Os desafios do mercado de voos em Jaraguá do Sul

Por: OCP News Jaraguá do Sul

29/05/2016 - 04:05

Quando viu pela primeira vez uma asa-delta rodando pelos céus de Jaraguá do Sul, o empresário Ary Carlos Pradi não imaginava que um dia se tornaria referência na produção de equipamentos para voo livre no Brasil. Unindo paixão e inovação, Pradi fundou a Sol Paragliders e conquistou os céus mundo afora – além de deter 50% do mercado brasileiro, a empresa se tornou uma das líderes mundiais do setor e exporta para 72 países uma produção 100% jaraguaense.

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Gestor de uma equipe de 120 funcionários, Pradi nunca perdeu o desejo de alçar voos mais altos e fez da Sol Paragliders a empresa com maior mix de produtos para voo livre do mundo. Por lá, são produzidos cerca de 150 parapentes por mês, cada um com 1200 partes diferentes, além de para-quedas, acessórios e roupas tecnológicas.
Em entrevista exclusiva para o jornal OCP, o empresário fala sobre os desafios de se destacar em um mercado globalizado.

Quando foi o seu primeiro contato com o voo livre?

Em 1979, quando foram instaladas as antenas no Morro da Boa Vista, um alemão chamado Carl G. Höschele chegou à cidade e começou a voar de asa-delta. Meu pai começou então a se entusiasmar com o esporte, mas eu, um guri de 13 anos, não me encantei muito. Foi só em 1982, por incentivo de um amigo, que comecei a voar de asa-delta, um ensinava o outro e assim o esporte começou a crescer.

E como surgiu a ideia de transformar o hobby em negócio?

Alguns anos depois fui morar na Alemanha para fazer um ano da faculdade de administração. Nesta época, havia um “boom” de parapentes na Europa, o equipamento tinha sido inventado em 1986 e virou uma febre. Foi aí que me interessei. Visitei várias fábricas, fiz pequenos estágios, e quando voltei, passei a me dedicar integralmente a isso. A empresa começou em 1991, e em 1992 firmamos uma importante parceria com uma empresa austríaca. Nos anos 2000, após nos desligarmos das parcerias européias, começamos um projeto de desenvolvimento de produtos para venda global com o apoio de um projetista suíço, o André, que está com a gente até hoje.

Qual é a maior desafio de trabalhar com o esporte no Brasil?

Nosso país sempre parece carecer da participação do estado na promoção do voo livre. Por isso, não podemos simplesmente nos preocupar com o nosso produto, temos que cuidar do nosso mercado. A atividade do voo livre não é algo extremamente regrado, não é como o trânsito, por exemplo, que se você dirigir sem carteira é penalizado. Então temos que garantir que os praticantes saibam o que estão fazendo e tenham uma assistência especializada.

Daí a importância de apoiar ativamente o esporte?

Exatamente, temos que nos preocupar com a cadeia completa, fechar as arestas, participar ativamente em todo o contexto. Afinal, o nosso negócio é voar, é estimular as pessoas a sentirem esta emoção, não podemos ser só fabricantes, temos que ser uma marca esportiva. Além disso, são os atletas que dizem se o seu produto é bom, eles que atestam a qualidade dos itens. Apoiando o esporte, já conquistamos campeonatos mundiais e registramos recordes. Isso dá credibilidade ao produto.

O que torna o parapente um esporte atrativo?

Primeiro, que voar sempre foi um grande sonho do homem deste os tempos antigos. Mover-se pelos céus sempre pareceu algo muito desafiador. E, neste aspecto, é um esporte que estimula um ímpeto individual de vencer algumas barreiras naturais. Esse desafio é um motivador muito grande. E o parapente é uma forma muito econômica de voar, já que a hora voo custa em torno de R$ 30 reais.

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Como Jaraguá do Sul está posicionada no cenário do voo livre brasileiro?

Temos muitos lugares por todo o Estado para praticar voo livre, mas a nossa cidade em especial se destaca por possui um morro muito alto, em nível nacional. Além disso, nosso principal local, que é o morro das antenas [no Morro Boa Vista], é dentro da cidade e possui uma infraestrutura diferenciada, com rampa, pista de pouso, câmera ao vivo para acompanhar a velocidade do vento, o clube de voo, entre outros aspectos.

Quais são as dificuldades de uma empresa brasileira no mercado externo?

A maior dificuldade é dar visibilidade à sua marca em um mercado desconfiado e que não sabe quem você é. No início dos anos 1990, o Brasil exportava muitas malhas, chegou a dominar alguns mercados, mas a comercialização dos produtos era com a marca do comprador, e não do fornecedor. É uma realidade diferente. Quando você surge com a sua marca, é muito mais difícil conquistar o consumidor, mas você também consegue uma vantagem no preço. Para isso, é preciso investir em muitas frentes, começando por uma corrente de assistência técnica forte, publicidade, presença de mercado, até atingir um nível de credibilidade do produto. Tivemos muitas épocas em que exportar dava prejuízo, mas o mercado gira muito e é essencial saber se adequar, tanto em relação ao produto quanto em relação ao mercado.

Qual é o papel da inovação no sucesso do negócio?

Quando você transfere tecnologia, aquele produto é algo que já existe no mercado, ou seja, não é uma novidade. Desta forma, você consegue trabalhar a questão do preço, mas não oferece algo diferenciado. Desde o começo de uma empresa, a inovação se mostra essencial para sobrevivência do negócio, especialmente em momentos de crise. É preciso ter presença e saber se reinventar constantemente. No mercado atual, quem não está competitivo, está fadado a ficar de fora. E quando a empresa se torna competitiva, ela precisa estar preparada para então concorrer com inúmeras outras empresas no mesmo patamar. Não se pode achar que é só chegar naquele ponto e está garantido, tem que evoluir sempre.

Quando você começou a empreender, imaginava que chegaria tão longe?

Posso dizer que nosso plano de negócios era executar a empresa, então não imaginávamos chegar tão longe. Mas tenho a convicção de que precisamos manter a cabeça aberta e saber que, na realidade, nunca chegamos “lá”. Empreender é um processo de vida, é um processo de aprendizado constante e é preciso ter esta visão. Todos os dias aprendemos um pouco mais, e não importa quais sejam as nossas limitações, temos capacidade de aprender e evoluir a partir delas. Como empresa também temos que ser assim. É claro que haverá altos e baixos, nós erramos pelo caminho, mas o foco tem que ser desenvolver um produto sempre melhor e pronto para o mercado.

Como vê a evolução de Jaraguá do Sul durante estes 20 anos?

Quando penso na cidade há vinte anos, não tínhamos quase nada da realidade de hoje. Nossa indústria já era forte, mas menor, e os serviços de hotelaria, gastronomia, turismo eram extremamente fracos. Durante estes anos, a cidade acompanhou suas empresas e se desenvolveu para todos os lados, deu um verdadeiro salto para o futuro.

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Pradi explica que cada parapente leva de 40 a 80 horas para ser
produzido e boa parte do processo é artesanal