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Mulher ganha a vida como catadora de piolho

Foto: Marcelo Justo/UOL

Por: Isabelle Stringari Ribeiro

28/05/2021 - 13:05 - Atualizada em: 28/05/2021 - 13:07

Kelly Santana, de 46 anos, trabalha como catadora de piolhos profissional. Ao longo dos cincos anos trabalhando nessa área, Kelly revela que perdeu as contas de quantas crianças já atendeu. A reportagem é do portal UOL.

Por conta da pandemia do Covid-19, a clientela diminuiu, mas a profissional não se abalou e se mexeu para reverter essa situação. Ela conta que agora recebe mais de 50 chamadas por semana. O perfil dos clientes também mudou. Agora não são só crianças, adultos e adolescentes também passaram a procurar seus serviços.

Foto: Marcelo Justo/UOL

“Com todos os membros da família trancados em casa e a volta às aulas presenciais, as crianças, que são mais suscetíveis à infestação, acabam passando os piolhos para os familiares”, conta Kelly.

Ela conta que tem se surpreendido com a quantidade de idosos que a procuram.

“Geralmente são avós que cuidam das crianças para que a mãe possa sair para trabalhar. Avós são carinhosas, mais apegadas às crianças, às vezes, mais que a própria mãe. Então elas abraçam o tempo todo, colocam no colo. Daí acabam pegando os piolhos também”, conta a profissional.

Foto: Marcelo Justo/UOL

Dinheiro dos atendimentos mantém a família

Kelly mora com o marido, Jairson, que é torneiro mecânico e com os filhos Gabriel e Bianca, de 19 e 24 anos, respectivamente. Eles vivem em uma casa simples no bairro da Vila Sonia, em Praia Grande, litoral de São Paulo. Jairson está sem emprego fixo e ajuda na renda familiar fazendo “bicos” como gesseiro e pintor. Mas é com a catação de piolhos que a família vem conseguindo se manter.

“Com o dinheiro que eu ganho catando piolhos, conseguimos pagar o aluguel, que é de R$ 700 por mês, uma parte da conta de luz e ainda comprar comida. Meus filhos também ajudam como podem, mas é graças a essa profissão que escolhi seguir que estamos conseguindo sobreviver”.

Foto: Marcelo Justo/UOL

A profissional explica que o valor de cada atendimento varia. Ela calcula de acordo com a distância até a casa dos clientes. Em média, um atendimento com duração de três horas sai por volta de R$ 140.

Já atendi pessoas até em troca de alimentos. Uma vez, recebi quatro peixes para ajudar uma criança numa comunidade de pescadores. Eu tenho muito amor pelo que eu faço e jamais deixaria de ajudar alguém que precisa,” diz Kelly.

Infelizmente, segundo Kelly, ainda existe muita ignorância e preconceito por parte das pessoas em respeito das infestações por piolhos. Ela já atendeu casos de crianças com o couro cabeludo em carne viva por produtos aplicados pelos próprios pais, com vergonha de procurar atendimento ou ajuda.

Foto: Marcelo Justo/UOL

“As pessoas têm muita vergonha de dizer que elas ou seus filhos estão com piolhos. Tentam passar de tudo: inseticida, creolina, cândida. Uma vez peguei uma criança cheia de feridas na cabeça. A mãe tinha passado gasolina para se livrar da infestação. Numa outra situação, a criança estava muito machucada, tinha até sarna. Tive que chamar o Samu. A criança ficou internada por sete dias, à base de antibióticos,” conta a profissional.

Tratamento ensinado por anciã indígena

Antes da Kelly se mudar para Praia Grande, litoral de São Paulo, ela morou com o marido em Gurupi, no Tocantins e lá conheceu uma anciã de uma das etnias locais de aldeias indígenas, que ensinou para ela a receita que hoje em dia Kelly aplica em seus clientes. Segundo ela, eliminam 100% dos piolhos sem produtos químicos e sem sofrimento.

O tratamento inclui uma infusão de arruda com alecrim, que ela depois ensina aos clientes. Mas tem um ingrediente secreto, que ela não revela.

Foto: Marcelo Justo/UOL

“É um produto que todo mundo tem em casa. Eu passo nos cabelos da pessoa, depois cubro com plástico filme. Ele sufoca os piolhos adultos e também as lêndeas. Depois de um tempo agindo, eu passo o pente fino nos cabelos e os insetos vêm todos no pente, já mortos. Não sobra uma lêndea viva”, diz Kelly.

A profissional conta que antes de começar a trabalhar de fato como catadora de piolhos, foi babá e esteve várias vezes diante de crianças infestadas por piolhos. Ela, gentilmente acabava eliminando os bichos para a alegria dos pais.

Foto: Marcelo Justo/UOL

“Eu estudei muito para poder exercer essa profissão. Li livros e tratados, assisti a vídeos, consultei recomendações de especialistas. Tem gente que só usa a internet para se divertir. Eu uso para estudar e divulgar o meu trabalho. Hoje eu recebo pedidos do Brasil todo e até do exterior, mas é difícil de atender. A logística seria bem mais complicada”, afirma Kelly.

Piolhos não escolhem classe social

Cerca de 60% dos atendimentos que Kelly realiza são em bairros nobres das cidades do litoral paulista. Principalmente nas cidades de Santos e Guarujá.

“Uma vez me procurou um empresário muito conhecido e bem-sucedido de Guarujá. As filhas estavam com piolhos. Eu não o conhecia, mas, quando vi o carro, percebi que era alguém muito rico. Fomos a uma cobertura num prédio de luxo, com vista panorâmica de frente para a praia. Piolhos não escolhem classe social.” conta a profissional.

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Isabelle Stringari Ribeiro

Jornalista de entretenimento e cotidiano, formada pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).