Profissionais da saúde se recusam a tomar vacina contra o Covid-19

Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

Por: Isabelle Stringari Ribeiro

27/05/2021 - 15:05

O técnico em imobilização ortopédica, Pedro Alberto de 46 anos que trabalha em um hospital particular na zona oeste do Rio de Janeiro, já poderia ter recebido ao menos a primeira dose da vacina contra o coronavírus, tanto pela profissão como pela idade. Porém, Pedro não tomou a vacina porque não quis. As informações são do Metropoles, que entrevistou Pedro sob a condição de não revetar seu nome completo.

O profissional da saúde disse que se negava a tomar a vacina por diversas razões. Dentre elas, a de que não confiava na eficácia de nenhum dos imunizantes disponíveis hoje no país (Coronavac, AstraZeneca e Pfizer).

Mesmo com diversos testes já publicados e revisados por cientistas nacionais e internacionais e ainda tendo a autorização da Anvisa, agência responsável pela autorização das vacinas no Brasil, Pedro não acredita na eficácia dos imunizantes.

“Por que vou tomar vacina se existe um medicamento recomendado pelo presidente da República?”, disse o técnico em imobilização ortopédica.

O profissional se refere à cloroquina, cujo uso foi amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, embora não tenha nenhuma eficácia cientificamente comprovada contra o vírus.

Para o profissional da saúde, o esforço nacional em prol da vacinação não passa de uma “armação para se gastar mais recursos públicos”.

Pedro faz parte de um grupo de profissionais de saúde que se negam a tomar a vacina, mesmo trabalhando diariamente atendendo a milhares de pessoas em hospitais e assistindo de perto à triste realidade da Covid-19 no país.

Os casos de trabalhadores da área que se recusam a ser vacinados têm aumentado cada vez mais em todo o país e consequentemente.

No Hospital da Zona Sul de Londrina, localizado no Paraná, 10 dos 400 funcionários se recusaram a imunização. Dois deles morreram após contraírem o coronavírus: a técnica de enfermagem Angela Marques, de 54 anos, e o auxiliar administrativo na enfermaria, Jeferson Alves da Costa, de 34 anos.

Em Alagoas, a enfermeira Priscila Veríssimo, de 35 anos, morreu em fevereiro deste ano, após ter sido contaminada pela segunda vez. Ela também se negou a tomar a vacina.

O Ministério da Saúde diz, em nota, que trabalha para reforçar “a importância da vacinação para Covid-19 e orienta para que as pessoas que fazem parte do público prioritário da campanha busquem os postos de vacinação”.

Em plenário, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em dezembro, por unanimidade, que quem optar por não receber as doses da vacina contra a Covid-19 deverá sofrer punições ou medidas restritivas.

No entanto, Pedro entende que não pode ser obrigado a se vacinar. Quando questionado se colocaria o emprego em risco, caso o hospital condicionasse sua permanência no posto de trabalho à vacinação, o profissional declarou que não tomaria e pediria para ser demitido.

A última pesquisa divulgada pelo Datafolha sobre o tema mostra que apenas 8% dos brasileiros não pretendem se imunizar; por outro lado, 91% da população manifestam-se a favor da vacinação; 1% preferiu não opinar.

Thaluana Alves, advogada especialista em direito do trabalho e direito empresarial, afirma que, neste caso, a demissão se enquadraria em uma justa causa.

“Não existe a opção de não se vacinar. Ele pode prejudicar a coletividade pública. Poderá ser demitido com base no artigo 482 da CLT: incontinência de conduta e perda dos requisitos estabelecidos para o exercício da profissão”, explica Thaluana.

Uma auxiliar de limpeza foi demitida por justa causa de um hospital em São Caetano do Sul, no ABC paulista, após recusar-se a tomar a vacina. A funcionária tentou recorrer da decisão, mas não teve sucesso.

“A necessidade de promover e proteger a saúde de todos os trabalhadores e pacientes do hospital, bem como de toda a população, deve se sobrepor ao direito individual da autora em se abster de cumprir a obrigação de ser vacinada”, disse a juíza do caso.

O técnico Pedro Alberto disse que mudaria de ideia e tomaria a vacina somente se o Governo Federal garantisse que os imunizantes funcionam.

“Se o Governo Federal se responsabilizasse, garantisse a eficácia, aí, sim, eu tomaria a vacina. Aí, sim, seria confiável”, conclui.