Não é de hoje que os casos de violência contra mulher, especialmente os de estupro, estão presentes. Há mais de 30 anos, a banda gaúcha Nenhum de Nós decidiu tocar neste tema tão polêmico para o ano de 1985, com a música Camila Camila. A letra é baseada em fatos reais e ganhou uma melodia triste como são os fatos que acontecem contra as mulheres no dia a dia. O estupro coletivo sofrido por uma menor no Rio de Janeiro na semana passada mostra que nada mudou e que a violência ainda ganhou ares de espetáculo com a divulgação nas redes sociais. Um fato que não contribui para queda nos índices deste tipo de crime é que as mulheres violentadas não costumam denunciar. A vice-presidente do Conselho Municipal dos Diretos da Mulher (Comdim) de Jaraguá do Sul, Josimeri de Sousa Coelho, de 38 anos, diz “o estupro é um crime hediondo e, como cristã, acho que se a lei do Brasil fosse cumprida, estaria de bom tamanho”. Em entrevista ao jornal O Correio do Povo, ela fala sobre o tema que é um tabu na sociedade brasileira, basta ver como muitas pessoas reagiram ao caso que ganhou repercussão internacional. Se, por um lado muita gente se solidarizou com a jovem, por outro, não faltou quem utilizasse o estilo de vida dela como uma espécie de licença para brutalidade. Qual é o trabalho do Comdim? O trabalho do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher é discutir as pautas que as mulheres nos trazem, propondo melhorias para os casos. Há quem considere alguns fatores determinantes para o abuso sexual como a roupa, o comportamento da mulher e a companhia com quem anda. Isso justifica o assédio? Pelo menos na minha gestão – assumiu o cargo de vice-presidente há duas semanas – isso não chegou a ser discutido. A moda nos diz que roupa passa uma mensagem, mas eu penso que nenhuma roupa é convite para isso. Absolutamente, a roupa não dá permissão para nada. O que precisa mudar na educação das crianças e jovens para evitar casos como o da menor que foi estuprada no Rio de Janeiro? As crianças devem ser conscientizadas sobre o caso. A família deve incentivar o respeito, especialmente no caso dos meninos para com as meninas. Na minha época de escola, tínhamos uma disciplina chamada Preparação Para o Mercado de Trabalho (PPT), onde em ciências, estudávamos sobre o corpo humano e, em língua portuguesa, produzíamos uma redação sobre os efeitos fisiológicos de uma agressão ao corpo. Falando de ensino médio, o tema poderia ser abordado na disciplina de sociologia. Os meninos devem aprender a respeitar as meninas ainda na infância. Por que o número de denúncias ainda é baixo? As mulheres violentadas sentem vergonha de denunciar e, às vezes, elas sentem culpa pelo que aconteceu. A sociedade deve entender que não é culpa da vítima e deve-se ter empatia nesses casos, não julgamentos que invertem os fatos, a vítima passa a ser a vilã. Isso não pode acontecer. Como vê o combate à cultura do estupro em ambientes masculinos e competitivos, onde ter o máximo de parceiras é visto como vitorioso? Abominável. Estou aprendendo a ser feminista. Mas, infelizmente, esta é a cultura daqui – falando no Brasil de modo geral. Estamos em busca de igualdade de gênero, então, se um pode ficar com todo mundo, o outro gênero também pode, não é? Alguns namoros começam saudáveis e depois evoluem para um namoro doentio. Quais os sinais desse tipo de relação e como evitar? As mulheres devem dar um basta nisso ao primeiro sinal de agressão (seja verbal, física ou psicológica). Quando não existe mais respeito, é melhor as pessoas ficaram separadas e, além disso, deve-se entender que o ‘não’ quer dizer não, o ‘sim’ quer dizer sim e o ‘talvez’ é um vou pensar. Quando o estupro acontece dentro de casa, como reagir? As crianças costumam dar indícios de que foram molestadas. Os principais sinais são afastamento tanto do agressor quanto da família, a criança fica mais quieta. O estupro é um crime hediondo e, como cristã, acho que se a lei do Brasil fosse cumprida, estaria de bom tamanho. Quem convive com a criança, dentro ou fora de casa, deve observar e denunciar.

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