No Brasil, os profissionais de saúde foram os primeiros a receber a imunização contra a Covid-19 em janeiro deste ano. Porém, como mostram alguns estudos, há uma queda da imunidade gerada pelas vacinas após 6 meses e a necessidade da aplicação de uma dose complementar em pessoas que estão na linha de frente passou a ser avaliada em todo o mundo.
A pedido do Ministério da Saúde, a Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (Cetai) está desenvolvendo um estudo para verificar se médicos, enfermeiros e demais profissionais que trabalham em hospitais e no atendimento à população apresentam, nesse momento, mais risco de serem infectados.
“Vamos cruzar os dados dos vacinados com os números de casos da SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) do Data-SUS, aí a Cetai e o Ministério da Saúde poderão tomar uma decisão sobre o reforço dos profissionais da saúde. Essas decisões têm de ser tomadas com base em dados. No início, ninguém tinha dado nenhum, até porque não tinha vacina, e todos trabalhávamos sem vacina. A vacina é uma esperança e traz segurança para os profissionais de saúde. No momento que tivermos um dado definitivo que implique uma proteção inquestionável, não tenha dúvida de que tomaremos uma decisão definitiva”, afirmou o ministro Marcelo Queiroga, na quinta-feira (26), em Brasília.
O infectologista Alexandre Naime, consultor do Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid da Associação Médica Brasileira (CEM-Covid/AMB), concorda que ainda não há dados suficientes que provem a necessidade da terceira dose, mesmo sabendo que esses profissionais estão mais expostos à doença.
“Não existe, ainda, uma robustez de estudos que nos permitam dizer que há maior risco em relação à falta de proteção das vacinas nestes profissionais da saúde que estão completamente imunizados, independentemente da base vacinal (Pfizer, AstraZeneca, CoronaVac ou Janssen). É necessário que se progrida em estudos científicos que nos mostrem que a população de saúde abaixo dos 60 anos, que não vai ser contemplada, pelo menos inicialmente, estão em risco. Por ora, não existe um consenso na literatura”, afirma o médico.
James Francisco dos Santos, presidente do Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo), também prefere esperar que os estudos mostrem essa necessidade da proteção complementar.
“Entendemos que, até o momento, as decisões dos órgãos competentes – embasadas em estudos e na ciência – têm sido assertivas nas indicações de medidas para um bom andamento na imunização e assim devem seguir. O Coren-SP e a Enfermagem têm compromisso com a ciência para continuar salvando o maior número de vidas”, observa James.
A infectologista Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que a evolução da variante Delta no país indica o uso da terceira dose também na área da saúde. A terceira dose foi autorizada pelo ministro da Saúde em idosos a partir de setembro.
“Neste momento, a terceira dose deve ser dada para o grupo que foi vacinado há muito tempo, como os idosos bem idosos, os profissionais de saúde que estão na linha de frente e não podem parar”, afirma ela.
Alexandre Naime admite que os riscos são maiores, mas afirma que os profissionais estão seguros, principalmente, nos ambientes de trabalho.
“Obviamente, há um entendimento de que os profissionais de saúde, principalmente os que estão na linha de frente, tenham mais exposição, mas isso não significa que eles estejam desprotegidos”, alerta o médico.
“Primeiro, porque os profissionais de saúde obrigatoriamente usam os EPI (equipamento de proteção individual). Segundo, porque todos devem estar completamente imunizados, e, principalmente pessoas abaixo de 50 anos, por enquanto, não há necessidade de uma terceira dose de complementação, mesmo no que tange os profissionais de saúde”, acrescenta Naime.
Mas, como tudo desde o surgimento da Covid-19 ainda é muito recente, somente o passar dos anos e a realização dos estudos poderão trazer clareza para mais uma questão relevante na pandemia.
“Tudo muda, que é justamente o que acontece na pandemia. Estamos fazendo ciência em tempo real. Trocando pneu com o carro andando. É uma questão muito importante de se avaliar e a definição sairá nos próximos meses. Até porque não é uma demanda só brasileira, é uma demanda mundial e diversos países estão realizando estudos sobre o tema”, conclui o infectologista.