Nelson Pereira: Brasil, uma invenção inacabada

Geral
sábado, 12:00 - 22/04/2017

O Brasil, como qualquer nação do mundo é, naturalmente, uma invenção inacabada. Que bom que seja assim, pois, qualquer sistema, enquanto vivo, nunca será acabado. Pelo menos nessa premissa, nos igualamos com qualquer país do mundo. Ocorre que o projeto Brasil, inventado, interpretado e revelado por alguns pensadores notáveis como Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Manoel Bomfim, Paulo Prado, Fernando de Azevedo, Alcântara Machado, Oliveira Viana, Antônio Candido, e outros mais recentes como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Darcy Ribeiro, já completou cinco séculos de incubação.
Nesse quesito nos diferenciamos de todos os outros países do mundo. Aqui, ironicamente, continuamos nascendo incubados e morrendo chocos. Confinados historicamente em nossa incubadora interclassista, o máximo que nos locomovemos até o momento, foi do protótipo patriarcal da casa grande e senzala, transitando pelo modelo rural, chegando ao arquétipo industrial e, quem sabe, expiando o pós-industrial.
Então, embora Montesquieu sustente que “todo sistema social é fruto de forças diversas como o clima, a religião, as leis, as máximas do governo, os usos e os costumes”, proponho condensar essas forças diversas em duas grandes forças antagônicas como forma de justificar nosso reinante estado de incubação. Determinaremos assim, que há uma força intra-incubadora de natureza socioeconômica, pressionando nossa emancipação para uma sociedade do conhecimento, e há igualmente uma força extra incubadora, de natureza sociopolítica, fazendo pressão contraria. Denotaremos que, só por conta da tensão gerada entre essas duas forças, já tendemos a dobrar nosso estágio de incubação. Portanto, mesmo que sejamos otimistas, não poderíamos vislumbrar uma possível reinvenção do Brasil sem que neutralizemos ou minimizemos esse hiato.
Entendamos a dimensão desse hiato: Se considerarmos que, na visão de Sérgio Buarque, “o brasileiro é eclético, impreciso, não tem vocação especialista, tende a confundir o trabalho com o ócio: está demasiado distante da ética protestante e do espírito weberiano do capitalismo. Que sua predileção pelo posto fixo, possivelmente público, denota um apego quase exclusivo aos valores da personalidade, em contraste com o empreendedorismo, a incerteza, o risco e os valores impessoais. E que não ambicionamos o prestígio de país conquistador detestando notoriamente as soluções violentas”, teremos aí uma ideia do grau de potência dessa força socioeconômica.
Por outro lado, se reputarmos o princípio de Montesquieu em que “o poder absoluto corrompe absolutamente, ou seja, que é necessário manter claramente separados o poder legislativo, que faz as leis, o executivo, que as põe em prática, e o judiciário, que pune os transgressores, visto que uma soberania indivisível e ilimitada é sempre tirânica”, e refletirmos sobre a realidade posta, teremos uma ideia do grau de potência da força sociopolítica. Por dedução, permaneceremos incubados.
×