Por Heloísa Jahn
Se você fechar os olhos e colocar a imaginação para funcionar, embalada pelas histórias e atmosfera do local, surgem à mente crianças correndo pela casa e até mesmo um pai em tom bravo, chamando a atenção dos pequenos. Para os visitantes da Casa Eurides Silveira, este é um exercício de criatividade, mas para quem passou boa parte da vida dentro da construção centenária não é.
Ao entrar na casa construída pelo bisavó, a aposentada Eliane Silveira revive os momentos ao lado dos pais, Eurides e Hilda Silveira, e dos três irmãos, Volnei, Valmir e Neide. Dos dias de chuva em que as crianças brincavam no sótão e quebravam inúmeras janelas, às histórias de que o imóvel servia de espaço para realização de missas e até para secar folhas de tabaco. Tudo é lembrado com emoção pela jaraguaense, que compartilha as memórias com quem chegar.
Edificada em 1917 pelo imigrante italiano Luiz Bagattoli na localidade de Ribeirão Grande do Norte, a casa – tombada pelo patrimônio histórico e hoje utilizada como local de lazer – abriga a quarta geração da família. Primeiramente foi comprada por Sebastião Murara e Irene Bagattoli, filha do construtor, até que, anos mais tarde, Eurides Silveira, casado com Hilda Murara Silveira, adquiriu o terreno. Hoje, o imóvel é mantido com zelo pelos filhos do casal, que viveu no local até seus últimos dias de vida.
Eliane lembra o amor dos pais pelo imóvel e um dos principais desejos: que os filhos mantivessem a estrutura original e não se desfizessem dela. E assim os herdeiros fazem. A casa passa pela terceira etapa de restauração, todas com verba do Fundo Cultural, para preservar as características originais. Assoalho de madeira, telhado, pinturas externas e internas com detalhes feitas a mão: tudo permanece conforme original. “Para nós, manter isso assim é um orgulho muito grande. Foi aqui que nascemos e vivemos e continua no mesmo estado, como era antigamente. É emocionante entrar aqui e reviver todos os momentos”, conta.
A casa hoje é utilizada como um local para as festas de família. Além disso, Eliane conta que muitas pessoas fazem sessões de fotos. Turistas que passam pela região aproveitam para visitar e turmas de escolas, que buscam conhecer sobre o desenvolvimento do município e tem como atração o bosque com mais de 300 espécies nativas plantadas por Eurides Silveira.
Além do imóvel, a família guarda um rico acervo de equipamentos antigos de agricultura e outros objetos que estão há gerações na família, como máquinas de costura, de escrever, ferro de passar roupas a carvão, móveis e até a bicicleta utilizada pela matriarca. “A nossa ideia é, assim que terminarmos o restauro, utilizar o espaço para um museu. Queremos restaurar as peças, catalogar e guardar naquele espaço para que mais pessoas possam conhecer os equipamentos”, projeta a aposentada.
Como em 2017 a edificação completa cem anos, a família Silveira planeja uma festa para comemorar no fim do ano. “Um momento especial para relembrar as histórias maravilhosas que todos temos para contar e dar boas risadas”, completa.
Símbolo da arquitetura teuto-brasileira
De acordo com o arquiteto responsável pela obra de restauro da Casa Eurides Silveira, Osnildo Bernardi, o imóvel tem valor por apresentar a arquitetura teuto-brasileira. “Ela mantém o partido construtivo de algumas casas de imigrantes, mais antigas da região de imigração. A varanda frente à fachada principal é posterior à construção do imóvel, mas trata-se igualmente de algo frequente em construções antigas, representando a proteção do acesso principal, que a construção ainda não apresentava”, diz.
Ele comenta que um dos destaques da composição é o esmero dos tijolos, arcos abatidos e parapeitos das aberturas, típicas da arquitetura teuto-brasileira e os ornamentos, desde a balaustrada, frisos e contornos dos arcos, até ornatos aplicados sobre o reboco, presentes na varanda na frente da casa.