para receber questionamentos e críticas?
Certamente. Críticas, a boa crítica é saudável e serve para construir. Só temos que cuidar com a crítica para que ela não seja politiqueira, entende? Mas a boa crítica é saudável. Sempre estarei disponível, apesar de que não serei um prefeito de gabinete, às vezes, vocês terão que ir atrás de mim em qualquer canto do município. Até porque o nosso projeto é transparência total, não estou dizendo que a atual gestão não seja, é uma forma diferente de levar para o público, para o povo. Eu acho que dá para fazer isso muito bem e para isso precisamos da imprensa.
O senhor é um empresário bem sucedido acostumado a administrar, mas a administração pública não segue a mesma lógica da privada. O senhor está preparado, se eleito, para sentar-se à mesa, ouvir propostas divergentes e negociar com a Câmara de Vereadores, por exemplo?
Eu não concordo com a sua colocação no seguinte, princípio de gestão em liderança é igual para gerir uma entidade, vender uma ideia ou até administrar um país, claro que quero ter a melhor relação com a Câmara de Vereadores e terei. Queremos fazer a maioria dos vereadores. Isso vai ser construído durante o mandato, precisamos ter diálogo em relação política, principalmente defender os interesses do cidadão e não dos políticos. Os cidadãos são muito maiores do que os políticos, quanto a isso fiquem tranquilas. Agora o princípio de gestão, de administração, é o mesmo em qualquer uma.
A respeito de políticas sociais, o senhor já disse em entrevistas anteriores que “não existe almoço grátis”. Em seu plano de governo, porém, o senhor afirma que sua proposta de gestão se orienta na integração de cinco matrizes, uma delas a do desenvolvimento social. Como pretende trabalhar esta matriz? O que será feito?
Não existe almoço grátis para você que é jornalista, para mim que sou empresário, para o servidor da Prefeitura, para ninguém. Se vem recurso do governo federal ou estadual, alguém está pagando a conta e, mais uma vez, quem paga isso somos nós. Por isso vamos zelar pelo dinheiro do povo que paga impostos, trabalha e luta diariamente para sobreviver. Todos os benefícios sociais serão mantidos, mas vamos passar a ser mais criteriosos. Beneficiar quem realmente precisa e monitorar os efeitos no desenvolvimento dessas pessoas. Afinal, isso é garantido por lei e ninguém pode mexer nesses direitos, pelo menos por enquanto.
Em encontro realizado na Câmara com os servidores o senhor disse não assegurar o reajuste salarial para a categoria, mas garantiu que os direitos trabalhistas serão respeitados. Como será essa relação com os servidores e qual a sua estratégia para manter as contas públicas em dia e mesmo assim satisfazê-los?
Não disse em momento nenhum que eu não daria aumento. Eu acho que você está equivocada. O reajuste pela inflação é de direito do servidor público como de qualquer outro funcionário, qualquer outro que trabalha. O reajuste, mesmo nós com dificuldades que temos, o sindicato relata uma falta de 15% ou outro valor, não existe condições, na atual situação, mal e mal conseguimos repassar a inflação com muito sacrifício. O nosso produto final está caindo violentamente de preço, tanto isso que a margem de lucro, na última década, caiu pela metade. Esta é a realidade, então nós precisamos avaliar isso tudo. Tudo aumenta, preço do feijão, energia, por isso eu acho que o reajuste é direito de todos. Eu não acompanho como foram as negociações nos últimos anos, mas tendo recurso, caixa para isso, daremos ao menos a inflação. Agora, eu não posso prometer ou assumir um compromisso em cima de alguma coisa que eu não tenho na mão. Não sei por que o servidor fica com tanto medo, tão ansioso, sendo que tem as garantias por lei.
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