Fundada há quase 60 anos e tendo completado ontem os 13 anos de inauguração do prédio do Centro Cultural, a Scar (Sociedade Cultura Artística) é uma das mais expressivas iniciativas que atua na formação e fomento artístico na cidade. Com cerca de mil alunos, 500 deles bolsistas, e tendo alcançado a marca de 340 eventos realizados em um ano, o local se consolidou como uma das entidades culturais mais atuantes do Estado. Em ano de comemorações para a entidade e de crises financeiras no país, o presidente da Scar, Udo Wagner, fala em entrevista ao jornal O Correio do Povo, sobre os principais desafios, o que mantém o Centro Cultural atuante no dia a dia, planos para o futuro e a sustentabilidade abraçada pelo entidade. Importante pólo de cultura "Ano passado sediamos a realização de 340 eventos com a participação de 130 mil pessoas. Desconheço no país entidade que produz tanta cultura. Destes 340, 80% dos eventos foram na área cultural e os demais comercial, como palestras, convenções e formaturas, por exemplo. Nós fomos de um elefante branco, como muitos diziam, para o teatro mais bem equipado do Brasil. Enquanto alguns teatros apenas disponibilizam espaço para apresentações, nós temos núcleos de produção e isso contribui para a formação e desenvolvimento da cultura. Em média, a Scar é frequentada mensalmente por 10 a 11 mil pessoas. Podemos dizer que, quando chegarmos aos 150 mil visitantes - que é o número de habitantes da cidade e é nossa expectativa - pelo menos uma vez ao ano, um jaraguaense esteve na Scar". Participação da comunidade "Nesses 60 anos e especificamente nos últimos 13, depois da inauguração do Centro Cultural, a população tem prestigiado muito todos os evento. No início, todos falavam que era algo para a elite. Hoje você não observa nenhum sinal de "ser da elite", todas as pessoas são recebidas igualmente, indiferente da escala social." Sustentabilidade como foco "Elegemos três prioridades para nortear os princípios da Scar: a sustentabilidade cultural, econômica e de meio ambiente. A primeira está sendo atingida por todo o trabalho de formação de difusão cultural que fizemos. Recebemos na Scar um evento por dia e isso contribui para essa formação e fomento. Temos mil alunos, sendo que 500 são bolsistas, nove núcleos produzindo diferentes vertentes culturais. Acho que chegamos no auge e isso me preocupa porque não podemos esmorecer. Nosso público está ficando cada vez mais exigente e espera mais de nós. Na área de sustentabilidade cultural estamos bem estruturados. Na financeira, estamos equilibrados  financeiramente. Sobrevivemos de rendimento de locação e estamos com as contas equilibradas. Nossa renda é basicamente de locação dos espaços, alguma renda da escola e dos parceiros comerciais, são 14 empresas que divulgam seus nomes antes dos espetáculos, e os 50 sócios contribuintes. Toda essa junção nós da sustentabilidade e o fato de termos nossa gestão enxuta também contribui para otimização dos recursos.  Hoje podemos dizer que a Scar tem um custo operacional de, em média, R$ 80 mil mensais. A terceira, e que estamos completando agora, é a sustentabilidade do meio ambiente. Nós temos os quatro princípios da utilização de água e energia elétrica:  água do Samae para consumo humano com nove filtros, dois poços artesianos e o sistema de captação de água de chuva. Com isso, temos uma cisterna de 20 mil litros e outro reservatório de 50 mil litros. Só pagamos a taxa do Samae e o resto é auto sustentável. No dia 8 de junho, inauguraremos o sistema fotovoltaico que custou 900 mil reais patrocinado por uma empresa e cinco pessoas físicas que doaram R$ 150 mil cada uma. Esse sistema gerará 75 % da energia consumida, prevemos que a energia que pagamos em média R$ 15 mil caia pra R$ 3 a 4 mil reais. Com esse sistema de geração de energia própria e os três tipos de água, nos tornamos um prédio auto sustentável" Valor economizado destinado para a manutenção "É importante lembrar que o Centro Cultural é um prédio de 10 mil metros quadrados que requer manutenção permanente. Por isso, ele tem 13 anos e cara de novo. O valor economizado com a energia solar vai para um fundo de reaparelhamento, onde depositamos todo recurso que entra e não gastamos no dia a dia. O valor fica aplicado nesse fundo para quando precisarmos, tenhamos recursos necessários. Essa parte econômica nos dá uma tranquilidade para mantermos o prédio em condições ideais