Outubro Rosa: quando uma peruca lhe traz a força necessária para enfrentar e vencer o câncer

Por: Giulia Venutti

17/10/2019 - 10:10 - Atualizada em: 17/10/2019 - 13:54

Quando saímos de casa todos os dias, inúmeras pessoas desconhecidas cruzam o nosso caminho. Algumas demonstram estar felizes, outras tristes, algumas bravas, outras indiferentes, mas em meio a tantos sentimentos, há algo por trás disso tudo que ninguém sabe: histórias não contadas de superação.

Quem vê Josela Trainoti, de 45 anos, andando normalmente pelas ruas de Blumenau não faz ideia da força que ela carrega dentro de si. Em 23 de abril de 2017, ela passou por algo que nunca imaginou: seu marido, de 50 anos, deu entrada no hospital com pneumonia, mas acabou tendo problemas com infecção hospitalar e faleceu cinco dias depois.

Josela acompanhada de seus filhos l Foto Arquivo Pessoal

Naquela época de tristezas e incertezas, Josela já fazia acompanhamento com médicos por conta de um nódulo benigno que, segundo eles, não causava preocupação. Porém, em junho de 2018, aquele nódulo “inofensivo” veio a se tornar um câncer de mama.

“Sou cabeleireira e sempre fui uma pessoa vaidosa, daquelas que tinha um cabelão e amava cuidar dele. Minha maior dúvida era: será que ficarei careca? E foi em setembro, após dez dias da minha primeira quimioterapia vermelha, que ele começou a cair. Foi quando decidi fazer daquilo um momento bom, sem me deixar apavorar”, relembra.

No momento em que passavam a máquina em seu cabelo, Josela procurou se manter alegre, positiva e brincalhona com as pessoas que estavam ali presentes, mas só ela sabia que lá no fundo, sim, ver seus cabelos escorrendo pelo chão era algo que doía, e muito.

Foto Arquivo Pessoal

A partir daí, Josela começou a procurar perucas, contudo nunca imaginou que seria tão difícil e tão caro encontrar uma que pudesse trazer de volta a sensação de ter o cabelo que tanto amava.

“Quando alguém me contou sobre o trabalho da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenau, e que lá eles possuíam uma sala com várias perucas, lenços e turbantes, corri para lá. E foi no momento em que entrei na sala e vi todas aquelas opções, que meu coração se encheu novamente”, comenta.

Em meio a tantas opções, Josela conseguiu encontrar aquela que parecia ter sido feita sob medida para si. Não é à toa que foi apelidada por ela de “Josi”. Ao andar pelas ruas de seu bairro, muitos chegaram até mesmo a pensar que seu cabelo ainda estava ali e que não havia caído.

O que para alguns pode parecer algo tão comum e banal, para outros acordar, escovar o cabelo e fazer um penteado que mais agrada pode ter um significado de superação e orgulho, por características e marcas que são apenas suas.

“A Rede Feminina foi, é e sempre será a minha segunda casa. Foi ali que encontrei apoio, pessoas que passaram pela mesma coisa. Muitas chegam ali apavoradas, mas quando se deparam com aqueles anjos de rosa, a alegria retorna. Foi uma das melhores coisas que conheci na minha vida, serei eternamente grata”, desabafa Josela.

Josela com a peruca escolhida na Rede Feminina de Blumenau l Foto Arquivo Pessoal

Empatia é brotar em um peito que não é seu. É poder fazer pelo outro não aquilo que você gostaria que fizessem por você, mas aquilo que o próximo realmente precisa. É poder se sentar ao lado de uma mulher e entender a dor dela. E esse é o sentimento que corre todos os dias pelas veias das voluntárias da Rede Feminina de Blumenau. Uma instituição fundada para disseminar amor e alegria para a vida daquelas que realmente precisam!

Projeto de perucas da Rede Feminina

Ali, em meio a tantos anjos de rosa, existe esse projeto maravilhoso criado há 20 anos. Com inúmeras perucas feitas 100% com cabelo natural, e cuidadas por cabeleireiras profissionais voluntárias, qualquer mulher (seja ela frequentadora da Rede ou não) e que passou por qualquer tipo de câncer, pode voltar a se sentir ela mesma.

Foto Giulia Venutti/OCP News Vale

Basta chegar na recepção, informar que gostaria de conhecer o projeto e escolher uma peruca. Tudo funciona como um empréstimo, você escolhe, assina um termo e está livre para utilizá-la. No local, também há lenços e turbantes.

Ah, e se por acaso quiser trocar o item que levou, não tem problema. É só retornar e escolher outra opção! Afinal, lá o que mais importa é ver o sorriso no rosto de quem entra e de quem sai.

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