Uma mistura de cenários e clima. Assim é o bairro João Pessoa. Cortado por sua rua principal, a Manoel Francisco da Costa, o jaraguaense João Pessoa é uma mistura entre o urbano e o rural, entre o moderno e o bucólico.
Ao mesmo tempo em que ostenta um grande movimento devido ao vasto comércio quase que unido à escola e unidade de saúde, o bairro também tem sua área mais rural, com grandes propriedades que alteram o cenário diante dos olhos mais atentos que se dirigem em direção ao limite com Schroeder e Joinville.
Quer receber as reportagens do OCP Online no WhatsApp? Basta clicar aqui
Em franco desenvolvimento comercial e com uma explosão populacional, o bairro divide a opinião dos moradores que, embora não façam qualquer menção em trocá-lo por outro, admitem que alguns pontos necessitam de melhoria e atenção, especialmente do poder público.
A construção de grandes prédios e conjuntos habitacionais na região fez com que a comunidade tivesse um incremento nos últimos tempos. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010 o João Pessoa tinha 4.534 habitantes.
Já seria um número expressivo, mas nestes últimos sete anos o sentimento de quem cresceu ou vive há muito tempo no bairro é de que esse total é bastante superior atualmente, muito pela presença maciça de grandes investimentos imobiliários.

Em 2010 o João Pessoa tinha 4.534 habitantes | Foto Ilustração
Crescimento gera expectativa
E justamente esse crescimento populacional causa uma mistura de sentimentos nos moradores do bairro, que avaliam como positiva essa presença, mas lembram que a quantidade expressiva de pessoas também acarreta alguns problemas relacionados à infraestrutura.
Para o professor Paulo César Peters, 32 anos, que coordena o projeto da escolinha de futebol Bom de Bola, o bairro tem crescido tanto em relação ao número de habitantes quanto em relação a investimentos comerciais e imobiliários, mas a estrutura de serviços básicos e públicos não tem acompanhado o mesmo ritmo.
Entre as principais estruturas e serviços que, para ele, são deficitárias hoje, estão às unidades escolares e de locais destinados ao lazer. “Hoje, pela quantidade de população, a estrutura é deficiente. Pelo crescimento que o bairro registrou nos últimos cinco anos, nós percebemos que a estrutura estagnou”, avalia.
Escolas não comportam número de alunos
O crescimento populacional acarreta o aumento na demanda de serviços básicos como educação e saúde. Segundo alguns moradores do bairro João Pessoa, a conta não está fechando e as escolas do bairro não estão conseguindo suprir o aumento da demanda. Os resultados possíveis são dois: superlotação ou inexistência de vagas.
Professor e coordenador de projeto esportivo no bairro, Paulo César Peters observa que os serviços prestados não estão suportando o aumento populacional. “A estrutura da escola está pequena para o bairro”, analisa.

Qualidade de ensino da Escola Machado de Assis é elogiada. Unidade deve passar por ampliação | Foto Eduardo Montecino/OCP
A análise dele é compartilhada pelo comerciante Maicon Ricardo Prust, 28. Com um comércio praticamente dividindo muro com a EMEB Machado de Assis, a percepção dele é favorecida pelo acompanhamento de entrada e saída de alunos diariamente.
Além disso, a conversa com os clientes também dá um panorama do cenário escolar do bairro. “A escola é muito boa. Só ouço elogios quando o assunto é qualidade de ensino, mas a estrutura deixa a desejar.
Ela não tem mais capacidade para atender o número de alunos. Está lotada. Além disso, tem a creche. Nós temos aqui no bairro, mas não supre a necessidade”, afirma.

Maicon Ricardo Prust, comerciante | Foto Eduardo Montecino/OCP
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação afirmou ter conhecimento da situação do bairro e do aumento de demanda na escola e na creche municipal. Ainda de acordo com a pasta, o secretário Rogério Jung esteve nesta semana na Escola Machado de Assis com o objetivo de avaliar a possibilidade de ampliação da unidade.
“De acordo com ele, a intenção é construir mais seis salas de aula no terreno da escola, preparando o prédio para fazer mais um piso futuramente, conforme a necessidade. Agora, os técnicos farão o estudo de viabilidade para que a obra possa ser feita no ano que vem.
Com a ampliação da Machado de Assis, as turmas de pré que funcionam atualmente no CMEI Cecília Karsten podem ser deslocadas para a EMEB, abrindo mais vagas para crianças no maternal e berçário. A EMEB Machado de Assis atende atualmente 916 estudantes”, afirma a nota
População pede mais áreas de lazer
O projeto do qual Paulo César Peters é coordenador atende em média cem garotos e, para ele, que é professor, a educação e a recreação precisam andar lado a lado para que o desenvolvimento da criança seja total.
E é neste ponto que Paulo vê o bairro deixar a desejar. Para ele, não existem opções de lazer e entretenimento suficientes para atender especialmente crianças e adolescentes que moram no João Pessoa.

