Não consigo voltar pra casa, diz marido da PM assassinada

Por: Windson Prado

09/04/2018 - 22:04 - Atualizada em: 10/04/2018 - 18:28

Nesta segunda-feira (9), completam-se 15 dias desde que o sargento PM Marcos Paulo da Cruz foi alvejado por três disparos e viu sua mulher, soldado Caroline Pletsch, ser assassinada bem na sua frente, durante as férias, em Natal, Rio Grande do Norte.

Não bastasse a tragédia pessoal, o policial militar trava agora uma nova batalha. Silenciosa e longe da comoção que o caso provocou nas redes sociais. O sargento luta contra a burocracia. Ele quer voltar pra casa, pra Chapecó. Sonha em despedir-se da mulher, ver o filho, receber o carinho de amigos e familiares. Mas não consegue.

Segundo ele, uma norma da Anac impede que as companhias aéreas transportem passageiros feridos e em recuperação de cirurgias. O plano de utilizar uma aeronave do governo do Estado também foi descartado pelo mesmo motivo.

Sem familiares e acompanhado apenas pelo diretor da Associação dos Praças (Aprasc) para região Oeste, Valtecir Tomé Behnem, o sargento lamenta não conseguir voltar para Chapecó e afirma que continua no hospital para a sua própria segurança.

Na semana passada ele reconheceu um dos envolvidos no assalto que terminou com a morte de sua esposa. O jovem foi baleado em ação do Bope, em Natal, e morreu no hospital.

Marcos Paulo da Cruz, de 43 anos, e a esposa, soldado Caroline Plescht, de 32 anos, passavam férias na cidade. Chegaram dia 24 de março e na noite de segunda-feira (26), foram vítimas em um assalto na pizzaria que estavam. O sargento levou três tiros e Caroline um, na região do abdômen.

Em entrevista ao OCP News Florianópolis, Marcos emocionou-se ao lembrar daquela noite daquela noite e fala das dificuldades para voltar pra casa. O sargento relatou sua indignação com as notícias publicadas e relembrou de fato o que aconteceu.

Neste domingo à tarde, dia 8, ele foi levado, pela equipe de médicos do Hospital da PM, para assistir uma missa, na mesma capela que se despediu de Caroline. O sargento também recebeu visitas do dono da pizzaria e da garçonete, que até chorou ao revê-lo.

Confira a entrevista:

OCP – Qual é a situação do senhor neste momento?

Marcos – Não tenho como voltar para Chapecó. Estou aqui no Hospital da Polícia Militar, em Natal, sem minha família. Todos me ligam e não consigo ir embora. Estou abalado emocionalmente. Minha saúde está boa. Só falta correr pelos corredores do hospital, mas as empresas aéreas não aceitam meu embarque.

OCP – E a aeronave que faria o deslocamento?

Marcos – Pelo que soube, a equipe médica considerou arriscado o procedimento, sem nem olhar os resultados dos meus exames ou verificar com os médicos daqui. A viagem seria muito longa e não autorizaram meu embarque. Eu estou bem. Mas preciso ver minha família, meu filho e minha mulher. Me despedir. Vi as notícias publicadas e não foi nada daquilo. “Eu nem queria comer na pizzaria. Iríamos só pegar e levar, mas acabamos ficando. Eu tinha acabado de comer e conversava com minha esposa. Os bandidos entraram na pizzaria, eu levantei a cabeça e um deles já estava do meu lado dizendo que eu era polícia e ia morrer. Eu tentei me defender e levei três tiros. Na briga, a arma caiu no chão. Minha esposa pegou uma cadeira e tentou acerta-los para me ajudar e foi nesse momento que o segundo assaltante conseguiu pegar a arma no chão e fez o disparo contra ela. Os dois saíram correndo, nem levaram nada, além da minha arma. Na hora, como minha esposa estava gravemente ferida, dei a chave do carro, alugado quando chegamos em Natal, e os rapazes da pizzaria a levaram ao Hospital Santa Catarina. Eu fui levado depois que a polícia chegou ao local do crime a este mesmo hospital. Só depois fui transferido pra cá e soube da morte de Caroline. Ao que me disseram, ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu”.

OCP – E como o senhor está se sentindo?

Marcos – Minha perda foi irreparável, mas não quero que vejam só o lado ruim. Há pessoas boas e ruins. Os médicos do hospital me tratam muito bem, autoridades me procuraram para dar apoio, o Valtecir (diretor da Aprasc) me acompanha aqui todos os dias. Estou melhor hoje do que ontem.

*Com informações de Carla Macedo da Rede OCP News