de uso." Futuro "Estou bastante ansioso para ver a movimentação do novo governo e a como isso afetará a Lei Rouanet. Se as empresas que tributam pelo lucro real, que somam apenas 5 %,  poderão continuar incentivando projetos da área cultural. Se elas não puderem destinar parte do imposto para a área da cultura, certamente ficaremos prejudicados na área da formação. É um misto de ansiedade para ver a poeira baixar e como ficarão as novas normas da Lei Rouanet e temeroso para que não mexam na regra atual e assim conseguiremos manter a formação e difusão cultural que fazemos. Através disso mantemos as bolsas, grupo de dança e até temporada de apresentações da nossa orquestra. Para este ano o aporte está garantido, nossa expectativa é para 2017. Eu torço para que não mexam nisso." Crise afeta a área cultural?        "Felizmente não afetou. Não temos tido baixa de espectadores e espetáculos em 2015 e muito menos m 2016,  interpreto isso como antídoto contra a crise. As pessoas fogem das informações ruins que circulam pela nossa mídia para assistirem a um espetáculo. Elas entram na Scar e saem de modo diferente, com um sorriso, uma lembrança, reencontram um amigo e saem daqui felizes. Aqui é uma casa de transformação  e por isso admiro que cada segmento tem sua representação aqui. Talvez a cultura, desde que seja desempenhada com responsabilidade, não seja afetada ainda. Pode até ser se não tiver esses incentivos fiscais para incentivar projetos, mas até então não foi afetada" Vitalidade "A Scar é uma senhora de 60 anos com ideias inovadoras e ousadas. Então, o desafio permanente é não parar no espaço e no tempo e atualizar sempre.  Um exemplo é a intervenção com grafite. Acredito que 98% da população tenha aprovado o que fizemos e isso é uma inspiração do que fazem nos países mais evoluídos. Em cima desse sucesso, ofertaremos no segundo semestre o curso de grafite na Scar, provavelmente com um dos artistas que fizeram a intervenção externa como professor.  O objetivo desse curso é estimular nossos artistas para que eles façam intervenções pela cidade. Juntar  os esforços para colorir a cidade e isso pode vir a ser uma atração turística da nossa cidade." Valor dos ingressos "Ninguém ou dificilmente alguém vem elogiar quando se oferta algo de graça. Cerca de 40 % dos espetáculos que recebemos são de graça ou por um valor simbólico, mas isso ninguém diz nada. As pessoas não tem habito de assistir fora de Jaraguá aos espetáculos. No eixo Rio de Janeiro, São Paulo ou Curitiba, certamente o custo é o dobro e ainda tem o valor de estacionamento. Aqui o estacionamento é de graça e certamente o valor da entrada é menor. Quem estipula o preço não é a Scar, mas sim o artista e seus produtores culturais.  A Scar cobra deste grupo a taxa pela ocupação do teatro e oferece toda a infraestrutura, venda de ingressos, apoio logístico e a nossa mídia (redes sociais e afins). Nós oferecemos isso tudo no  pacote. A Scar não tem interferência na questão dos ingressos." Festival de Formas Animadas "Lamentei no ano passado, mas terei a coragem cancelar novamente se o governo do Estado não efetuar o repasse do recurso. Nós já mandamos o projeto programado para outubro deste ano, já transferimos por causa da morosidade na liberação dos recursos. O ideal seria fazermos em maio ou junho mas passamos pra junho por causa do dia das crianças e para dar tempo ao Governo para liberar o recurso. Pedimos algo em torno de R$ 200mil. Se ele nos repassar isso, o festival será feito, caso contrário será cancelado sem dúvida. É o único recurso que o governo do Estado destina para Scar fora o valor do Femusc, então dependemos desse valor para realização do Festival de Formas Animadas que vinha sendo realizado há 14 anos seguidos e ano passado deixou de ser feito por falta de recurso. A Scar não vai tirar esse dinheiro do bolso, não há nenhum ganho financeiros somente o cultural. Acho que pela qualidade do projeto, ele tem que ser contemplado com essa verba estadual. É um festival planejado antecipadamente e necessita de um tempo, não pode ter o recurso liberado 14 dias antes. Se não sair 60 dias antes a garantia do recurso, não terá festival." Diversidade cultural "A diversificação dos eventos é um dos grandes sucessos da Scar. Aqui nós recebemos com o mesmo nível as mais diversas atrações. Nós temos que respeitar o gosto cultural das pessoas e por isso essa oferta de distintas áreas"