Na tradicional Sociedade João Pessoa, uma centena de meninos aprendem futebol | Foto Eduardo Montecino/OCP
O projeto, que funciona há dois anos no bairro, disponibiliza horários durante a manhã e a tarde para a prática do futebol, mas o professor defende que o poder público disponibilize áreas de lazer, como praças e quadras de esporte.
Além disso, chama a atenção para a falta de atividades desenvolvidas pelo município no que diz respeito à prática esportiva – o projeto no qual atua é particular e em parceria com a comunidade.
Segundo a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Jaraguá do Sul, o bairro possui cinco áreas de lazer e a intenção é criar novos espaços que possam concentrar parques com quadras de esportes, academia de ginástica ao ar livre e equipamentos de recreação infantil.
“A dificuldade, no momento, é encontrar terrenos adequados para este fim”, afirma a pasta. Além disso, a secretaria ressalta que, assim como em outros bairros, atos de vandalismo, furto e depredação estão ocorrendo com frequência nestas áreas já existentes para o lazer, o que “encarece o custo de manutenção das mesmas”.
Segundo a secretaria, atualmente existem 53 playgrounds, 38 quadras de futebol de areia e 28 academias ao ar livre na cidade.
Nova unidade de saúde amplia atendimento

Unidade de saúde do bairro João Pessoa, que em breve ganhará nova sede | Foto Eduardo Montecino/OCP
Outra notícia boa para o João Pessoa neste ano é a construção da nova estrutura da unidade de saúde do bairro. Segundo a administração municipal, a Saúde é prioridade e o esforço é constante para manter e assegurar os bons níveis de atendimento à população.
O atual posto é pequeno para a quantidade de pacientes que atende e não tem a quantidade de salas necessária para o atendimento da Estratégia Saúde da Família.
Por isso, uma nova estrutura está sendo construída, com 484 metros quadrados de área total, contemplando dois consultórios dentários, sala de dispensação de medicamentos, sala de vacina, banheiros para funcionários e pacientes, entre outras dependências.
Para a operadora de caixa Franciele Ferreira de Souza, 23 anos, e que mora há nove no bairro, o maior problema na saúde do João Pessoa está relacionado à equipe médica. “Não tem médico. Não adianta construir um posto novo se não aumentam o efetivo para o atendimento”, reclama ela.
Assim como Franciele, o comerciante Maicon Ricardo Prust também vê problemas relacionados ao atendimento e menos em relação à estrutura, embora reconheça que a capacidade da unidade já não comporta o número de pessoas que buscam atendimento.
“A estrutura é pequena sim, mas menor ainda é a equipe. Eu mesmo passei por situação de demora excessiva no atendimento. Precisei de uma simples vacina e esperei mais de 40 minutos. Só fui atendido porque reclamei. Disse que precisava trabalhar”, conta.
A Prefeitura salienta que a saúde é prioridade e que há um “esforço constante para manter e assegurar os bons níveis de atendimento à população”. De acordo com a administração municipal, em princípio a equipe que já trabalha na unidade atual será mantida. O investimento na estrutura é de R$ 910 mil.
O terreno onde será o novo posto de saúde fica na rua Iolanda Ruth Roweder Sacht (entrada pela rua da lanchonete Gargamel), a aproximadamente um quilômetro da atual unidade de saúde, que fica na rua Manoel Francisco da Costa.
Falta de limpeza preocupa moradores
A feira de adoção está marcada para o dia 10 de março, mas em agropecuárias do bairro João Pessoa é possível encontrar cães disponíveis para adoção o ano todo. Bom para quem procura por um companheiro de quatro patas. Péssimo para os cães. A feira de adoção do próximo dia 10 é resultado de uma prática comum no bairro: o abandono de animais.
Segundo o comerciante Maicon Ricardo Prust, que trabalha diretamente com animais em sua agropecuária, o abandono é um problema grave e corriqueiro no João Pessoa.
Ele é um dos responsáveis por promover a feira e também recebe animais diariamente para cuidado e exposição, buscando assim promover o encontro dos cães com seus futuros tutores.
“Tem muito abandono. Graças a Deus a gente consegue organizar essas feiras em parceria com a comunidade e com alguns fornecedores e o pessoal realmente adota. O problema é que muitas pessoas tem o animalzinho e não vacinam, não castram e acabam abandonando eles e os filhotes”, diz.
Além dos animais abandonados, outro problema visível é a falta de limpeza, especialmente em ruas secundárias do bairro. Os terrenos com vegetação alta e acúmulo de lixo destoam em um ambiente de expansão imobiliária. O problema é agravado também pelo óbvio descaso dos moradores que descartam irregularmente seu lixo.
A operadora de caixa Franciele Ferreira de Souza defende que é necessário que o poder público olhe para o bairro não apenas como um local de expansão e como uma possibilidade para aumento populacional, mas que enxergue que as mudanças precisam acompanhar este crescimento. “As coisas andam muito devagar. O bairro está crescendo mas as coisas continuam iguais”, finaliza.

Franciele de Souza pede atenção do poder público para aumento populacional | Foto Eduardo Montecino/OCP
Prefeitura afirma que intensificou ações de limpeza
Em relação à limpeza, a Prefeitura de Jaraguá do Sul informa que intensificou as ações do Programa Cidade Limpa, criado nesta gestão, para promover a limpeza das ruas, canteiros, jardins e praças públicas. Também tem o objetivo de incentivar a população a fazer a limpeza das suas calçadas e terrenos baldios.
A Secretaria de Obras e Serviços Públicos conta com equipe atuando em vários pontos da cidade. Uma empresa especializada em limpeza urbana foi contratada e está com 30 pessoas e equipamentos, como a capinadeira hidráulica, atuando em todas as regiões e, nos próximos dias estará naquela região.
Em 2017, várias ruas sem pavimento no bairro João Pessoa foram patroladas. Assim como foi feita operação tapa-buracos nas principais ruas.
Já a Secretaria de Planejamento e Urbanismo, por meio da Fiscalização de Postura, vem notificando proprietários de imóveis sem edificações quanto à necessidade de manter a limpeza dos mesmos.
LEIA TAMBÉM:
– Vila Baependi: rodoviária e clube marcam um dos mais tradicionais bairros da cidade
– Marcado por tragédia em enchente, população aponta as prioridades para o Tifa Martins
– Série de reportagens mostra as principais carências dos bairros de Jaraguá do Sul